quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

você e vinícius

quem escreveu o livro?
foi você ou
o velho vinícius

que armou a armadilha
do real amor
fictício?

poeta e poetisa
arquitetam em conluio
o precipício

bomba de celulose à espreita,
na iminência
do suicídio

explode serena
no luxo do desperdício
como se fosse nada,
como se fosse possível
não ler o fim
e se lembrar do início.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

da carta de karl para sua irmã, cordélia

"Na verdade o que queremos é dilacerar o outro. Dão o nome de desejo a essa comilança toda. Na natureza tudo come. Do leão à formiga. Até as estrelas se engolem umas às outras. Tenho cagaço do cosmo. O Criador deve ter um enorme intestino. Alguns doutos em ciências descobriram que quanto maior o intestino, mais místico o indivíduo. E quem mais místico do que Deus? Grande intestino, orai por nós."

(HILST, Hilda. Cartas de um sedutor, págs. 78 e 79)

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1. O desejo que é mais que desejo e que só se satisfaz no dilaceramento do objeto cobiçado.
2. Esse universal e inexorável engolimento de uma coisa pela outra. A vontade de absorção do outro, que está em tudo e que é a própria dinâmica da vida.
3. Engolir e excretar, parte do insondável mistério cósmico. Seríamos nós também, no alto de nossa arrogância, dejeto divino? Viemos mesmo do "barro"? "Grande intestino, orai por nós".
4. Bem-vinda, Hilda.