quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A Dança?



"Você é tão MODERNO
Se acha tão MODERNO
Mas é IGUAL a seus pais
É só questão de idade
Passando dessa fase
Tanto fez e tanto faz.
Você com as suas DROGAS
E as suas TEORIAS
E a sua REBELDIA
E a sua SOLIDÃO
Vive com seus EXCESSOS
Mas não tem mais dinheiro
Pra comprar outra FUGA
SAIR de casa então
Então é OUTRA festa
É OUTRA sexta-feira
Que SE DANE o futuro
Você tem a vida INTEIRA
Você é tão ESPERTO
Você está tão certo
Mas você NUNCA dançou
Com ÓDIO de verdade."

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se tem um comportamento que me irrita profundamente é o das pessoas que, deslumbradas com a seu modo de vida e suas ideias, supostamente avançadas, constestadoras, (revolucionárias?) entre outras, acabam simplesmente repetindo comportamentos cristalizados e clichês do seu grupinho. na tentativa de se destacar, acaba sendo mais um a seguir uma velha cartilha imaginária...

não só me irrita, isso é pouco, me faz pensar muito em quanto as pessoas criam um ficção de si, para si e acreditam nela tanto a ponto de usá-la para criar uma falsa dualidade de nós e os outros. rogas, teorias e rebeldia que no final das contas te tornam exatamente aquilo que você diz não ser. você não é diferente, você não é contestador, você não traz nenhuma grande mudança para o mundo e nem para o seu entediante comportamente juvenil. pior: você reforça o status quo ao ocupar o lugar que te permitem ocupar. Como um cachorrinho que late no quintal... Você é igual a seus pais, talvez mais conservador e enfadonho que eles quando jovens. E pior que isso, a ideia que você tem de ser mais e melhor não te permite ver o quanto você é limitado. muito provavelmente mais um caretinha.

comportamentos juvenis são constrangedoramente repetitivos e bobinhos. principalmente quando estão em bando e precisam dele pra se auto-afirmarem e moldarem sua identidade. o pretenso inconformismo, sua relação com as drogas, os pequenos delitos (muitas vezes acompanhando de frágeis ideais libertários) são velhos clichês, aprendidos e propagados como algo genuíno.

esqueça, a rebeldia (como nós a conhecemos e como ainda vendem na tv) morreu, hoje em dia ela é vendida nas lojas, está totalmente absorvida e adaptada ao mainstream e ao mercado. garotos e garotas brincam de ser rebeldes e se acham fodas porque consideram que estão virando as costas para o velho mundo. eu penso diferente: acho que eles estão fazendo exatamente aquilo que se espera que eles façam, estão brincando de pirata no playground do condomínio. mas nunca dançaram com ódio de verdade...


Jovens sendo revolucionários.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

das mesuras

perdoai o verso
que eu não fiz
e ainda mais o que eu fiz,
marcando a pele à lâmina
ou fingindo fazê-lo

perdoai a fraude,
a fuga impossível
o culto à alma, quando
eu nem mesmo acredito no corpo!
(ou no verbo)

perdoai, se possível
as pequenas canalhices
o deboche com que ofereço
suor, sangue, lágrimas,
mas entrego-lhe a folha fria
(não creia)







quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

"Todos os homens e mulheres são distintos, mesmo os gêmeos univitelinos. Aos nos relacionarmos com qualquer um deles, no entanto, fazemos isso por meio do seu tipo: branco, preto, capixaba, francês, pobre, rico, e assim por diante. Não fosse assim, a relação seria inimaginável. Não interagimos com coisas e seres singulares, esta possibilidade não está dada ao ser humano."

(SANTOS, Joel Rufino dos - Quem Ama Literatura Não Estuda Literatura: Ensaios Indisciplinados, pág. 154)
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foda chegar a essa conclusão: nós simplesmente não temos acesso ao outro ser ou coisa, não entramos em contato com ele de maneira plena. quando o fazemos é só de maneira muito limitada, por meio da nossa subjetividade, da nossa visão de mundo, sensações, sentimentos e inevitavelmente de nossos preconceitos... e tudo isso é muito pouco e quase falso (apesar de tão humano!).

conhecer uma pessoa é antes de tudo situá-la no (meu) mundo, é compará-la com o que eu já conheço e reduzí-la a algumas informações. nome, idade, onde mora, onde nasceu... dá pra perceber o quanto isso já é esteriotipar aquele ser? tentamos apreender um ser único e complexo através de um punhado de informações socialmente compartilháveis.

claro que existe uma enorme gama de outros estímulos que recebemos do outro (comunicação não-verbal, aquilo que é só sentido, intuido a "impressão" que nos passa...), mas ainda assim, CONHECER O OUTRO É CONHECÊ-LO ATRAVES DE VOCÊ MESMO. Não conseguimos escapar desse fato...

o mundo vasto, infinito com os bilhões de pessoas que estão lá fora estão irremediavelmente fora de nosso alcance. não os atingimos, não os alcançamos enquanto realidades objetivas...

 isso me lembra muito o MITO DA CAVERNA de platão. nós conseguimos tão somente perceber umas poucas sombras na parede e achamos que isso é a realidade... não interagimos com os seres singulares, mas tão somente (e em graus variados) com as informações que recebemos e conseguimos "processar" (e a sombra é um ótima metáfora para isso). e é a partir dessas informações que definimos como vemos aquela pessoa e como vamos interagir com ela... e isso vai desde uma simples passada de olho, até a convivência por anos, o fato é que SEMPRE vamos estar reduzindo aquela pessoa, simplificando-a de forma que consigamos racionalizá-la. Em uma palavra, TIPIFICANDO-A.

domingo, 9 de dezembro de 2012

conversas inflamáveis

separados por um pequeno labirinto,
me canso dos seus comentários
quero te bater ou te abraçar.
um profundo sentimentalismo me acomete,
faz com que eu reaja com ironia...
tenho sempre que me explicar
assim corro o risco de me tornar opaco.
aos seus olhos sou pedante
meio enigma, meio fraude
o que me perturba algumas vezes.
não sou livre,
nem esperto o bastante...
só levemente piromaníaco
ensaio por fogo nas minhas roupas,
mas não vá embora, 
não é o fim,
quero ouvir seus argumentos
                                            enquanto
                                                           queimo