terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Ela procurava um príncipe
Ele procurava a próxima
Ele reparou nos óculos
Ela reparou nas vírgulas
Ele ofereceu-lhe um ácido
E ela achou aquilo o máximo

Os lábios se tocaram ásperos
Em beijos de tirar o fôlego
Tímidos, transaram trôpegos
E ávidos gozaram rápido

Ele procurava álibis
Ela flutuava lépida
Ele sucumbia ao pânico
E ela descansava lívida

(Formato Mínimo)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

tô cansado, outro dia eu volto...

"em silêncio, por favor"

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

sobre muros

eu sou muro.
nasci muro...

sem entender os mundos
(de cada lado das minhas faces)

cresci muro.
eu sou muro...

nascido na surdina
(sem alarde)

eu sou muro.
vivo muro...

desmoronado
(desfeito em partes).


[solilóquio camiphili]
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I. Não sei até que ponto é apropriação indébita, mas pensei muito nesse poema a partir de uma posição de mundo. O muro que não entende o que ocorre dos dois lados dele e portanto permanece na surdina, na sua condição de (estar em cima do) muro. Já me falaram que adoto tal posição frente a uma série de questões, discordo, acho simplificador e taxativo demais, mas no fim acho que é isso mesmo: o muro não entende os lados. Gosto da liberdade que uma visão ampla permite e penso que sem muro seria tudo uma coisa só. Então não o reifiquemos. Ele não esteve sempre lá. Nasceu na surdina, sem que percebemos e quanto mais pedras nas mãos maior é sua altura.

II. Porém, esse mesmo muro está desmoronado. E isso me deu uma idéia de como algo sólido e resistente (como um muro deveria ser), pode apresentar sinais de fraqueza e fragmentação. Ele não esteve sempre lá e pode ser que deixe de estar mais dia ou menos dia.

III. Um último pensamento que tal muro evoca é o de seu papel de separar o que antes era único. Colocado no meio, causa e consequência de diferenças que surgem de um lado e do outro. Cria diferenças e é criado por elas, possibilita a distinção entre o cá e o lá. E por ser muro impede que um enxergue o outro como um igual. São demonstração de força e coerção. São os muros dos presídios, dos manicômios, das escolas, das mansões, do apartheid e da xenofobia. Só não saberia dizer em qual dos dois lados estão os "livres" e os "cativos".

P.S. foi retirado daqui http://inversoscamifelling.blogspot.com/2009/07/blog-post_16.html#comments

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

- mas ele também é comunista, só que reformista.

- claro, assim como uma freira que faz boquete é uma freira reformista!


(ou algo assim, mas que valeu o ingresso)


[excerto da peça "Rock n' Roll" de Tom Stoppard]

terça-feira, 20 de outubro de 2009

"os idiotas", de lars von trier.
estranho como não sei direito o que pensar desse filme, como se não houvesse um "chão", uma "base" da qual partir um entendimento.
tudo é muito estranho e nem esse estranhamento eu consigo racionalizar direito.
trata-se de um grupo de pessoas que se reunem para fazer "idiotices" (bancarem os doentes mentais) entre si e em situações do dia-a-dia.
claro, isso gera muitas cenas engraçadas, mas é também algo meio angustiante.
percebe-se que aquilo ali não é comédia.
também discordo que seja "uma forma de protesto", como li alguém defender ou que tenha um significado qualquer (pelo menos que seja perceptível de pronto).
até para os próprios personagens, aquilo não tem um significado coerente.

seria algo meio niilista?
vejo a negação de muitas coisas, mas de uma maneira velada e esquizofrênica.
acho o foco (pelo menos consegui digerir melhor assim) seja realmente as sensações que geram aquelas situações despropositadas.
e se isso importar, achei o filme tenso e pertubador (por que exatamente, não sei).
o jeitão de documentário com o qual ele grava meio que enfatiza essa tensão e a agonia.

aliás estranho como os filmes desse diretor são sempre pertubadores.
sinto que os seres humanos são retratados sempre de maneira mais nua e crua (cruel?), principalmente sem o glamour do cinema.
seus personagens são deploráveis e se relacionam uns com os outros (e consigo mesmo) de maneira caótica.
mas também não sei exatamente o que pensar sobre isso...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

estão se esforçando para tornar o mundo num lugar politicamente correto.
temos que conformar nossa maneira de pensar e principalmente de se expressar de acordo com o que se considera moral e adequado.
as idéias têm de ser inofensivas, quase café-com-leite. têm que se adequar a cartilha.
cria-se uma patrulha que policia o que se diz, de forma que é melhor pensar duas vezes antes de que sua opinião seja conhecida por mais alguém além de você.
ou ainda, mesmo que não seja SUA opinião, trabalhar certas idéias ou citar determinados conceitos ou pontos de vista é alarmar determinados grupos preocupados em manter a higiene mental e os bons costumes da sociedade ou a imagem de certos grupos imaculada.
há uma série de palavras que se deve evitar, temas sobre os quais se deve silenciar, ou caso os aborde tenha cuidado sobre como falar:
use com frequência eufemismos, nunca se utilize de sarcasmo (se a patrulha não entender vai te massacrar), piadas de humor negro jamais e se for usar uma expressão um pouco mais "pesada" se justifique e peça desculpas por antecipação.
estamos o tempo todo pisando em ovos...

as idéias devem ser um tanto quanto perigosas, corrosivas.
para que novas surjam, devem confrontar algumas passadas, que causem polêmica e que gerem discussão.
querer que se silencie sobre deteminados assuntos (ou conformá-los em uma bolha nas quais perde-se em autonomia e espontaneidade) é tentar mantê-lo igual. ou mudar somente a casca fina sob a qual ele se apresenta.
nada disso é possível num espaço que se quer cada vez mais encolhido e restrito ao que se considera correto, bonitinho e sadio. respeito ao próximo não é isso.
o máximo que se consegue é, quando muito, padronizar as ações e esterelizar o debate, tornando tudo muito chato e repetitivo.

é mais do que óbvio que CONCORDO que algum limite tenha que ter.
não estou defendo que se deve dizer o que se queira de qualquer pessoa ou grupo de pessoas.
só que o limite tem que ser dado pelo bom senso e pela responsabilização de quem diz o quê.
não é por que um pouco de deboche e transgressão as boas maneiras seja interessante, que não se deva cobrar um pouco de bom senso e, principalmente (se o bom senso falhar) responsabilidade sobre o que se diz.
prezo pelo respeito e valorizo que determinadas pessoas lutem para conquistá-lo, porém, acho que ingenuamente se confunde esse respeito com o politicamanente correto, que é hipócrita e simplesmente coloca a sujeira embaixo do tapete.
"certo, não falaremos disso ou daquilo, mas isso não significa que mudamos a nossa maneira de pensar e muito menos de agir".

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

hoje eu (re)ouvi um cd antigo do belle & sebastian e isso fez o dia melhor.

"if there's one that i learn when i was still a child is to take a hiding"

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

comentários sobre o ser humano e a verdade

"(...) a verdade, tão logo anunciada, imediatamente se transforma numa opinião entre muitas outras(...)."

"A grandeza de Lessing não consiste meramente na percepção teórica de que não pode existir uma verdade única no mundo humano, mas sim na sua alegria de que realmente ela não exista e, portanto, enquanto os homens existirem, o discurso entre eles nunca cessará."

ARENDT, Hanna. Homens em Tempos Sombrios. Companhia das Letras, pág. 33)

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Ao fim do trecho que li do livro de Hanna Arendt, "Reflexões sobre Lessing", em Homens em Tempos Sombrios, me deparei com essa abordagem sobre a verdade (e sua relação com a humanidade) que eu achei profundamente instigante e inovadora. O ponto aqui é enfraquecê-la, reduzir o seu papel no mundo e até retirar seu status de desejável, em favor da multiplicidade de opiniões, característica humana por excelência.

Conhecer a verdade deixa de ser uma finalidade e passa a ser tanto impossível quanto prejudicial ao desenvolvimento do que é ser humano. Primeiro impossível, porque talvez haja tantas verdades (assim consideradas por seus portadores) quanto pessoas no mundo e elas se perdem numa embate sem fim para comprovar quão mais "verdadeiras" elas são em comparação com as outras. Deposi, ainda que ela existisse e se colocasse sobre todos, seria o fim do diálogo, da pluridade de discursos, ou seja, justamente o que há de mais humano em nós, a possibilidade de discutir o mundo, de verbalizá-lo e suas várias percepções. De acordo com, as coisas do mundo "só se tornam humanas para nós quando podemos discutí-las com nossos companheiros". Uma única verdade acabaria com o que nos torna humano e nesse caso, a liberdade humana está em oposição à verdade.

Confesso que essa é, de maneira geral, a forma como penso. Sempre valorizei mais o debate e a possibilidade de se chegar a novas idéias e práticas através dele, do que a verdade doutrinária, de mão de ferro e arrogante, que não está aberta a concessões e nem a ouvir ninguém. Além disso, sempre me mantive cético quando alguém se justificava através da "verdade". Os crimes mais bárbaros foram cometidos em nome da verdade (e por que não dizer da paz, da justiça, da liberdade...) e quem estava contra tal verdade estava contra Deus (ou contra o rei, a natureza ou qualquer signo ao qual se atribui poder). Calar-se em favor de um terceiro e sua verdade é estar sob seu jugo e abdicar da própria liberdade.

Acho benéfico quando os indivíduos trazem para debate suas opiniões, quando estão dispostos a colocá-las ao público, sob o risco de serem rechaçadas de pronto ou ofuscadas por outras. É um ótimo exercício, que propicia a reformulação das idéias e valores colocados em pauta. Poderia citar o exemplo do aborto (dado em um livro que li, não lembro onde, mas sobre o qual estou de inteiro acordo). É uma situação complicadíssima, não sou a favor, mas também sou contra quem é contra, ou seja, o que se torna relevante para mim é troca de idéias, um profundo debate que ampare as diferentes formas de pensamento e por consequência, num caso como esse, as eventuais políticas públicas e formas de ação que dai surjam (o que nesse caso torna o assunto mais delicado, pois terá efeitos coercitivos sobre toda uma população, diferentemente de quando se discute a origem da vida ou o que ocorre depois da morte, por exemplo). Assim, não busca-se a verdade, nem se pretende construir uma, mas sim enriquecer tal assunto (ou qualquer outro) pela consideração de diferentes perspectivas.

Por fim, uma frase de Lessing (essa figura sobre a qual eu nada sei e desconhecia até ler o texto de Hanna Arendt) que esclarece sua maneira de pensar:

"Que cada um diga o que acha que é verdade, e que a própria verdade seja confiada a Deus!" (pág. 36)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

comentários sobre o ser humano e o mundo

"(...) pois o mundo não é humano simplesmente por ser feito por seres humanos, e nem se torna humano simplesmente porque a voz humana nele ressoa, mas apenas quando se tornou objeto de discurso. Por mais afetados que sejamos pelas coisas do mundo, por mais profundamente que possam nos instigar e estimular, só se tornam humanas para nós quando podemos discutí-las com nossos companheiros."
"Humanizamos o que ocorre no mundo e em nós mesmos apenas ao falar disso, e no curso da fala aprendemos a ser humanos."

(ARENDT, Hanna. Homens em Tempos Sombrios. Companhia das Letras, pág. 31)
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O mundo e suas coisas se tornam humanos a partir do discurso e da interação entre os indivíduos que ele supõe. Mesmo que estejamos em contato direto e constante com o mundo que nos cerca e que ele tenha efeito direto sobre nós, é somente pela linguagem que podemos efetivamente nos apropriar dessa experiência e compartilhá-la. O mundo somente adquire caráter humano ao se tornar objeto passível de discussão, passível de ser "explicado" e "compreendido" (essas duas palavras em sentido amplo, não de uma explicação última e definitiva) nas suas diversas acepções.

Essa "humanização" do mundo através do discurso se dá ao se estabelecer canais de comunicação entre os indivíduos, que fazem do espaço público, o local por excelência da troca, da interação e, por consequência, da construção do diálogo múltiplo que nos diferencia dos outros seres.

Contrapondo-se à fala está a incapacidade de se dizer o que se percebe. O silêncio daquilo que não se sabe exatamente o que é, como expressá-lo. Ou ainda o mesmo silêncio por outro motivo: por retirar-se do mundo, deixar de participar do diálogo. Privar-se, assim, do espaço próprio à interação e ao debate, e, por consequência, desumanizando o mundo.

[me interessei pela maneira como Arendt descreve esse processo que ela chama de humanização do mundo - mas que inclui a humanização do indivíduo também]

terça-feira, 22 de setembro de 2009

22/09...

dia mundial sem carro.
é óbvio que pelos menos em SP a rotina continuará a ser a mesma:
filas quilométricas de carros, em sua maioria ocupados pelo motorista e só;
marginais (o aparelho urbano mais abominável dessa cidade fedida) e mais uma porção de avenidas enormes congestionadas, briga por locais para se estacionar (acreditem, inclusive os lugares pagos!), buzinas, fumaça, o caos.
afinal, andar de carro é estilo de vida, sinal de status.
é tradição, supõe conforto e autonomia...
o carro faz parte da família, é um pedaço da casa que se leva pra passear.
é o corpo circunscrito, hermeticamente fechado, cercado pela privacidade de metal, fugindo da confluência de pessoas na cidade grande.

se disserem que o carro hoje em dia é uma necessidade até que eu não discordaria de todo.
a questão, porém, é que a necessidade por carros se formou junto com o crescimento acelerado da cidade e a valorização do transporte individual como solução para a locomoção. grandes vias por todos os lados, com a função de levar a população da casa pro trabalho, pra escola, pro lazer (tudo separado um do outro).

defender uma lógica individualista de transporte, baseada no carro ainda hoje em dia é burrice, é ingenuidade. por mais que se construa novas pistas e que se alargue as existentes a situação é insustentável (inclusive a curto prazo): simplesmente vai travar tudo (como vira e mexe acontece). isso sem contar com outras questões igualmente (ou mais) importantes também devem ser levadas em conta, como a poluição do ar, sonora, a degradação das cidades, a impermeabilização do solo, etc.

que esse dia sirva, pelo menos, para contrabalancear (ainda que de maneira tímida) a apologia frenética ao carro, que propicie a discussão de políticas alternativas e novas maneiras de se encarar o problema do trânsito e da vida nas metrópoles como um todo.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

"Partir dos 'falsos objetos' e 'acontecimentalizá-los'; reduzí-los a singularidades que se dissolvem em uma multidão de proveniências históricas e de emergências sociopolíticas. Toda singularidade remete, pois, a uma multiplicidade causal, e as objetivações históricas são raras, como diz Paul Veyne: seu caráter de necessidade aparente é um efeito a posteriori do conjunto de práticas que as produziu."
"Essa objetivação crítica é obtida justamente através do efeito de historicização e acontecimentalização acima evocado. Nada havendo de natural ou eterno no mundo humano, tudo é objeto de uma crítica possível."

(GOLDMAN, Marcio. Objetivação e subjetivação no último Foucault in Alguma Antropologia, págs. 69 e 71; Rio de Janeiro, Relume Dumará, 1999)
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Não sei o quanto se torna obscuro ler essas duas passagens separadas do contexto, mas elas elucidam bem uma maneira de ver as coisas com a qual eu concordo.

Primeiro de tudo, a necessidade de desnaturalização de "falsos objetos", que se apresentam como formas pré-estabelecidas e, de certa forma, imutáveis. Deve-se trazê-los para o plano da ação humana, elucidando o caráter sociopolítico desses objetos, mostrá-los como fruto de de uma série acontecimentos. Não há nada eterno no mundo humano, o que há são produto de contigências históricas, sendo que, inclusive a aparente necessidade pela qual sua existência se justifica não é mais do que a decorrência de sua formação. Tudo poderia ser diferente, se é como se vê, é simplemente pelo aleatório agindo.

Com isso, torna-se possível a crítica, a análise arqueológica e genealógica (ou seja dos saberes e dos poderes constituídos) desses objetos, contribuíndo (creio eu) para a elucidação de sua constituíção histórica e por conseguinte a ação política e de ruptura com tais objetos (ou seus reflexos nos dias atuais).


quarta-feira, 9 de setembro de 2009

sinto latejar em minhas veias
o acúmulo do tempo - coisa morta
tiquetaqueando, lento, o pulsar curto
da vida inteira, inerte, em poucas horas

o pêndulo policia meus devaneios
e anuncia a expropriação de minha miséria
enclausurada na explosão vertiginosa
desse deus pândego que constrói e joga fora

respiração ofegante, mãos dormentes,
exalto ensandecido a lâmina que corta
meu coração, essa bomba-relógio
que por compaixão ou complacência não me aborta

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a escassez do tempo, o relógio a espreitar meus passos.
é tarde, é tarde!
e o tempo que há é para construir o que se destruirá.
o ritmo da modernidade, a crença na modernidade...
e o eu suprimido pelas infinitas possibilidades.

pelo encanto, pela vontade.

P.S.: até o tempo para virar mercadoria tem que ser escasso.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

algumas linhas sobre "memórias de minhas putas tristes"

um livro lido recentemente e que merece comentários (sempre desconexos) é o "memória de minha putas tristes". me cativou a maneira como Gabriel Garcia Marquez, o autor, constrói o protagonista (um nonagenário, pouco interessante e com nada de especial) que eu achei muito carismático. a ambientação e a narrativa são belíssimas, retratando com delicadeza e sensibilidade a condição do personagem (que viu o tempo passar e ficou), sem cair no piegas ou no sentimentalismo exagerado.
conta-se basicamente um pequeno momento da vida desse senhor (o seu aniversário de noventa anos) e em perspectiva, reminiscências de suas memórias até então, permeada pela solidão e a melancolia de uma existência sem grandes sentidos. as "putas" que compõem o título têm seu papel de relevância e ao meu ver sublinham o sentimento de solidão do personagem.

contrasta com isso e com sua idade avançada, o amor (essencialmente platônico), descoberto (de maneira forte e intensa) na figura de uma menina (puta também, quase desconhecida) que trás uma boa dose de sentimentos até então adormecidos.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

me agrada coisas velhas.

gosto de sentir a vida impregnada na sua gastura...

na nossa idolatria à perfeição do que é novo elas incomodam, chamam a atenção justamente por estarem ultrapassadas, fora de moda.

o novo nos orienta, numa conduta quase mesiânica (e, acreditem, é muito difícil fugir dele). coisas que duram remam contra a maré na esfera do consumo, da produção e do simbólico (que dá liga à ambos).

pode ser apego ao material, mas a necessidade constante por novidades também se torna apego, não necessariamente àquela coisa em si, mas à sensação (de satisfação?) que se tem ao se adquirir o lançamento (sim, as coisas são, invariavelmente produtos, inescapavelmente mercadorias). um estímulo quase orgástico que o consumo traz consigo.

esse eterno desmanchar-se no ar das coisas sólidas, que sobrepuja a tudo e a todos. que destrói para construi melhor, maior, mais rápido, mais moderno, mais bonito... ao diabo com essa apologia cega e sem sentido, deixe cá o que permanece e é muito mais¹.

um tênis velho (com quilometros rodados), uma camiseta (agora menos da cor original, mais de uma cor indefinida), um livro (com marcas de "orelha"), um cd (meio riscado), [um prédio, uma ponte, uma cidade inteira !!!]... acho legal a marca do tempo sobre todas essas coisas e sobre a velocidade da máquina (que é o mundo) que gira sem parar, vê-las quase como testemunhas do acúmulo do tempo.

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¹Não quero parecer conservador (no sentido estrito do termo), apenas questiono a maneira como as engrenagens se movem, esse impulso vazio e desorientado de superação (jogada de marketing? característica humana inata?) de algo (de quê?).

quinta-feira, 13 de agosto de 2009




"(...)
E assim as muitas noites
parecem uma só
ou no máximo duas:
sendo a outra
a noite de dentro de casa
iluminada a luz elétrica
A noite adormece as galinhas
e põe a funcionar os cinemas
aciona
os programas de rádio, provoca
discussões à mesa do jantar, excessos
entre jovens que se beijam e se esfregam
junto à cancela
no escuro
e quando o tesão é muito decidem se casar
(menos, por exemplo,
Maria do Carmo
que entregava os peitos enormes
pros soldados chuparem
na Avenida Silva Maia
sob os oitizeiros
e deixava que eles esporrassem
entre suas coxas quentes (sem
meter)
mas voltava pra casa
com ódio do pai
e malsatisfeita da vida) (...)"



GULLAR, Ferreira. Poema Sujo, pág. 32. Rio de Janeiro: MEDIAfashion, 2008.
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a noite num poema sujo...

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Ao deslizar meus pés sobre sua superfície infértil (num misto de horror e fascinação), percebi que não te conhecia. E nem poderia. Ninguém! Na sua inconclusão definitiva, sempre reconstruída e reinventada (pelos estupros e carícias sucessivas), só o que (acho que) sei é o que acham os outros. Só o que sinto são os meus pés oscilarem entre o profano e o sagrado da tua carne cinza.

Grande demais (frágil!), sempre prestes a se desfazer. No seu coração de pedra, no seu deslumbres de concreto armado, no calor emanado do motor a combustão, na sua respiração urgente (medida em toneladas cúbicas de monóxido de carbono). No cálculo perfeito, na obscenidade dos papéis. Tudo é tão você!

Por um momento quase te sinto por inteira e experimento a sensação de fazer parte das suas entranhas e te abraço como quem se despede todo dia, pois tê-la sob os pés é um eterno até nunca mais...

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pensei que te entendesse...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

às vezes sinto que não sou capaz de ir além da medriocridade. outras vezes tenho (uma vaga)certeza de que não há, de fato, nenhum lugar além para ir... somente (e quando muito) um caos de desejos, fantasias e lamentações.

me torno cinicamente volúvel. e digno de riso ao querer negar e afirmar, ao mesmo tempo, a mesma coisa. numa moral da amoralidade ou coisa assim.

no que eu realmente acredito? talvez eu acredite na descrença, pura e simples. porém isso é paradoxal... fantasioso também (como se fosse possível estar isento). a sensação de "uma vida que poderia ter sido e não foi" está o tempo todo a me pertubar rivalizando com a idéia de que toda vida é mais não-ser do que qualquer outra coisa (esse suposto caos). e tem horas que eu até me culpo por não viver meus dias no piloto automático.

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p.s.1:esse assunto está frequentemente na minha cabeça (e aqui, em linha passadas). provavelmente depois eu volte a ele...

p.s.2: aprendi na escola que os textos têm introdução, desevolvimento e conclusão. como é difícil acabar algo sem concluir nada!

terça-feira, 14 de julho de 2009

é comum que sinta minha mãos e meus pés sempre gelados, eventualmente a ponta do nariz também.
ainda assim me agrada essa época do ano. os dias mais curtos, a cidade mais cinza e um tanto quanto melancólica.
a alegria e a expansividade são menos latentes e menos obrigatórias. se tornam rarefeita. é como se estivéssemos prestando mais atenção ao que está dentro, permitindo cercar-se de si, circunscrever-se a partir do bloco [carnavalesco] e da massa.
ainda assim contemporizo e digo que gosto também de dias quentes. comodamente concluo que é bom ter cada coisa em seu lugar. e a alternância nas estações do ano ainda serve pra quebra o silêncio nos elevadores.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

- por que tem se tão mantido calado?

- cheguei a conclusão de que se exponho certezas me sinto um charlatão e se exponho minhas dúvidas me sinto uma farsa (requentada)... então talvez eu fale sobre o frio, pelo menos ele é real.

terça-feira, 23 de junho de 2009

algumas linhas sobre "aquele inverno em leningrado"

acabei de ler ontem "aquele inverno em leningrado", romance que trata do cerco de leningrado (hoje são petersburgo) pelos nazistas à época da segunda guerra mundial.
a cidade não estava preparada para a guerra e seus efeitos, confiava no pacto de não agressão celebrado entre hitler e stálin.
porém, pior do que as bombas foram o "general fome" e o "general frio" que agiram implacavelmente sobre a população. estima-se que 1 milhão de pessoas tenham morrido, principalmente com as temperaturas que chegavam a -40ºC e de fome (nos piores momentos a ração chegou a ser de apenas 125 gramas de pão por dia).
gostei da história, mostrando a guerra através dos civis e de sua imensa luta para sobreviver e não na dimensão macro dos grandes personagens. pessoas que não sabiam muito o que estava acontecendo e tudo que podiam fazer era esperar... impressionante as condições de vida daquelas pessoas e que não podem simplesmente ser traduzida em palavras. cheguei a essa conclusão enquanto lia o livro, que por mais que a autora se esforçasse para retratar da maneira mais fidedigna possivel, não seria o possível fazer entender o que é morrer de fome e de frio dentro da própria casa (e nisso as bombas ficaram em segundo plano)...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

"Sou capaz de recitar cada página. Fecho os olhos e é como se o livro estivesse na minha frente.Vou no trecho em que Tatiana sonha. As planícies, as árvores, a luz fantasmagórica e o som dos passos dela na neve: essas coisas me vêm com tal força, que é como se eu nunca tivesse lido nem pensado nelas. Quase digo alto que lastimo só ter entendido agora. Meus olhos se enchem de lágrimas, não sei por quê. Mas sei que são por causa dessas coisas, só por ela que sobrevivemos. A poesia não existe para fazer a vida bela. A poesisa é a própria vida."

(DUNMORE, Helen. Aquele Inverno em Leningrado, p. 144. Ed. Bertrand Brasil)

terça-feira, 19 de maio de 2009

Algumas linhas sobre "O Fingidor"

Vi um tempo atrás à peça "O Fingidor", baseada em Fernando Pessoa. Apesar de resgatar em linhas gerais o personagem, a história é fictícia. Mostra Pessoa, a partir de uma crise sobre si e sua poesia, passando-se por Jorge (outro heterônimo?) e indo trabalhar como datilógrafo para um escritor literário que estava justamente preparando uma apresentação sobre seu trabalho.
Não vou contar mais partes de história. Só fique registrado que é interessante ver uma figura como essa retratada, ainda que de maneira aproximada. Mais legal ainda foi ver os heterônimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis "encarnados", ainda que fruto da imaginação do autor. Deu pra dar um rosto e uma personalidade um tanto mais condensada para eles, para além de meras descrições ou da idéia que fazemos a partir das obras de cada um. Mas claro, sempre fica uma sensação do tipo "ah, imaginava eles de forma diferente...". Comigo isso ocorreu principalmente com o Alberto Caeiro, que eu imaginava um pouco mais "rústico". Outro ponto interessante é a relação conflituosa entre o ortônimo e seus heterônimos, que chegam a ganhar certa vida própria e evidenciam o não tão simples processo criativo do poeta.


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Em tempo: Acredito que o título se refira ao fato do personagem fingir ser outra pessoa e através desse fingimento se dar o argumento principal da história, mas também ao próprio ofício de poeta:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Há duas formas de ver a vida,não, na verdade há mais (sempre!), mas quero falar sobre duas em específico, sobre as quais tenho pensado com maior seriedade.

A primeira é crer que - seja um indivíduo em particular, seja a humanidade como um todo - existe um fluxo contínuo, que através de etapas leve a um "fim último" das coisas. É como se tudo estivesse linearmente intrincado pela idéia do progresso. Esse fim pode ser tanto o sucesso profissional quanto a elevação espiritual/ religiosa. No caso da história, poderia-se pensar nas sociedades como organizadas entre menos e mais desenvolvidas, por qualquer critério que seja (normalmente usa-se o econômico, técnico-científico, bélico e político). Dessa forma, as sociedades poderiam ser colocadas num contínuo, que as diferencia e as hierarquiza, sendo que a inferiores teriam que subir os degraus do progresso, assim como fizeram as mais avançadas. É comum crer que quanto mais um país produz, quanto maior sua capacidade tecnológica, mais próximo ele está de um estágio ideal de desenvolvimento, supostamente claro e desejável por todos. Ou ainda o desenrolar da história inequivocamente levando-nos ao fim dela (como em diversas religiões e na teoria marxista ortodoxa da história).

A segunda maneira, mais condizente com meu pensamento é a vida em sentido amplo se desenrolando como uma coleção mais ou menos indefinida de acontecimentos, que não seguem uma lógica superior (oracular, pré-determinada) e nem uma linearidade que nos permita traçar de antemão um objetivo ideal. Se eles (os objetivos) existem, são construido por nós a partir do "caos", do indefinido. Ou seja, no plano individual há sempre uma ideia de "ganha-se aqui, perde-se ali". Trata-se sempre de escolhas a partir de um leque amplo de opções, de abrir mão de algo em favor de outras coisas, mesmo quando não nos resta a menor dúvida sobre o que queremos. Seguir um caminho (ou construí-lo no decorrer do tempo) é deixar de seguir todos os outros, é estar à mercê de idas e vindas, avanços e retrocessos, que podemos ou não considerar como o "caminho que deveríamos ter traçado desde o início". Estar em uma posição (na carreira profissional, por exemplo), significa não estar em todas as outras, em ganhar em certos pontos, mas perder em muitos outros.
O mesmo valeria para a história num sentido macro. O que se vê como linear é um sucessão de acontecimentos, que encadeados formam uma narrativa histórica (normalmente do ponto de vista dos vencedores, que afirmam que aquele é o caminho que deveria, inevitavelmente, ser trilhado). Ao trilhá-lo, porém, seguiu-se um caminho dentre outros possíveis. O avanço tecnológico, aclamado como avanço da humanidade como um todo, pode ser considerado como uma particularidade cultural, um símbolo e uma ideologia (no sentido de um conjunto de idéias e valores restritas no espaço e no tempo) de determinadas sociedades. Ou seja, está circunscrito nas sociedades que lhe dão valor, que criam uma significação para ela. Assim, como outras formas de ver o mundo, outras cosmologias, podem levar a interpretações diversas sobre o avanço (ou não) da humanidade.

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Engraçado, isso me vem à cabeça quando vejo pessoas defendendo tal ou qual objetivo de vida, como o sucesso financeiro, por exemplo. Parece-me muito evidente que assim como ele traz benefícios, também traz limitações.
Mas como explicar para algumas pessoas que aparecer na "Caras" e possuir jóias pode não ser um desejo absoluto?

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Nota

Me sinto seco, estéril, fraco...
A chateação do tempo mecanizado e do cálculo utilitário fazem parte da minha condição agora.
Não há deslumbramento algum na monotonia e sou tão vulgar quanto qualquer outra coisa pode ser (acho que descobri o meu lugar!).
Não há contemplação, hesitação ou inconformismo no meu calar. É simples falta. E é vontade de pedir que façam o mesmo. Calem-se todos para que possamos dormir em paz. O que mais haveríamos de fazer?

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Quando maio chegou decidi que me manteria calado no mês de abril.

segunda-feira, 23 de março de 2009

ainda sobre fantasmas (que têm medo do escuro).

I.
o que me espanta é que cada um suponha ser livre o bastante para dar um sentido único para a existência, sem imaginar que, enquanto personagens fictícios, inventados diariamente por si e pelas circunstâncias, não se diferem em nada. e buscam jesus e heroína, algo que conforme a sua falta se sentido.

estamos o tempo todo querendo chamar a atenção, não importa se dos outros, se de nós mesmos ou de um ser transcendente e andamos sempre atrás do próprio rabo porque isso é construir nossa "individualidade libertadora" (sim, as pessoas e os fantasmas buscam ser indivíduos e livres). trancados nos nossos mundos imaginários, recontamos as histórias que inventamos para nós...

II.
- não se preocupe que você não está perdido. você é exatamente como se esperava que fosse: um fantasma do seu tempo, datado pelas circunstâncias. encaixa-se perfeitamente no status quo e na literatura.

ainda assim é boa a narrativa que se constrói, com passagens instigantes e momentos de extrema sensibilidade. só não se engane quanto a originalidade (ou ainda quanto a temas até mais subjetivos e ideologizantes) da sua obra.

III.
somos fantamas assustados e com medo do escuro.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Interlúdio (ou sobre os fantasmas de si mesmo)

- Sabe o que eu acho cara? Que somos uma grande ficção e que nos impressionamos com isso, com as nossas sombras na parede. Contornos difusos e mal definidos, de tamanho exagerado, que causam êxtase e que assustam... Olhamos encantados nossa imagem refletida n’água e nos afogamos como se fosse inevitável. Lamentamos o movimento doloroso da auto-recusa performática.

Performance: é pura pose e poesia. O ego inflado e uma hipertrofia psíquica. E não há beleza alguma em se estar sempre no centro...

Você procura um lugar, mas só a consciência da busca já é admitir que não possui lugar algum (assim como pensar no sono é estar acordado) e que não há opção. Seu movimento crítico é estar sempre perdido. E se perde entreatos.

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"Como correr na esteira, que cansa e não leva a lugar algum."

terça-feira, 17 de março de 2009

“A ironia - para os que estão em busca de uma ‘causa’ – é que os trabalhadores, cujas reivindicações já constituíram o motor da transformação social, estão hoje mais satisfeitos com a sociedade do que os intelectuais; sua situação não é ideal, mas as expectativas que tinham eram menores e as conquistas alcançadas foram relativamente maiores.”

(Bell, Daniel. O Fim da Ideologia; Brasília, UnB, 1980)
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Um pouco desanimador perceber que as reivindicações trabalhistas atuais se resumem a manutenção de empregos e melhores salários. Reclama-se do preço do feijão e contenta-se em comprar feijão barato... Ou seja, o que está em questão não é mais a escravidão em si, mas sim seus termos.
Acho que o velho Marx deve se revirar no caixão ao perceber a capacidade histórica do capitalismo de (até certo ponto) se adaptar, fazer concessões e manter as coisas como estão. Melhor ainda: dosmesticam o suposto sujeito revolucionário que seria o proletário (a ideologia burguesa está por toda parte).

E sei lá, não que eu seja exatamente comunista, marxista ou qualquer coisa assim, mas chama a atenção o fato de que esperava-se demais e não foi o que se viu (até agora, pelo menos).

segunda-feira, 16 de março de 2009

A minha nota musical favorita é o mi...

sexta-feira, 6 de março de 2009

Ela jogou no lixo minha poesia, pensando que fosse papel velho.

E eu guardei pra mim os papéis do lixo do banheiro (pensei que fossem versos livres).

quinta-feira, 5 de março de 2009

“Contudo, nos seus aspectos mais efetivos, a religião representava mais do que isso [mobilização da emoção]: era uma forma de abordar o problema da morte. O medo da morte – poderosa e inevitável – e principalmente o medo da morte violenta perturba o sonho brilhante, mas momentâneo, do poder humano. Como Hobbes observou, o medo da morte é a fonte da consciência; e o esforço para evitar a morte violenta é a fonte da lei. Quando era possível acreditar (mas realmente acreditar) no céu e no inferno, esse medo podia ser em parte temperado, ou controlado; sem tal crença, resta apenas o aniquilamento completo da individualidade.”



(BELL, Daniel; O Fim da Ideologia, pág. 324, Ed. UnB)
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Interessante essa noção, de que a morte, assustadora e infalível, faria com que nós buscássemos abrigo nas leis, principalmente nas leis de um ser superior, que explica algo a princípio sem explicação e nos conforta do destino que é "deixar de existir".
Sei lá, talvez fique sem sentido, mas tenho pensado bastante nessas questões da religião enquanto fenômeno sociológico...

segunda-feira, 2 de março de 2009

Pequena divagação sobre um momento passado em frente ao espelho

Agora, neste exato momento, a folha de papel em branco olha para mim, num tom desafiador, me incitando a dar um fim em sua brancura com a tinta da caneta.

Confesso que hesitei por um bom tempo, cheguei a imaginar que ela sairia vencedora e voltaria triunfante pra gaveta de onde saiu. As idéias que eu julguei afiadas e extraordinárias mas traíram. Mas eis que, covardemente, resolvo apelar e desvendar o próprio impasse que se formou, o muro que se construiu entre as fantasias e as palavras. Como quem quebra o silêncio falando dele próprio, mas no fim das contas percebe que isso só piora as coisas, pois o torna mais presente.

Talvez fosse melhor falar sobre o tempo (instável) ou o trânsito (caótico). Agora martela na minha cabeça como a folha está pintada do vermelho da caneta, mas ainda continua em branco...

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Não sei por que me surpreendo, elas sempre fazem isso comigo. Mas por capricho mando-as direto para o lixo.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button

Faz um tempo já que eu o assisti e até tentei, nos dias seguintes, organizar algumas idéias que tive sobre ele, mas sem muito sucesso...

Sem dúvida é um filme muito bonito, uma história bem contada que fica entre o dramático e o cômico (a situação do protagonista é um misto das duas coisas). Benjamim Button é um caso raro (único!?) de pessoa nasceu ao contrário, ou seja, velho, para morrer como um bebê (não vou detalhar mais o roteiro, até para não estragar surpresas). A partir disso abre-se espaço para um reflexão sobre o tempo, a maneira como lidamos com ele e com as pessoas a nossa volta a partir de sua passagem, tema até certo ponto recorrente, mas que ganha frescor e chama atenção pra coisas que poderiam passar batido ao se inverter a lógica e mostrar um personagem fazendo o "caminho" contrário. A dor dele, por exemplo, passa a ser a evidente diferença de idade que vai se formando entre ele e a pessoa que amada e saber que em determinado momento isso será intransponível.

Encontros e despedidas, tão comuns na vida de qualquer pessoa ganham nova forma e paramos pra pensar (pelo menos eu parei) sobre o tempo e o que ele faz com nós. Perceber como ele age, no caso sobre Benjamim Button, é motivo para um pontada de tristeza . Sobre a forma como nos aproxima de certas pessoas, como nos distancia de outra (inclusive pela morte). Em geral, é a efemeridade da condição humana, mero brilho.

Enfim, o filme todo soa como uma grande e fantástica fábula moderna, divertida e emocionante, até mais do que eu imaginei que poderia ser. E longe de querer discorrer sobre o filme como um todo, preferi fazer um pequeno comentário sobre esse aspecto.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

segredo

ah, já sei! as ondas da mar são de Deus fazendo hidroginástica.
(anônimo)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

o ano agora é outro (de novo!) e metade do segundo mês já se foi. risco incontrolável os dias no meu calendário. pequenas marcas por todo o corpo. uma a uma.

mas não era sobre isso que eu queria escrever (eu me repetindo, como se não pudesse evitar ser quem sou, mas meu eu lírico não sou eu e nem tem poesia). claro, estou anestesiado, me sinto pouco agora e não sei até onde isso vai. eu disse algo sobre reclamar do preço do feijão? é, falta pouco. e isso não me comove... estou anestesiado e apático. de apatia cínica, que ri de tudo, mas não vê graça. sorriso azedo, como se eu tivesse envelhecido alguns anos em poucos meses (e talvez por isso o papo sobre calendário no início). pior que pensar sobre isso faz com que eu me sinta mais inconveniente (por que eu sempre ando em círculos!?).

mas, (fora isso) a vida é boa. a cabem nove em um carro.

16/01/2009

aliás, eu sinto falta de tudo, mas me mantenho da porta pra dentro.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

"Como isso aconteceu nem ele mesmo sabia, mas de repente alguma coisa pareceu o impelir e lancá-lo aos pés dela. Ele chorava e lhe abraçava os joelhos. No primeiro momento ela levou um terrível susto, e todo o seu rosto ganhou uma palidez mortal. Ela se levantou de um salto e põs-se a fita-lo trêmula. Mas de imediato, no mesmo instante ela compreendeu, e para ela já não havia dúvida, que ele a amava, a amava infinitamente, e que enfim chegara esse momento...


"Eles quiseram falar mas não conseguiram. As lágrimas estavam em seus olhos. Os dois eram pálidos e magros. mas nesses rostos doentes e pálidos já raiava a aurora de um futuro renovado, pleno de ressurreição e vida nova. O amor ressucitara, o coração de um continha fontes infinitas de vida para o coração do outro.


"Decidiram espera e suportar. Ainda lhes restavam sete anos; mas até então, quanto suplício insuportável e quanta felicidade sem fim! Mas ele ressucitara, e o sabia, sentia todo o seu ser plenamente renovado, e ela - bem, ela vivia só da vida dele."


(Dostoiévski, Fiódor. Crime e Castigo; págs. 558 e 559. Trad. Paulo Bezerra. Ed. 34)

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"Hoje eu acordei mais leve, nem li o jornal. Tudo deve estar suspenso, nada deve pesar..."

(Ilex Paraguariensis)