segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Um Arco-íris de Verdade

ouça aqui

eu não sei se vai chover ou fazer sol
quero os dois e um arco-íris sobre o céu da cidade,
você já viu um arco-íris de verdade?

eu não sei se você vai me querer por um ano ou só por essa tarde,
mas eu queria alguma coisa sua que marcasse a minha vida,
seja sua unha na minha pele ou uma aliança no meu dedo

e se chover nem vem de guarda-chuva, que eu quero mesmo é te beijar molhada
e a gente dança e pisa em tantas poças
e a gente brinca de estar apaixonado

eu não sei se você vem no vento que assobia
de cabelo bagunçado e lenço no pescoço
mas vê se espanta essa frente fria
e me traz um pouco de calor na sua mochila

e se chover nem vem de guarda-chuva,
que eu quero mesmo é te beijar molhada
e a gente dança e pisa em tantas poças
e a gente brinca de estar apaixonado

e se chover nem vem de guarda-chuva,
que eu quero mesmo é te beijar molhada
e se o sol sair me leva lá pra fora,
me põe embaixo do seu céu de cores cintilantes


quinta-feira, 15 de agosto de 2013

"Ocorre que, por vivermos em um mundo plural, não podemos prever plenamente as consequências de nossas ações, e isto não se deve a uma deficiência cognitiva, mas sim a um certo grau de imprevisibilidade de toda ação, haja vista que, por estarmos inseridos em uma rede de relações, onde toda ação gera reações, não podemos saber integralmente qual o resultado do processo irreversível que desencadeamos no mundo. Por isso Arendt diz que apesar de agirmos, não somos os autores da história, pois o significado da mesma somente pode ser encontrado no 'fim', isto é, de maneira retrospectiva por quem se dispõe a narrá-la. Nessa linha, podemos dizer que a constituição de nós mesmos, de nossa biografia, do sentido de nossa existênca, bem como a constituição da comunidade política em que vivemos é uma atividade plural, que é incapaz de ser realizada solitariamente, pois a antes mencionada rede de relações que está por detrás dos negócios humanos não permite que realmente sejamos soberanos e onipotentes (...)."

(TORRES, Ana Paula Repolês. O Sentido da Política em Hannah Arendt.)
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Entrar em contato com as ideias de Hannah Arendt é sempre inspirador... 
A maneira como ela coloca cada um de nós nos seu "devido lugar" (nada mais e nada menos) ao frisar que não somos capazes de constituirmos individualmente nem a nós mesmos e nem uma comunidade política é forte e original. Afinal de contas (e sendo esse um dos pontos mais marcantes de seu pensamento), é somente na interação entre os homens, no exercício da liberdade entre iguais que nos é possibilitado tanto a construção de nós mesmos enquanto pertencentes ao mundo, quanto a construção do próprio mundo, enquanto espaço para a ação do homem. 
É através do olhar do(s) outro(s) que nos percebemos e é justamente a pluralidade de olhares e dos sujeitos que emergem a partir dessa relação que permite o surgimento do espaço público e da política, enquanto diálogo e troca.
Nesse sentido, gosto da ideia que ela elucida da história como algo que nos escapa, uma narrativa que se dá posteriormente aos acontecimentos, quando alguém se prestará a narrá-los. Nós agimos no presente, mas o significado e o desenrolar que nos levará a um "fim" é sempre incerto,  já que volátil.
Tampouco temos controle sobre a irradiação de nossas ações e não é no isolamento que se forma o "eu" e o "outro", mas antes nas reações às nossas ações, que ecoam por essa rede de relações e que inevitavelmente acabam voltando para nós mesmo das maneiras mais inimagináveis e constituindo de muitas formas o sentido de nossa existência.



segunda-feira, 12 de agosto de 2013

do que eu aprendi...

começo ponderando se posso realmente chamar isso de aprendizado. sei que sou irritantemente prevísivel e logo de cara questiono a mim mesmo (antes que alguém o faça?). não consigo dar um passo firme numa direção sem antes hesitar, olhar para os meus pés e ao meu redor (isso é o que me mata e me constitui)... não consigo dizer ao certo que sou mais sábio agora do que era antes, que sou melhor. será que, pelo contrário, simplesmente deixei de ser uma coisa para passar a ser outra? não é isso mesmo que fazemos o tempo todo? a despeito da falta de resposta que se anuncia ao questionar-me sobre o título, ousarei chamar o acúmulo de dias e anos e as experiências que de alguma maneira absorvi de aprendizado. afinal, desse intervalo de tempo que tenho me mantido vivo, fiz algumas coisas e elas também acabaram por fazer algo de mim.

quer dizer, nesse universo infinitamente aberto de saberes possíveis, só posso falar de fato em aprendizado se estabelecer de antemão um ponto de partida e um objetivo. caso contrário tudo se torna válido. ir ou ficar, ser ou não ser, toda e qualquer interação do ser humano consigo, com os outros e o ambiente implica em causar reações a si mesmo, alterar sua formação, imprimir marcas às quais podemos dar o nome de "aprendizado". entende aonde quero chegar? tentamos enxergar na escuridão do mundo com a chama de um palito de fósforo e o que iluminamos sempre será mísera partícula se comparada a tudo aquilo que nos escapa...

vencido dois parágrafos de fútil papo furado e arriscando em fazer um balanço entre a mesma pessoa separada pelo tempo, posso dizer que consegui usar a meu favor os percalços experienciados e que acabaram por contribuir para uma certa solidificação do "eu". isso sim é algo que posso considerar relevante: conseguir se tornar algo "duro" no universo. e quando eu uso tal expressão, por favor, considerem essa dureza de maneira relativa, no sentido de oferecer alguma resistência às diversas correntezas que nos assolam ininterruptamente e contra as quais invariavelmente nadamos, de conseguirmos ir em frente (supondo que é pra frente que seguimos) e de podermos ser um corpo um tanto quanto impermeável, que não sofra a todo tempo a invasão de outros corpos. e aqui estão dois pontos que se mostram relevantes para qualquer ser humano: ter minimamente a força, a pulsão, de seguir um caminho, enquanto sujeito "autônomo" e com "vontade própria" e ao mesmo tempo conseguir ser um todo minimamente coeso, capaz de proteger a si mesmo das invasões que nos ameaçam. algo como um "caminhar com a próprias pernas" e mais do que isso, estabelecer por conta própria o caminho que será caminhado. claro, sem perder a capacidade de contemplar a pluralidade possível e que nos traz beleza (e tormento).

acho que é isso, posso esboçar conclusões. creio que tenha aprendido e esteja sempre apredendo a pensar (e repensar, num processo contínuo) meu caminho possível e desejável, bem como caminhá-lo com retidão e firmeza. julgo ter aprendido também a olhar para a frente, sem deixar de prestar atenção ao meu redor, estar atento ao que me circunda e sempre com o passado nas costas (fardos e delícias com os quais não aprendi a viver sem). ainda suscetível a retrocessos e vacilações, mas igualmente preparado para fazer delas companheiras que me transmitam algo, tentar torná-las parte (importante) do caminho, que me caracterize e me aproxime de mim mesmo.

e vejam, se falo assim em termos tão abstratos e genéricos é justamente para que se possa ganhar essa amplitude, para não me fechar em especificidades, para que eu possa falar de mim como um todo. mas, sei, estou simplesmente falando da ação de um homem no mundo dos humanos e da ação que esse mesmo mundo causa num certo homem. e mais especificamente da capacidade de se autodeterminar e de ser um ponto de resistência. porém, não me iludo no alcance dessa autodeterminação e resistência. na realidade podemos muito pouco e sabemos quase nada. as possibilidades que nos apresentam são limitadas. ok, isso posto (e com o perdão do clichê), ainda creio ser possível fazermos limonada com os limões que a vida nos dá. ou ainda, quem sabe, com um pouco de sorte, uma bela caipirinha...

domingo, 4 de agosto de 2013

poema-convite

ah!
tuas coxas brancas,
tuas pernas curtas,
no ângulo reto em que florescem
úmidas
e tomam a forma do meu desejo
trêmulo
torno-me de novo devotado
púbere
acompanho atento o movimento
            rítmico          
em que se insinuam e fogem
hipnóticas
(mistério que não desvendo)

amo, sem saber rimar
tuas pernas ao meu desatino,
lívidas
nascem suaves em dedos
mínimos
serpenteiam ao meu redor
lânguidas
e vigorosas morrem
líquidas
(como eu morro)
no calor de teu quadril-convite