tag:blogger.com,1999:blog-56904172391002016242024-03-13T12:09:14.551-03:00carbono e amoníaco"O que eu escrevi não conta. O que eu desejei é tudo."fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.comBlogger433125tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-35099340936410542992016-08-20T12:56:00.000-03:002016-08-20T12:56:25.027-03:00"Como me sinto? Como se colocassem dois olhos sobre a mesa e dissessem a mim, a mim que sou cego: isto é aquilo vê. Esta é a matéria que vê. Toco os dois olhos em cima da mesa. Lisos, tépidos ainda (arrancaram há pouco), gelatinosos. Mas não vejo o ver. <b>Assim é o que sinto tentando materializar na narrativa a convulsão do meu espírito</b>. E desbocado e cruel, manchado de tintas, essas pardas-escuras do não saber dizer, tento amputado, conhecer o passo, cego conhecer a luz, ausente de braços tento te abraçar."<br />
<br />
(HILST, Hilda; Com os meus olhos de Cão, Globo. Pág. 47)<br />
<br />
<br />fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-5961109956702006632016-07-25T00:45:00.000-03:002016-07-25T00:45:43.217-03:00NO ASPROQueria a palavra sem alamares, sem<br />
chatilenas, sem suspensórios, sem<br />
talabartes, sem paramentos, sem diademas,<br />
sem ademanes, sem colarinho.<br />
<b>Eu queria a palavra limpa de solene.</b><br />
<b>Limpa de soberba, limpa de melenas.</b><br />
<b>Eu queria ficar mais porcaria nas palavras.</b><br />
Eu não queria colher nenhum pendão com elas.<br />
Queria ser apenas relativo de águas.<br />
Queria ser admirado pelos pássaros.<br />
Eu queria sempre a palavra no áspero dela.<br />
<br />
(Manoel de Barros, Poemas Rupestres)fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-31502334006796711322016-07-12T15:01:00.003-03:002016-07-12T15:01:44.457-03:00"Temos aí uma definição de literatura: <b>a arte de provocar, com palavras, o gozo de fingir que se sofre.</b> As palavras-chave desta definição são: palavras, gozo, fingir. Sofrer também é, mas devemos trocá-la por paixão, de forma a incluir a sensação que lhe parece oposta: paixão é tristeza e alegria, indiferentemente. Ou como dizia Aristóteles, 'tudo o que faz variar os juízos e de que se seguem sofrimento e prazer'. Um choro de Pixinguinha (1898-1973) se intitula 'Sofres porque queres' - e é também boa definição da estesia literária.<br />
Amar literatura é, pois, um vício: o do <b>gozo fingido</b>, ou do <b>fingimento gozoso</b>"<br />
<br />
(SANTOS, Joel Rufino dos. <i>Quem Ama Literatura não Estuda Literatura: Ensaios Indisciplinados</i>. p. 13 e 14. Rocco, 2008)<br />
___________________________<br />
Quando eu abro esse livro é sempre para (re)aprender alguma coisa.<br />
Para não esquecer do que de fato importa e é substancial. O que tem de fato nos movido nos últimos milênios. Não o intelectualismo grave e pedante, vazio e orgulhoso de si, mas a pulsão criativa, a necessidade de se ir além do (e através do) ser humano e imaginarmos outras vidas, tantas quanto possíveis.<br />
"a poesia nasce do espanto" e nós renascemos através da poesia.<br />
<br />
fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-54431205606598337492016-07-09T23:50:00.000-03:002016-07-09T23:52:42.710-03:00a vitória nossa de cada dia<div style="text-align: justify;">
"<b>Eu não digo que eu tenha muito, mas tenho ainda a procura intensa e uma esperança violenta.</b>(...) E eu não choro, se for preciso eu grito, Lóri. Estou em plena luta e muito perto do que se chama de pobre vitória humana do que você, mas é vitória. Eu já poderia ter você com o meu corpo e minha alma. Esperarei nem que sejam anos que você também tenha corpo-alma para amar. Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira. <b>Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia.</b> Não temos amado, acima de todas as coisas. não temos aceito o que não se entendo porque não queremos passar por tolos. <b>Temos amontoado coisas e seguranças por não termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas.</b> Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amos diga: tens medo. <b>Temos organizado associação e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa.</b> Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. <b>Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.</b> Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rimos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer 'pelo menos não fui tolo' e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza nossa candura. <b>Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia."</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(LISPECTOR, Clarice; <i>"Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres"</i>)</div>
fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-25552998049541178752016-07-02T12:40:00.000-03:002016-07-02T12:40:13.895-03:00final de uma ode'(...) Quisera dividir o corpo em heterônimos - medito aqui no chão, imóvel tóxico do tempo."fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-25826609405816449392016-05-15T12:26:00.001-03:002016-05-15T12:26:58.583-03:00Sexagésimo nono soneto de amorTALVEZ NÃO SER É SER SEM QUE TU SEJAS,<br />
sem que vás cortando o meio-dia<br />
como uma flor azul, sem que caminhes<br />
mais tarde pela névoa e os ladrilhos,<br />
<br />
sem essa luz que levas na mão<br />
que talvez outros não verão dourada,<br />
que talvez ninguém soube que crescia<br />
como a origem rubra da rosa,<br />
<br />
SEM QUE SEJAS, ENFIM, SEM QUE VIESSES<br />
BRUSCA, INCITANTE, CONHECER MINHA VIDA,<br />
aragem de roseira, trigo de vento<br />
<br />
E DESDE ENTÃO SOU PORQUE TU ÉS,<br />
E DESDE ENTÃO ÉS, SOU E SOMOS<br />
E POR AMOR SEREI, SERÁS, SEREMOS.<br />
<br />
(NERUDA, Pablo <i>in </i>Cem Sonetos de Amor)<br />
_______________________<br />
<br />fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-28448418473339985522016-04-21T11:47:00.003-03:002016-04-21T11:47:48.180-03:00"- Não se preocupe - me disse - É assim que deve ser. Os que fazem da objetividade uma religião mentem. Eles não querem ser objetivos, mentira: querem ser objetos, para salvar-se da dor humana."<div>
<br /></div>
<div>
__________________</div>
<div>
Ainda Galeano, que página a página bate e abraça mais.<br /><div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
</div>
fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-72748698699451012432016-03-19T13:48:00.000-03:002016-03-19T13:58:07.816-03:00d'Os Abraços- "(...) talvez a gente seja as palavras que contam o que a gente é".<br />
<br />
_______________________________<br />
"Os poetas andavam em busca de palavras que não conheciam, e também buscavam palavras que conheciam e tinha perdido".<br />
<i><br /></i>
<i>(o apego à palavra exata. o peso de não encontrá-la...)</i><br />
<i><br /></i>fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-9281850835418852812016-01-21T10:37:00.001-02:002016-01-21T10:37:35.834-02:00o apego à palavra exata<br />
o peso de não encontrá-la<br />
(dois versos se foram e ainda estou longe...)<br />
queria tanto...<br />
<br />
a falta que faz<br />
o que não se escreve<br />
mês passado éramos jovens<br />
havia tinta pra tudo<br />
<br />
arrisco, mas não.<br />
leio carlos, releio manoel<br />
vejo notícia antiga e foto velha...<br />
busco o dicionário,<br />
morro na página 3<br />
<br />
a máquina gira o mundo<br />
eu não digo,<br />
mas quero ser feliz<br />
<br />
me escapa a ironia<br />
escondida no desastre<br />
de ser humano e crer<br />
<br />
meio poema deixado em aberto<br />
metalinguagem criando ferrugem<br />
éramos jovens ontem à tarde<br />
mas não... (queria tanto)<br />
<br />
não fingirei que fui capaz<br />
de encontrar.<br />
nenhum verso me ampara,<br />
o dia se arrasta<br />
arrastado fluo também<br />
<br />fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-51437884691467613852016-01-08T17:50:00.002-02:002016-01-08T17:57:15.413-02:00"o pensamento não é neutro; ou ele é confirmação do estado das coisas, ou é crítico e transformador das subjetividades na direção de um pensamento lúcido entrelaçado a práticas lúcidas em tempos obscurantistas"<br />
<br />
(TIBURI, Márcia. "Como Conversar Com Um Facista", Ed. Record)<br />
<br />
___________<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
partindo do princípio, muito claro para mim, de que o <b>pensamento não é neutro</b> (pensar em algo é não pensar em todas as outras coisas, é estabelecer uma ordem para as ideias e para o mundo), podemos utilizar nossa capacidade cognitiva e reflexiva para transformar ou simplesmente reforçar o <i>status quo. </i>podemos ser meros replicadores do passado estabelecido ou propor e considerar novas posturas frente a eternas questões. </div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
porém, considerar-se questionador ou somente opor-se ao estado das coisas não basta. a crítica por si só é limitada em sua capacidade de transformar e induzir o processo dialético. tanto quanto possível, há que se buscar, enquanto sujeito, a <b>lucidez teórica e prática</b> como forma de combater o obscurantismo que sempre ronda muito perto todas as nossas formas de pensamento.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
por que eu estou dizendo isso? não sei exatamente. um pouco talvez pelo desalento que me causa ver a <b>vontade e a ação transformadora </b>se deixarem seduzir tão facilmente pelo atalho das ideias pré-concebidas. me pergunto (e já sei a resposta) até que ponto é válido supor-se crítico quando o que se faz, na verdade, é substituir um pensamento obscurantista por outro, com a aparência um pouco mais moderninha...<br />
<br />
acho que é isso. que venha 2016...</div>
fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-30695631255107223072015-11-16T17:31:00.000-02:002015-11-16T17:31:03.462-02:00W.O.?fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-6643177062311402182015-09-02T12:52:00.000-03:002015-09-02T17:10:50.181-03:00Dacnomaniavem cá, te explico<br />
cada dente é um argumento,<br />
torto e dolorido,<br />
que tua pele escuta atenta.<br />
incisivo, te convenço<br />
canino, te convido<br />
<br />
conto, na mordida,<br />
da fome por tua vida<br />
te faço presa, rio,<br />
num blefe, te desafio<br />
no jogo que não venço<br />
com regras que não sigo<br />
<br />
mastigo o teu disfarce<br />
por esporte e por instinto<br />
cuspo o teu discurso<br />
de metal enferrujado<br />
só me interessa o frágil frêmito<br />
da razão abocanhada<br />
<br />
<br />
<br />
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-17347664866782514082015-08-12T13:19:00.000-03:002015-08-12T13:25:35.999-03:00sobre os incovenientes da linguagem..."Não sei o que estou dizendo, tudo se suja quando digo..."<br />
<br />
(Júlio Cortázar)<br />
___________<br />
(<i>e se eu continuasse, sujaria ainda mais e mais)</i>fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-33720949152472210462015-07-03T11:44:00.001-03:002015-07-03T11:47:51.221-03:00Algumas linhas sobre "O Último Poema do Rinoceronte"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEoElANxtSXqwXmOLBZwVcRJJ1hfPVpTKPLstlm_mQVs_JbmxuXtkQSIHqUJyxX7Y6nUZ7P0Elbqp1Oi3501-PUW9ShwDhvYVqazWVVhOGpS3bQ-X44cSp2X-SwrkYtFk3uiclSQ76QPI/s1600/poema+rinoceronte+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEoElANxtSXqwXmOLBZwVcRJJ1hfPVpTKPLstlm_mQVs_JbmxuXtkQSIHqUJyxX7Y6nUZ7P0Elbqp1Oi3501-PUW9ShwDhvYVqazWVVhOGpS3bQ-X44cSp2X-SwrkYtFk3uiclSQ76QPI/s400/poema+rinoceronte+1.jpg" width="273" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esteticamente lindo e envolvente, "o último poema do rinoceronte" baseia-se na vida do poeta curdo-iraniano Sadegh Kamangar que, quando da Revolução Iraniana de 1979 (que implicou na derrubada do xá e na tomada de poder pelo aitolá Khomeini) foi injustamente preso, acusado de escrever poemas de cunho político e condenado a longos anos de cárcere, tendo sido inclusive declarado morto para sua família. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O foco da história é Sadegh Kamangar já liberto, 30 anos depois, quando vai em busca de sua esposa e descobre que ela se casou novamente e saiu do país, indo para Turquia. Os acontecimentos do passado e seus desdobramentos vão sendo revelados pouco a pouco, através de suas lembranças, que se alternam com o tempo presente. Além disso, o filme conta com construções visuais belíssimas que retratam cenários vazios e cores esmaecidas, que transbordam a poesia de Kamangar para a tela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É um filme essencialmente triste. O próprio protagonista parece carregar em seu rosto as marcas e o peso do passado dos quais ele não parece ser capaz de se livrar. Não há salvação possível e a própria felicidade se coloca como algo que ficou distante, perdido no passado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já tinha tido algum contato com esse contexto histórico (da Revolução Iraniana) com a HQ e o filme de "Persépolis", então achei ainda mais interessante o tema, principalmente pela delicadeza com que são abordados os dramas pessoais que surgem a partir de acontecimentos políticos. É aterrador pensar em quantas vidas são destroçadas por conta de diferenças ideológicas e lutas pelos poder.</div>
fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-49406871741285068942015-06-22T10:42:00.001-03:002015-06-22T10:44:51.804-03:00Uma coisa sobre Victor Hugo<div style="text-align: justify;">
"Pensar no <b>prolongamento das coisas defuntas</b> e no governo dos homens por embalsamamento, restaurar os dogmas em mau estado, tornar a dourar a caixa de relíquias, renovar os claustros, tornar a benzer relicários, reviver as superstições, reabastecer o fanatismo, colocar novos cabos nos sabres e nos aspersórios, <b>reconstituir o monaquismo e o militarismo</b>, crer na salvação da sociedade pela multiplicação dos parasitas, <b>impor o passado ao presente</b>, tudo isso parece estranho. No entanto, há teóricos para essas teorias. <b>Esses teóricos, aliás pessoas de espírito, têm um procedimento bem simples, aplicam ao passado um reboco a que dão o nome de ordem social, direito divino, moral, família, respeito pelos antepassados, autoridade antiga, tradição santa, legitimidade, religião; e vão gritando: 'Vejam! Tomem isso, homens de bem!'.</b> Essa lógica também era conhecida dos antigos. Cobriam de cal uma novilha preta, e diziam: "É branca"."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
(HUGO, Victor; Os Miseráveis, p. 557)</div>
<div style="text-align: justify;">
__________________________</div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Impressionante como Victor Hugo escreveu essas linhas há mais de 150 anos e se encaixam PERFEITAMENTE na nossa realidade! Em pleno ano de 2015 (não que isso faça muita diferença) vemos crescer de maneira generalizada os brados acalorados pelo militarismo e, se não pelo monaquismo (vida em retiro, totalmente consagrada a Deus no silêncio, na penitência e no trabalho), pelo menos por algum tipo muito peculiar e ferrenho de "religiosidade" que tem na bancada evangélica do congresso nacional a sua mais alta e perigosa representação. Há uma tentativa recorrente e cada vez mais forte de se "impor o passado ao presente". Temos lido sobre isso quase todos os dias nas páginas que cobrem a política e o comportamente e não há nenhuma previsão de melhora.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Ainda mais certeira é a maneira como Victor Hugo analisa o procedimento desses "teóricos", que aplicam ao passado um reboco a que chamam de ORDEM SOCIAL, MORAL, FAMÍLIA, DIREITO DIVINO, exatamente como é feito hoje em dia. Depois vendem esse passado para o indignado "homem de bem", que sedento por "tornar a dourar a caixa de relíquias", atribui os males do mundo ao distanciamento de valores que se perderam. Defendem que "bom era antigamente" e clamam por mais moral, por mais família, por mais direito divino. Pegue qualquer um desses assuntos relevantes e polêmicos da atualidade (homofobia, aborto, tolerância religiosa, maioridade penal, descriminalização das drogas...) e constate que eles estão, afinal, pautados pelos "teóricos das coisas defuntas" através das ideologias citadas acima e de um tempo pra cá isso tem se tornado ainda mais perceptível e preocupante.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-79803044525653082212015-06-17T17:43:00.004-03:002015-06-18T00:44:29.015-03:00Sozinhos somos...Com tanta delicadeza<br />
Reordena minhas ideias<br />
Muda a ordem dos capítulos<br />
Me relê de trás pra frente<br />
<br />
Traz sentido para as partes em que nem eu me entendo<br />
Traz leveza para as tardes em que nem eu me suporto, não.<br />
<br />
Há um risco inerente<br />
Nesses corpos que se chocam<br />
Mas você tira de letra<br />
E corrige a minha rota<br />
<br />
Talvez eu me perca no argumento<br />
Ou descubra o infinito<br />
<br />
Num rascunho inacabado de uma noite de novembro<br />
Na obra definitiva que ainda não escrevemos, não, não...<br />
<br />
Deixa o sim sair, assim, sereno.<br />
O céu é seu, é o sol surgindo<br />
Sei não há saudade que resista<br />
Sozinhos somos a multidão<br />
<br />
Tem <a href="https://soundcloud.com/carbonoeamoniaco/sozinhos-somos" target="_blank">aqui</a>.<br />
_________________________<br />
<br />
<i>Porque "trás pra frente" pode acabar sendo a ordem certa.</i><br />
<i>E entre o rascunho e a obra definitiva a gente vai perdendo os argumentos e descubrindo o infinito...</i><br />
<br />fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-67210877669254975602015-06-13T13:35:00.003-03:002015-06-15T16:40:28.634-03:00Uma coisa sobre Arthur Schopenhauer<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<i><span lang="pt">"Ele [Schopenhauer]
entendeu que se pudermos reconhecer que nossa separação do universo é
essencialmente uma ilusão (porque as vontade individuais e a Vontade do
universo são uma única coisa) podemos descobrir uma <b>empatia com o mundo</b> e tudo
o mais, e a bondade moral pode surgir de uma <b>compaixão universal</b>."<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt"><br /></span>
<span lang="pt">(O Livro da Filosofia)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
____________________<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt">às vezes me perguntam no
que eu acredito, metafisicamente falando. penso bastante sobre o assunto, mas acho que acredito
mesmo em muito pouca coisa. não consigo deixar de perceber, aqui e ali, a
<b>limitação</b> e a <b>fragilidade</b> dos grandes sistemas cosmológicos, o <b>absurdo</b> das
explicações do universo e das revelações religiosas. principalmente <b>não
acredito nos homens que as professam</b>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt">mas se tem um raciocínio
que me é particularmente instigante é o de Schopenhauer, acima. a ideia de que cada um de nós,
enquanto indivíduos, estamos essencial e irreversivelmente ligados uns aos outros, e mais,
ligados ao universo como um todo, me parece fazer bastante sentido. estamos
todos no mesmo barco, não temos pra onde fugir, carregamos entre nós muito <b>mais
identidades do que diferenças</b>. enquanto espécie, compartilhamos os mesmos vícios e virtudes em potencial e funcionamos de um jeito muito parecidos, através da <b>vontade</b>, diria
Schopenhauer, essa força indefinida presente em tudo e que leva o homem a
<b>desejar e a buscar sempre mais</b>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt">o que são todas as
tragédias humanas, lutas, guerras, injustiças, opressões, sofrimento, que não, de uma forma ou de
outra a intolerância, a negação do outro e a busca quase irrefreável por algo mais? acreditamos que somos diferentes,
que estamos mais certos/ mais iluminados/ mais escolhidos por deus e que devemos
fazer valer essa diferença, nos auto afirmar e nos impor sobre o outro, exercer domínio, quando na
verdade o que temos é uma origem, um destino e um fim basicamente comuns.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt">não que eu compre tais ideias necessariamente como Verdade absoluta, acho que se simplifica em alguns pontos e acaba beirando ao misticismo. Também não nego a condição propriamente conflituosa das relações humanas, mas acho, sim, que é essa uma interpretação muito menos belicosa e
destrutiva, ainda que utópica, de nos esforçarmos para criar pontos de tolerância, empatia
e identificação com o outro (seja seu vizinho, seja o País no outro lado do
mundo) e que de alguma forma arrefeçam (ou escancarem quão ridícula e vazia é) essa
gana humana pelo exercício de supremacia e dominação.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-55397418392128674002015-05-19T11:43:00.002-03:002015-05-19T11:46:54.270-03:00Woody Allen, a falta de sentido da vida e uma música da década passada...<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Estava lendo sobre o novo filme do Woody Allen, que estreou no festival de Cannes semana passada (Irrational Man) e numa de suas respostas me deparei com um pensamento que, apesar de bastante recorrente em sua obra, me pegou mais uma vez:</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
"Como artista, você tem que passar ao público a ideia de que a vida tem um sentido. Mas você está trapaceando, porque não tem nenhum sentido. Qualquer coisa que você criar vai desaparecer, assim como o Sol, a Terra, Shakespeare, os Beatles. Tudo o que você pode fazer na vida é se distrair e ter alguns bons momentos, se manter ocupado. É o que farei até o dia em que eu for velho... Num futuro muito distante" (W. Allen) </blockquote>
<div style="text-align: justify;">
É isso! A arte com um refúgio, um argumento, ainda que fugidio e limitado, para a vida. A possibilidade de criar sentido, de encantar o mundo, de fazer rir e chorar... ainda que se saiba que de forma temporária, frágil e sem nos levar a lugar algum. Afinal, não há lugar aonde ir, o nosso lugar é aqui mesmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Confesso que, particularmente, sou partidário dessa forma de ver as coisas. Não creio que o universo enquanto tal possua um sentido em si, absoluto. Não há pote de ouro no fim do arco-íris. Em breve tudo irá desaparecer. Não importa quão grandioso ou aparentemente definitivo, irá desmoronar... Outros gigantes já viraram pó antes e nós mesmos estamos fadados ao esquecimento. Seremos sucedidos por outros e outros, num ciclo a perder de vista. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas veja, essa não é exatamente uma negação da vida e só a princípio soa pessimista. Pelo contrário, se soubermos conviver com isso, ao nos livrarmos do peso excessivo da continuidade, da linearidade, do definitivo, podemos ser mais livres para criar e recriar, para sermos nós mesmos. Não somos (enquanto civilização ou indivíduos) o centro do universo, muito pelo contrário. Ainda bem! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nesse sentido, o niilismo pode ser um belo ponto de partida para a leveza, o bom humor e a capacidade de "entendimento". A partir do momento em que não podemos fugir da nosso própria insignificância, temos que nos valer dela própria para nos situarmos no mundo. Pintar, escrever, atuar (ou tomar uma cerveja no bar com um amigo) acabam se tornando tarefas mais humanas, expressões ao mesmo tempo limitadas e poderosas da nossa existência e de como compartilhamos isso uns com os outros, enquanto é tempo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez tenha ficado abstrato demais, pretensioso. Só queria mesmo dizer que essa referida falta de sentido da vida pode ser libertadora, divertida e um tanto quanto mais honesta intelectualmente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando li a declaração, me lembrei imediatamente de "Suportar", a sexta música do disco "Sublime Mundo Crânio" do Lasciva Lula, banda que, se não me engano, já não existe mais, mas que, com pouquíssimas palavras também consegue tratar do caráter incerto e fugaz da vida:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"suportar</div>
<div style="text-align: justify;">
ocupar o tempo </div>
<div style="text-align: justify;">
suportar </div>
<div style="text-align: justify;">
ocupar o tempo </div>
<div style="text-align: justify;">
como estepe, manter </div>
<div style="text-align: justify;">
talvez tentar ser feliz </div>
<div style="text-align: justify;">
nada mais."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sei que acaba por adquirir um teor um pouco desiludido, mas gosto da maneira crua e sem subterfúgios com que se enfrenta a questão: é suportar, ocupar o tempo e talvez tentar ser feliz. Acho que esses pontos, por si só, já nos mantêm suficientemente ocupados na nossa busca por "viver". E é isso que me faz imensamente grato pelo Sr. Woody Allen continuar lançando anualmente ótimos filmes, de forma ajudar a ocupar meu tempo da melhor maneira que posso imaginar. Até quando formos bem velhinhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Nada mais...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-32351066984557538362015-04-27T11:08:00.000-03:002015-04-27T11:22:06.589-03:00Ocupação Hilda Hilst - 21/04/2015<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTJo690dqwG7Ib9KKmebX4AQm2c4agqN61dxq4y7XJU0xAKBiM4kI7KLbXcE305LZBLX6izUa6AAeE0NgiO3iCwkW6W7xdyky3Cby6LEFsgsDRDWKcrpBNGwzBiuYTvpc1YjxDRP0aS_g/s1600/2015-04-21+23.03.20.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTJo690dqwG7Ib9KKmebX4AQm2c4agqN61dxq4y7XJU0xAKBiM4kI7KLbXcE305LZBLX6izUa6AAeE0NgiO3iCwkW6W7xdyky3Cby6LEFsgsDRDWKcrpBNGwzBiuYTvpc1YjxDRP0aS_g/s1600/2015-04-21+23.03.20.jpg" height="225" width="400" /></a></div>
<br />
<i>hein!?</i><br />
<br />fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-85549996532106072612015-03-20T17:47:00.002-03:002015-03-20T17:47:37.423-03:00Na Enseada de Botafogo<div style="font-family: Verdana,Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: 12px; line-height: 24px; text-align: left;">
Como estou só: Afago casas tortas,<br />Falo com o mar na rua suja...<br />Nu e liberto levo o vento<br />No ombro de losangos amarelos.</div>
<div style="font-family: Verdana,Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: 12px; line-height: 24px; text-align: left;">
<br /><b>Ser menino aos trinta anos, que desgraça</b><br />Nesta borda de mar de Botafogo!<br />Que vontade de chorar pelos mendigos!<br />Que vontade de voltar para a fazenda!</div>
<div style="font-family: Verdana,Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: 12px; line-height: 24px; text-align: left;">
<br />Por que deixam um menino que é do mato<br />Amar o mar com tanta violência?</div>
<div style="font-family: Verdana,Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: 12px; line-height: 24px; text-align: left;">
</div>
<div style="font-family: Verdana,Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: 12px; line-height: 24px; text-align: left;">
(Manoel de Barros) </div>
<div style="font-family: Verdana,Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: 12px; line-height: 24px; text-align: left;">
_________________</div>
<div style="font-family: Verdana,Arial,Helvetica,sans-serif; font-size: 12px; line-height: 24px; text-align: left;">
"que desgraça... bem sei"</div>
fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-79269667993269733462015-03-18T15:43:00.000-03:002015-03-21T00:35:09.477-03:00Meus centavos sobre as manifestações de domingo<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1pNL4jHyg8zQm4tth5DqliDtcTRXe96oxsoZmmnICHTWFLxteI-wrusL2pqjmGXL2NbwObgbeXMWq2McOv9Jxkq7QXOrpFpzZaZlp0jI2keHrdh4qtcyScOCZKUu2fRk6uYlxWNvkYd8/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1pNL4jHyg8zQm4tth5DqliDtcTRXe96oxsoZmmnICHTWFLxteI-wrusL2pqjmGXL2NbwObgbeXMWq2McOv9Jxkq7QXOrpFpzZaZlp0jI2keHrdh4qtcyScOCZKUu2fRk6uYlxWNvkYd8/s1600/images.jpg" height="265" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO4THIp0WblMbXKM4wvSU0snke-6TKyT0g3E1J5Ef2CRTmsUO0CpEkn9D6eTpQaNWc2tFrypjkvzEuaJXfbHReNmMJO98_oFYLO1KLHnS4gvv43LdW49hkQdOV5mVBnSGXLcrFI7S8ta0/s1600/foradil.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a></div>
Domingo, dia 15/03, houve manifestação em diversas cidades do Brasil para protestar contra o governo federal e a corrupção (do PT) e que reuniram, segundo os organizadores, 3 milhões de pessoas e segundo as PMs 2,4 milhões. Não tenho motivos para acreditar em tais números, mas reconheço que muitas pessoas foram às ruas para reclamar, em mais um episódio da recente crise institucional e de insatisfação com o governo Dilma. Abaixo algumas considerações sobre o tema:<br />
<br />
<b>1. Acho espantoso como o PT e o governo como um todo têm conseguido se auto-sabotar.</b> Têm demonstrado falta de habilidade em ouvir e negociar, se isolando cada vez mais, causando estremecimento na "base aliada", desmobilizando sua militância e simpatizantes e dando muita munição para a oposição (inclusive a midiática) com declarações e medidas pouco inteligentes, além da falta de diálogo e de habilidade política. Conseguiu-se erigir uma enorme antipatia pela presidente e seu partido que, ainda que confusa, baseada em preconceitos e insuflada pela mídia, é, em grande parte fruto dos próprios feitos petistas.<br />
<br />
<b>2.</b> Pontuada a inegável responsabilidade do PT sobre a atual situação econômica, política e social do País, quero destacar que uma parcela da população foi às ruas no domingo passado após uma <b>descarada e calorosa propaganda da grande midia,</b> que fez questão de vender os protestos da forma mais simpática possível, em tom convocatório. Assisti ao esporte espetacular por meia hora na manhã de domingo e ouvi mais sobre as manifestações do que sobre esporte. A própria maneira como se referiam a elas durante todo o dia tinha o claro objetivo de convidar as pessoas à participarem. <br />
<br />
<b>3. Considero que manifestações populares são justas, salutares e necessárias para qualquer regime minimamente democrática. </b>Todo tipo de pessoa pode e deve sair às ruas para dar voz às suas opiniões, por mais que eu me contorça por dentro ao tomar conhecimento de seu conteúdo. Afinal, liberdade para se expressar é fácil, difícil mesmo é liberdade para o outro, que está no lado oposto, poder dizer o que pensa (ou às vezes que não pensa). <br />
<br />
<b>4. Por outro lado, também acho justo, necessário e salutar que discordemos (até veementemente) das opiniões alheias.</b> Se há o direito de expressar, também há o de discordar e contra-argumentar. Ambos se complementam. E é dessa forma que eu me coloco diante das manifestações que ocorreram domingo. Claro que eu acho que o governo precisa ser pressionado, principalmente diante das graves denúncias de corrupção e também quanto às medidas que vêm sendo adotadas, mas não consigo me identificar nem um pouco com um movimento daqueles, que reuniu saudosos da ditadura ("intervenção militar constitucional", hahaha), golpistas e conservadores em geral, numa histeria coletiva raivosa e desinformada. A pauta que se colocava ali, ainda que pulverizada e difusa, não passa nem perto da minha. Pior ainda, quando boçais como Silas Malafaia e Bolsonaro convocam a população para uma manifestação é sinal de que eu definitivamente NÃO tenho nada pra fazer ali... <br />
<br />
<b>5. Na MÉDIA, estavam presentes pessoas mais brancas, mais ricas, mais velhas e, principalmente, muito mais conservadoras</b>, expondo o que eu considero um patriotismo ufanista, constrangedor e agressivo que só reforça a polarização e a falta de diálogo. A oposição minimamente coerente e articulada era irrisória diante de tantos "defensores da pátria" com as cores da bandeira e camisas da CBF, segurando faixas e entoando gritos ofensivos e desconexos. A impressão que dava ali é que pouco importava a corrupção em si, o importante era atacar o PT, por ser o PT e nada mais. Aqui em SP não se viu nenhuma plaquinha contra o governo do estado ou contra qualquer outro partido. Todos os males do Brasil parecem ser culpa do PT, numa associação infantilizada. Quando colocamos as coisas desse jeito estamos livrando a cara de todos os outros e virando as costas pr'aquilo que realmente importa. <br />
<br />
<b>6. Especificamente sobre os delirantes defensores de um regime militar</b>, não preciso dizer o quão ridícula e ultrajante me soa essa ideia. Pior ainda quando clamada pelo "povo" supostamente "ofendido" pelo "mar de lama" que se tornou a política nacional, numa demonstração de que se entende pouco e se fala muito quando o assunto é política. Sem querer soar clichê, mas um governo que censura, cassa adversários, tortura, mata, aliena a população, nunca será a resposta para os nossos problemas. Sim, eu até acredito que a maioria dos presentes não defendia tal bandeira, mas acho estranho não se incomodarem de dar força e visibilidade a esse pessoal...<br />
<br />
<b>7. Quanto aos pedidos de impeachment,</b> os considero despropositados e voltados simplesmente para desestabilizar o governo. Se a intenção é melhorar/ moralizar a forma de se fazer política no Brasil, não consigo ver esse caminho como minimamente razoável. Soa como raivinha juvenil ao se focar excessivamente no PT e na Dilma e livrar a barra de todos os outros. Isso me preocupa, pois distorce a realidade, fragiliza ainda mais nossa democracia, acirra os ânimos e demonstra uma preguiça horrível de se pensar um pouco mais além. Simplesmente se contenta em repetir à exaustão que a culpa é do PT e pronto, já temos a bruxa para queimar na fogueira. Porém, veja que ironia: Em outras épocas era o PT (o "arauto" da honestidade e da moralidade na política) que pedia o impeachment do FHC e hoje tem que ouvir tal clamor de cabeça baixa e sem muitos argumentos em sua defesa.<br />
<br />
<b>8. Os nossos problemas enquanto Estado e sociedade são muito maiores e mais antigos</b>, não começam e nem terminam na era PT como querem fazer acreditar os nobres defensores da pátria. Diz respeito à nossa cultura política e tanto ao sistema eleitoral quanto ao sistema político. Envolve todos os partidos e a forma como eles se relacionam com o poder. O financiamento privado de campanha, por exemplo, é um piada em todos os sentidos. Não há NENHUMA justificativa para empresas """doando""" milhões de reais para a campanha de políticos, que culminarão em relação escusas entre os futuros eleitos e essas empresas. A quantidade de partidos e a forma como eles chegam ao poder também é falha e precisa ser mudada urgentemente (a famosa reforma política), pois reforçam o clientelismo, o fisiologismo e a troca de favores.<br />
<br />
<b>9. Finalizando</b>, acho que não preciso dizer que sei que o governo atual tem um caminhão de problemas e que, a despeito da atuação parcial da mídia, quero que
todos os responsáveis por maus feitos nessa investigação e em outras, sejam duramente responsabilizados
e inclusive que o PT sofra o que tiver que sofrer no que tange à sua credibilidade
frente ao eleitor. Lembro que o Lula falou no início do seu governo, que o PT não poderia errar. Pois bem, erraram feio e vão ter que pagar a conta...</div>
fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-27112927931371087322015-03-15T12:52:00.001-03:002015-03-15T12:58:22.254-03:00a canção de outros temposouça aqui: <a href="https://soundcloud.com/carbonoeamoniaco/a-cancao-de-outros-tempos" target="_blank">https://soundcloud.com/carbonoeamoniaco/a-cancao-de-outros-tempos</a><br />
<br />
por que você não passa aqui?<br />
eu tenho um vinho bom<br />
e podemos conversar<br />
sobre tanta coisa<br />
<br />
eu sei que você ri de mim<br />
quando eu começo a gaguejar<br />
por não saber o que dizer<br />
e quase nunca sei<br />
<br />
você me pede pra contar<br />
o que eu andei fazendo todo esse tempo<br />
ah, eu desvio o olhar<br />
acho que prefere não saber<br />
<br />
você me pede pra cantar<br />
as canções de outros tempos<br />
mas eu já não sou o mesmo<br />
e nunca lembro a letra<br />
<br />
por que você não fica mais?<br />
eu passo um café<br />
e a gente espera o sol nascer<br />
sentado na varanda<br />
<br />
gosto de te ver assim,<br />
sob a luz branca da manhã<br />
emoldurando o seu rosto<br />
enquanto rói as unhas<br />
<br />
e me pede pra contar<br />
o que eu andei fazendo todo esse tempo<br />
você percebe num olhar<br />
acho que não preciso te dizer<br />
<br />
você me pede pra cantar<br />
as canções de outros tempo<br />
mas eu já não sou o mesmo<br />
e nunca lembro o refrão<br />
que te pedia pra ficar<br />
um pouco mais que a vida inteira<br />
você diz não acreditar no que se diz numa canção<br />
então esqueça os três minutos<br />
que eu te conto o que passou<br />
e a gente inventa o que seráfernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-4114103062324250472015-03-03T11:21:00.000-03:002015-03-03T11:32:27.892-03:00Algumas linhas sobre "Trovões a me atingir"<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisdsosOXPW6NQ_zySf2edtQ2AYESnLV_8bWUktzF906fScgrcc6t8jwlsNjX8ml4JdAzmZi_w-fmaNJAfMBhVjDXXnx5XNTWT6_ju8wlgThajthHsjznDn5eMmMbGqil8ubJ7DYAIfk-A/s1600/a0837450874_10.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisdsosOXPW6NQ_zySf2edtQ2AYESnLV_8bWUktzF906fScgrcc6t8jwlsNjX8ml4JdAzmZi_w-fmaNJAfMBhVjDXXnx5XNTWT6_ju8wlgThajthHsjznDn5eMmMbGqil8ubJ7DYAIfk-A/s1600/a0837450874_10.jpg" height="320" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Demorei um pouco pra ter uma opinião mais consolidada sobre o novo álbum do Jair Naves, "Trovões a Me Atingir". Confesso que numa primeira ouvida não me pareceu lá grande coisa, no máximo uma boa continuidade do anterior. Porém, é o tipo de álbum que não se pega de primeira e segue num crescente. Foi preciso tempo para apreciar os pequenos e inúmeros detalhes que o constroi. </div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Primeiro de tudo, o trabalho me soou muito coeso e bem acabado. As harmonias e os arranjos estão excelentes, uma combinação bem dilapidada de diversas sonoridades. A ponto de me pegar esperando, por exemplo, o teclado e o backing vocal de "5/4", o trompete e a percussão no final da belíssima "B", o violão delicadamente arranhado e o violoncelo de "Prece Atendida" ou ainda a linha de baixo da parte final de "No Meu Encalço". Enfim, são pequenos grandes momentos que, aliados à já caracterísca intensidade do Jair, me agradaram demais, formando músicas poderosas, na mensagem e no som, sem preciosismos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As letras continuam com a pungência e a profundidade poética já características. Tratam de temas como desilusão, solidão, relacionamentos, sempre de uma maneira densa e de uma perspectiva pessoal. Desde que o conheci me agradou a maneira como ele mistura tão bem delicadeza e lirismo com uma virulência latente que se insinua em sua voz grave, na métrica "alongada" de versos doloridos. Há urgência e "verdade" no que ele canta. Porém, aqui, perceptivelmente a forma do Jair Naves cantar está mais suave, sua energia está mais dosada e canalizada. Há mais sussurros e menos gritos. Aprofunda essa impresão os muito bem-vindos vocais femininos, inclusive na quarta faixa, "B", em que a Bárbara Eugênia canta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Devo comentar também que o projeto gráfico do álbum físico está muito bonito, inclusive a capa em que, a despeito do nome do disco, o que atinge o músico são os raios de um dia ensolarado. Haveria aí um jogo intencional entre palavra e imagem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sempre me sinto limitado ao tentar comentar sobre música. O fato é que cada acorde me soou relevante, as nove músicas de "Trovões a me atingir" formam um disco agradável, cheio de qualidades e muito maduro, numa instigante evolução em relação ao álbum anterior de um artista que sem dúvida está entre os meus favoritos.</div>
fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-19129388837730412122015-02-19T12:42:00.000-02:002015-02-19T17:20:07.863-02:00Algumas linha sobre "Maus"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<img alt="http://lounge.obviousmag.org/fugindo_do_lugarcomum/2014/08/os-ratos-sem-valor-de-maus.html.jpg" class="decoded" src="http://lounge.obviousmag.org/fugindo_do_lugarcomum/2014/08/os-ratos-sem-valor-de-maus.html.jpg" height="400" width="276" /></div>
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Li semana passada "Maus", uma HQ de inspiração biográfica, que conta a história de Vladek Spielgeman, um judeu sobrevivente do holocausto. Fiquei realmente chocado pelos detalhes de sua trajetória e de uma época histórica que, apesar de já retrada à exaustão, sempre me parece assustadoramente inverossímel. Difícil imaginar até que ponto chegou a negação da humanidade de alguns grupos.</div>
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O traço é simples, sempre em P&B e sem tantos detalhes, mas os quadros abusando do preto acabam por dar um ar sombrio às cenas, numa ambivalência entre o "infantil" do desenho e o grotesco da história contada. Os personagens são retratados como animais e coube aos judeus serem ratos, enquanto os nazistas são gatos. Um elemento simbólico quase pueril, mas que martelado do início ao fim da história serve pra expor ironicamente ainda mais a posição que os judeus ocupavam naquela absurda relação de dominação. Eram caçados como ratos e exterminados como ratos. </div>
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A história em si começa quando o próprio Art Spielgeman, o autor, procura seu pai para que ele conte suas memórias sobre o holocausto, para um projeto de fazer desenhar um história que retratasse a época. Achei legal essa sacada metalinguista, já que, além da narrativa principal, há a todo momento a conversa entre pai e filho, a preocupação com a obra a ser feita e as relações cotidianas de uma vida normal. Serve inclusive como contraponto os momentos da conversa entre eles, entre um reparo na casa e uma caminhada pela rua e os tensos relatos de pessoas se escondendo em buracos sujos ou amontadas em campos de concentração. </div>
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Vladek não é nenhuma herói, só um homem com afiado senso de sobrevivência, inteligente e muito sortudo, que, muitas vezes através da barganha e de contatos, consegue superar uma adversidade de cada vez, pacientemente esperando algo melhorar. Ao longo da década de 30 e até o fim da II Guerra, a situação dos judeus na Polônia vai se gradativamente insustentável e o tempo todo vemos pessoas sendo perseguidas, desalojadas, humilhadas, violentadas e lentamente exterminadas. Mais do que isso, o que mais choca é que até a própria humanidade é negada. Matar judeus passa a se tornar uma tarefa burocrática e rotineira. É impressionante a quantidade de pessoas, entre familiares e amigos, que sucumbem ante ao nazismo de muitas formas diferentes e isso só ressalta a sorte e habilidade do protagonista em se manter vivo. Por outro lado, nos dias em que narra sua história, Vladek é o caracterísitco judeu sovina (e até mesmo racista), o que lhe dá ares mais humanos (sem forçar virtudes onde elas não existem) e que também chega a ser engraçado.</div>
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Conta positivamente também o comedimento quanto ao sentimentalismo e a dramaticidade. Acabaria sendo piegas e desnecessário abusar desses recursos para contar uma história que por si só já é pesada e de difícil assimilação. Não há tentativas de se emular heroísmo ou mesmo uma vitimização exagerada, assim como os próprios sentimentos (que sem dúvidas estavam muito latentes nas situações vividas) transparecem na medida certa. </div>
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A história contada do ponto de vista de pessoas comuns realça muito a insanidade e violência que vigoraram principalmente na Europa naquela época. O antisemitismo já fazia parte da realidade, mas de uma hora pra outra não se é ninguém mais do que um judeu (uma raça de "não-humanos"), e pouco a pouco não se tem mais direito à casa, profissão, família ou mesmo nome e não há muito o que fazer, já que essa violência constante e a negação vivida num dia a dia asfixiante fez ruir muito da capacidade de resistência desses seres humanos. Muitas vezes eu me perguntava o porquê deles não lutarem, sabendo que iam morrer de qualquer forma, mas creio que seja difícil (e o próprio Vladek diz) lutar quando se está esfacelado, com frio, fome, medo e tentando preservar o mínimo de sua própria dignidade.</div>
<br />fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5690417239100201624.post-69703195257842171812015-01-13T15:11:00.001-02:002015-01-13T15:11:58.096-02:00Algumas linha sobre "Ida"<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGBzFGGWuvwuFIrmgVJ_RrJAQJJ0QPRLnguMB5itOF6fqseyx9onN0WF4SyVVzkSlyjaq2bLOSHRaCRVniOPz26r7nmZzGBNKLK49J9fsrzt7gg1NSxJXDDf3TWynYmkAUZmYhZEXCoPA/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM8-yjmaXzEfc-aziVcSEQawriOF9yz6XsimRtWJMF3Cgzt5e_zrbMbZtf5p25fh0CS0lykFrqXDq3jO_KpQG7tKq_o1Gtt7hcH_CCUM7y_FqlKwgyHOBgqYAGkBK5ZTRpip_DGHK5zfk/s1600/%C3%8Dndice.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a></div>
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e minha primeira incursão numa sala de cinema este ano não poderia ter sido melhor!<i> </i><i>Ida (2013) </i>é um filme incrivelmente bonito, visualmente delicado e bem construído, numa sucessão por vezes brusca de quadros estáticos e frios. a fato de ter sido filmado em preto e branco e o enquadramento dos personagens na parte inferior da tela (e acima de suas cabeças grandes paredes brancas ou o céu nublado) só reforça a sensação de desconforto e vazio em que se encontram.</div>
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o filme se passa na Polônia dos anos 60 e conta a história de Anna, uma orfã crescida num orfanato católico, que às vésperas de se tornar freira fica sabendo que possui uma tia, sua única parente viva e que, por orientação da madre superiora, ela deve ir visitá-la antes de fazer seus votos. nada mais oposto à realidade daquela menina que "nunca tinha estado em lugar nenhum" do que entrar em contato com o modo de vida da tia, que mistura uma melancolia intrínseca à excessos de sexo, bebidas e tabaco. apesar do choque inicial desse encontro e de ser recebida com uma certa frieza, elas acabam se unindo pela frágil reminiscência de um passado em comum e pegando a estrada a fim de tentar descobrir onde os pais de Anna (judeus na época da II guerra) haviam morrido e sido enterrados. </div>
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não quero contar mais da história, que acaba não se resumindo à busca pelo passado perdido ou ao encontro dessas duas mulheres tão diferentes entre si. no caminho a relação entre tia e sobrinha se
desenvolve, entre estranhamentos e afetos rotos, mas são mundos que nunca chegam a ser interpenetrar totalmente e que, apesar de ter um entroncamento em comum (a morte da mãe/ irmã de uma forma cruel), acabam permanecendo distanciadas. no fim da viagem, algumas perguntas são respondidas, porém outras continuam em aberto, as quais cada uma delas encara de sua própria maneira. </div>
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a trajetória individual de Anna, antes aparentemente inequívoca, já que sem alternativas, é estremecida diante do descortinamento de seu passado e seu crescimento passa a depender também da maneira como ela aprende a lidar com essas novas formas de interação e de pertencimento ao mundo. nesse sentido, achei o desfecho fascinante, quando, após um momento de busca e reavaliação de si, acaba se sentindo pronta para optar por um caminho. </div>
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enfim, definitivamente não fui capaz de transpor a essência que tanto me agradou neste filme. vale o registro e a vontade de revê-lo.</div>
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<br />fernandohttp://www.blogger.com/profile/05102702875835922590noreply@blogger.com0