terça-feira, 30 de setembro de 2014

Meus centavos sobre ciclovias e mobilidade urbana

Tenho acompanhado com muito entusiasmo os esforços da prefeitura de SP em implantar ciclovias por toda a cidade. Até agora foram 78,3 km e a meta é chegar a 400 km até o final do ano. Há muito tempo me sinto incomodado e penso na questão da mobilidade urbana, principalmente no questionamento da lógica ultrapassada do transporte individual e, consequentemente, da necessidade crescente da implantação de modos alternativos de locomoção.

Desde 2004 tenho fases em que utilizo a bicicleta (quando minha rotina a favorece, o que não é o caso desde o começo deste ano) e sei dos seus inúmeros benefícios. Sei também que o poder público levar a sério o ciclista, como tem feito, é coisa rara. Temos uma ideia atrasada e extremamente arraigada de que o carro é o senhor por excelência das ruas (e da cidade) e que cabe ao Estado dar condições à esse "reinado". Uma espécie de hierarquia, na qual o topo, naturalmente é de quem anda de carro. Em segundo plano fica o cidadão que é obrigado a andar de transporte público e por último vêm os malucos que tem a audácia de usar a via pública sobre uma bicicleta ("brinquedo e não meio de transporte") e ainda o pedestre, esse ser desprovido de tudo e que se arrisca pelas calçadas estreitas e esburacadas da cidade fedida e perigosa.

Enfim, acho que levar a sério a busca de alternativas sobre o assunto demonstra amadurecimento na gestão pública. E nem é ação de vanguarda. Ninguém aqui está inventando a roda. Pelo contrário, corre-se atrás do prejuízo. Outras cidades já têm modelos integrados de mobilidade muito eficientes e que desestimulam o uso do transporte individual. Criando-se uma cidade mais acolhedora e melhor para se viver.

Aí sempre vem o ignorante e atrasado esbravejar que "isso aqui não é Europa pra querer ficar andando de bicicleta", "isso é pura demagogia e não resolve em nada o problema do transporte", "que esses ciclistas imbecis só atrapalham o trânsito", "que essas ciclovias são todas mal feitas" e outras declarações similares. A ele eu responderia: Verdade, para muitos trajetos SP não é propricia ao uso da bicicleta. Vias muito íngremes, muito movimentadas, distâncias muito grandes... tudo isso dificulta ou impossibilita o uso da bicicleta como único meio de transporte. Mas o ponto não é esse. Antes de tudo é a mudança de mentalidade de quem pensa a cidade, é a possibilidade das próprias pessoas decidirem encontrar a melhor alternativa para si e, principalmente a democratização do espaço público. Para trajetos menores (até uns 8km, digamos) a bicicleta é muito boa, sendo até mais rápida que outros transportes a motor. 

Cabe a nós questionar por que quem sai de casa com uma máquina de uma tonelada, que polui e ocupa um grande espaço público tem mais direitos do que quem resolve sair com uma outra "máquina" que não polui e ocupa muito menos espaço? 17 mil quilometros de vias para carros, tudo bem, mas 400 km de ciclovias aí já é "delírio autoritário" (como disse aquele imbecil do Aloysio Nunes). É claro que podemos e devemos criticar a forma como essa política pública é implantada. O fato de concordar com a proposta não quer dizer que ela não deva ser constantemente aperfeiçoada e fruto do debate entre diferentes pontos de vista.

É óbvio que a bicicleta nem de longe se desenha como solução para a locomoção diária de milhões de pessoas. Fora do transporte de massas não há solução e para isso a gente espera a boa vontade do nosso governador vitalício para construir com uma lentidão irritante o metropolitano de são paulo... De qualquer forma eu ainda vejo essa nova maneira de pensar o problema como necessária e benéfica a médio e longo prazo. O que não dá mais é para viver numa cidade feita para o trânsito de carros.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

do ínfimo infinito


impaciente-
mente
sente
pelos
pelos
todo
sal
toda
saliva.
a carne
viva, 
pulsa e
impele.

tateia
lento,
o lume
úmido,
passeia 
lábio e língua
quentes
em cada
canto
em brasa 
ateia fogo
e abraça
o ínfimo infinito...