quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

sobre opressores e oprimidos

“Se você não tiver cuidado os jornais vão ensinar a odiar os oprimidos e amar os opressores” é uma frase que as pessoas adoram compartilhar no facebook atualmente. ótimo, também acho que esse é risco real e recorrente. concordo que há mecanismos ideológicos e de controle que legitimam o tal opressor e criminalizam o oprimido que acaba sendo marginalizado e tratado de forma estigmatizada.

mas eu quero falar sobre outra coisa, que me incomoda bastante: o fato de que, de certa forma e em graus variáveis, somos todos opressores e oprimidos ao mesmo tempo. não raro os militantes de certas causas, colocam seu grupo social como vítima da "sociedade injusta e preconceituosa", mas ao mesmo tempo têm comportamentos discriminatórios ou ideias que reduzem o outro.

um cara pode ser discriminado porque é gay, e sem se dar conta, discriminar um outro por ser nordestino, que oprime a sua mulher por questões de gênero. as feministas na sua luta por seus direitos podem por sua vez serem particularmente intolerantes aos evangélicos, que são contra os seguidores de religiões afro-brasileiras. é um círculo que não acaba mais e com inúmeros fios soltos.

historicamente os cristãos foram massacrados em determinadas épocas e lugares e igualmente massacraram em outras épocas e lugares. os comunistas, perseguidos em alguns países foram os perseguidores em outros. os índios, dizimados pelo colonizador europeu tinham, naturalmente, relações belicosas entre si (afinal, eram diversas etnias diferentes) e muitas até ajudaram o "homem branco" em conflitos. e é claro que isso não condena nem absolve ninguém de antemão.

qual é meu objetivo ao constatar isso? acho que simplesmente descaracterizar essa ideia ingênua de bem contra o mal. a vida em sociedade não é feita de vítimas e malfeitores. quer dizer, não de início. exemplo: se você é de esquerda não pode apoiar INCONDICIONALMENTE outras pessoas ou grupos só porque eles também são de esquerda. isso é dar um cheque em branco pra outra pessoa fazer o que quiser tendo como escudo o rótulo de "somos do mesmo grupo". tais rótulos servem A PRINCÍPIO, mas depois podem acabar se tornando um álibi para desmandos de canalhas. qual comunista com um mínimo de discernimento pode apoiar incondicionalmente Stálin? quer dizer, você pode até querer enfatizar pontos positivos, de acordo com o seu viés político, mas nunca o todo.

devemos ter consciência de que todos temos preconceitos e a pré-disposição de discriminar e até oprimir pessoas diferentes (até porque, o que é diferente não raro nos assusta ou vai de encontro aos nosso princípios e valores). a nossa luta, deve ser mais ampla, não pelos direitos desse ou daquele grupo, mas pela dignidade e respeito de toda e qualquer pessoa. você não merece ser respeitado porque é negro, você merece ser respeitado porque é um ser humano. e não digo que isso seja simples, mas mudar o a postura e a proposta individual já é um grande começo.

a gente cresce aprendendo a ver a história como a relação entre coitadinhos e filhos da puta. concordo que muitas vezes esses rótulos caem bem (quem não se indigna ao aprender na escola sobre o genocídio indígena na época da colonização?), mas não vamos por favor reduzir o mundo entre bom e mau, opressores e oprimidos. vale mais saber analisar o contexto e ter em mente de que somos todos seres humanos, carregando potencialmente os mesmo defeitos...

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