quinta-feira, 19 de agosto de 2010

em espiral

fixação por cores, por cheiros, por sons. todos os meus membros em alerta, eufóricos, suplicando o que há para se absorver. instintivamente rastejo por entre a matéria em busca de sensações. quero a parte pulsante das coisas, a vibração caótica dos corpos (inclusive os inertes). acho que isso é querer estar um pouco mais atento à vida (a vida?). é tentar provar a mim mesmo que estou vivo. estou tentando, meio que sem querer, chegar à conclusões. mas não daquelas que dão respostas definitivas e duradouras, que nos esmagam e excluem todas as outras possíveis respostas, mas sim a possibilidade de se adicionar novas visões, que se interpenetrem e se complementem... que haja sempre mais sons, mais cores e mais cheiros.

o parágrafo anterior está perdido. definitivamente. e não há tempo para lamentá-lo. há que se recomeçar dizendo (súbito) que peguei uma tesoura de dentro da gaveta e perfurei fundo meu peito pra ver um coração estranho batendo forte e um pulmão cheio de resentimentos. eram meus!  e estavam condenados. não pude mais ver meu sangue vermelho, ele não era mais vermelho, assim como a paisagem era tão somente preto e branco. o líquido que jorrava de mim tinha uma leve tonalidade esverdeada, um verde ocre e tímido (podre?) e isso não era de todo mal. havia algumas marcas no meu corpo e isso também não era de todo mal. só não pense, minha cara, nisso como uma declaração de amor (ou de fé). no máximo assumo, agora, minha culpa... (ao ver meu meu estado o doutor me desenganou... "a única coisa a fazer é tocar um tango argentino").

há uma última chance! não me encontro mais. rejeito covardemente tudo o que foi dito antes. é minha tentativa de redenção. é minha forma de me tornar desprezível. pelo menos é o que você me diria se estivesse aqui, se me alcançasse. não...você não diria nada, deixaria que eu me perdesse. pior: se estivesse aqui eu é que estaria pensando em nada.

desisto enfim, entre lamentoso e aliviado.
________________________________
"entendes finalmente
que o passado
é pura doença."

(ferreira gullar)

- entendes?

Nenhum comentário: