quinta-feira, 29 de maio de 2008

quando se perde a vez e a voz perde-se muito mais.

mãos e pés e boca e olhos,
tudo em descompasso
(tudo) incomodando,
(eu) incomodado,
repetindo
e desisitindo.

não adianta o grito,
preso num lamento abafado.
nem o punho
fechado, contendo uma idéia.
eu te odiar
ou te querer bem...
é tudo branco
e frágil,
inexistente.

mas olha,
não vou te contar nada disso hoje.

hoje eu sou um filme antigo.

(canção) pra tua ausência

Vem
Com a roupa do corpo
Na febre das horas,
Esquece o discurso.

Vem
E trás minha cura
Na pele serena,
No passo mais curto

Depressa
Com essa demora
Que arrasta o dia
Pra boca da noite
E seja o tiro
Certeiro
À queima roupa

Vem
Que medo é bobagem,
É coisa tão pouca,
Esquece o pudor.

E seja
O cinza na alma ,
Vem louca de raiva,
De vontade de mim.



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(Vem
Com o corpo em chamas
Com a boca em chamas
Com saudades daqui)

quarta-feira, 28 de maio de 2008

No tempo em que as estradas eram poucas no sertão
Tangerinos e boiadas cruzavam a região
entre volante e cangaço
Quando a lei era do braço
do jagunço pau mandando do coronel invasor
Dava-se no interior esse caso inusitado
Quando Palmera das Antas pertencia ao capitão
Justino Bento da Cruz
Nunca faltou diversão
vaquejada, canturia, procissão e romaria, sexta-feira da Paixão
Na quinta-feira maior, Dona Maria das Dores no salão paroquial
Reunia os moradores, depois de uma pré-eleição ao lado do capitão
Escalava a seleção, de atrizes e atores
Todo ano era um Jesus, um Caífaz e um Pilatos
Só nao mudavam a cruz, o verdúguio e os mal-tratos
O Cristo daquele ano foi o Quincas Beija-Flor
Caífaz foi Cipriano
Pilatos foi Nicanor
Duas cordas paralelas, separava a multidão
Pra que pudessem entre elas, caminhar a procissão
Quincas conduzindo a cruz
Foi e num foi advertia, um cinturião pervesso, que com força lhe batia
Era pra bater maneiro, Bastião não entendia
Devido um grande pifão, que tomou naquele dia
do vinho que o capelão, guardava na sacristia
Cristo dizia: "ô rapaz, ve se bate devagar, já to todo encalombado assim não vou aguentar,tá com a gota pra doer, ou tu para de bater ou a gente vai brigar;
jogo já essa cruz fora, tô ficando aperriado, vou morrer antes da hora de ficar crucificado";
O pior é q o malvado, fingia que não ouvia
e além de bater com força, ainda se divertia
espiava pra jesus, fazia pouco e dizia:"que Cristo frouxo é você, que chora na procissão?
Jesus pelo que se sabe, num era mole assim não
eu tô batendo com pena, tu vai ver o que é bom
na subida da ladeira, da venda de Fenelon;
o couro vai ser dobrado!
até chegar no mercado, da cuíca muda o tom
Naquele momento ouviu-se, um grito na multidão
era Quincas que com raiva, sacudiu a cruz no chão
e partiu feito um maluco pra cima de Bastião
Se travaram num tabefe, pontapé e cabeçada
Madalena levou queda
Pilatos levou pancada
Deram um cacete em Caífaz, que até hoje não faz
nem sente gosto de nada
Dismancharam a procissão o cacete foi pesado
São Tomé levou um tranco que ficou desacordado
Acertaram um cocorote, na careca de Timotéo
que inté hoje é aluado
Inté mesmo São José, que não é de confusão
na ansia de defender, o seu filho de criação
aproveitou a garapa, pra dar um monte de tapa
na cara do bom ladrão
A briga só terminou, quando o doutor delegado
interviu e separou, cada santo pro seu lado
Desde que o mundo se fez
foi essa a primeira vez
que Jesus foi pro xadrez...
MAS NUM FOI CRUXIFICADO!!



(Cordel do Fogo Encantado)

terça-feira, 27 de maio de 2008

justificativas

carbono é pão
duro!
amanhecido
(da manhã do ontem de outro dia).

amoníaco é água
morna!
escorrida
na garganta sedenta por água fria.
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e a vida ainda é "septagonal"

o dia em que perdi a vez e a voz...

...e silenciei a fila enorme dos descontentes.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

"No século XX, em especial nas democracias fordistas do pós-guerra, as mulheres foram cada vez mais integradas no sistema de trabalho, ma o resultado disso foi apenas a consciência feminina esquizóide. Pois de um laod, o avanço das mulheres na esfera de trabalho não poderia trazer nenhuma libertação, mas apenas o mesmo ajuste ao deus-trabalho que traz entre o homens.(...) As mulheres foram submetidas, assim, à carga dupla e, ao mesmo tempo, expostas a imperativos sociais totalmente antagônicos. Dentro da esfera do trabalho elas ficaram até hoje, na sua grande maioria, em posições mal pagas e subalternas."

(Grupo Krisis, Manifesto Contra o Trabalho, pág. 43)

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No mínino ineficiente um movimento (o feminino) que pretende se inserir na adoração de um deus moribundo, como ideal de libertação. Talvez um bom exemplo de como o mundo do trabalho se cruza com a questão de gênero e com a vida privada no geral (nessa questão de como as relações são determinadas/ influenciadas pelo mundo do trabalho e pelo seu apartheid social).

domingo, 25 de maio de 2008


Sim, meu caro
O dia é Domingo
O êxtase é presente (de Deus).
Ainda comigo
Resquícios de ontem

Queimemos os móveis
E as roupas
Há tanto a se provar
E não há provas de que fomos nós

Sim, domingo,
Rezado em culto pagão.
E eu, que não estou nem lá, nem cá,
Faço o sinal da cruz com pouca convicção

Queimemos os corpos
E a coisa toda
Lancemos ao fogo
O que puder queimar
( Não há provas de que fomos nós)
Nós! Da juvenília efervescente
Exaltada!
Em polvorosa!
E pra fora o que não é nosso
O que não é vício...

É, hoje é domingo
Em linha reta,
Pesado,
Carregado nas costas.

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Tava aqui perdido. Hoje também é domingo e a vida (ainda) anda em círculos...
-"Teu cheiro impregnado nas minhas narinas".

Seria bom se fosse figura de linguagem. Se fosse invocação poética. Linguagem literária. Não! Realmente teu cheiro está aqui nas minhas narinas e por incrível que pareça eu não sei exatamente o que fazer.

-Me pintar de palhaço nem sempre é bom. Assim como também não quero estar sempre no centro do picadeiro (fazendo malabares pra você olhar pra mim).

reconsideração aflitiva

Hoje eu acordei com mais de mil braços.

Mas nenhum quis te abraçar.

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"Ela vem e me abraça e é aí que o mundo acaba" (Lestics)

Sobre um deus agonizante

"As gazetas econômicas não fazem mais nenhum segredo sobre como imaginam o futuro ideal do trabalho: crianas do Terceiro Mundo, que limpam pára-brisas dos automóveis no cruzamentos poluídos, são o modelo brilhante da 'iniciativa privada', que deveria servir de exemplo para os desempregados do deserto europeu da prestação de serviços."

(Grupo Krisis; Manifesto Contra o Trabalho; pág. 21)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

dias bons sãos os que duram mais que 24 horas... começam ontem e terminam amanhã. acho que o legal é essa dormência que dá na mente. e é difícil parar por um instante e pensar em coisa pouca que te faz (melhor).

sábado, 17 de maio de 2008

Perdi
A voz
A vez

Fui de novo pro final da fila
Virei a antítese, o segredo desvendado.
A piada mal contada
O filme sem final

Perdi
O lirismo incontrolável
O lamento incorrigível
O vigor incontestável
A pulsão indefinível

A voz e a vez!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

"Tudo o que dizemos possui um 'antes' e um 'depois' - uma 'margem' na qual outros podem escrever. O significado é inerentemente instável: ele busca um fechamento (identidade), mas é constantemente rompido (pela diferença). (...) Há sempre significados suplementares sobre os quais não temos qualquer controle, que surgirão e subverterão nossas tentativas de criar palavras fixas e estáveis."

(HALL, Stuart; A Questão da Identidade Cultural, pág. 31)
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Interessante essa noção de que o que dizemos, as palavras que usamos (e a forma como as usamos), possuem uma história distinta da nossa, que existiam antes de nós e ainda existirão depois (desconsiderando os neologismo, mas que mesmo assim nascem distante de quem as usa). A linguagem assim, tida como artefato e instituição social, que só possui sua significação no interior de uma série de relações, construídas no tempo e no espaço e que nos escapa constantemente. As palavras que sempre mudam de significado e dizem mais (ou menos) do que gostariamos que dissesse. Deixam margens, para que sejamos mal-interpretados ou reinterpretados.
[as palavras traem...]

domingo, 11 de maio de 2008

Pousa a mão na minha testa

Não te doas do meu silêncio:
Estou cansado de todas as palavras.
Não sabes que eu te amo?
Pousa a mão na minha testa:
Captarás numa palpitação inefável o sentido da única palavra essencial
- Amor

(Bandeira, Manuel)

Incrível como esse poema dialoga e complementa as idéias presentes em "O Seu Santo Nome". A mesma hesitação quanto ao uso das palavras para se definir algo que está (muito) além, no caso o amor. É meio contraditório que poetas deslegitimem (suas) palavras como instrumento para expressar sentimentos, mas é interessante a idéia que passam de "algo muito maior do que pode se expor por palavras". Esse sentimentalismo apaixonado e "delirante" que não cabe no papel.
Carlos Drummond de Andrade reprova o uso da palavra amor de forma banal, como facilitadora e que a faça perder sua essência (que para ele é o "exílio e perfeição na Terra") e o sentido que está por trás. Sugere então que não seja pronunciada tal palavra, que se respeite seu caráter quase sagrado. Bandeira também se mostra descrente (e cansado) ao uso da palavra, da mesma forma usada esvaziada de sentido. Para ele, o amor não está na palavra em si, mas deve ser buscado nas sensações/sentimentos que transparecem por seu corpo.


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Quem disse que eu não te amava?/ Amo-te mais que a verdade

(M.B.)

sábado, 10 de maio de 2008

que seja hoje o último dia.

que faça valer todo esse calor.

que deixe as marca no dia seguinte.

que você ligue e eu não esteje em casa.
"(...) uma coisa que sempre ficou girando pela minha cabeça sobre quantidade ou como sentir as coisas é que só de pensar sobre isso já estou deixando de fato de sentir, ah[!] sentir é sentir e ponto, sem ficar com questionamentos se é muito ou pouco, se é o bastante ouexagerado."


sentir é sentir e ponto

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O SEU SANTO NOME

Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda a razão (e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.

(Carlos Drummond de Andrade)
Vida é a morte disfarçada...