quarta-feira, 20 de junho de 2012

"O sonho do automóvel na cidade de São Paulo acabou"



A seguir, trechos de uma entrevista com o engenheiro de tráfego Horácio Augusto Figueira, sobre a questão do trânsito em São Paulo:

SPressoSP – Por que este custo-benefício ainda é tão caro?

Horácio Augusto Figueira - Pelo congestionamento imposto pelos automóveis, o poder público não tem a coragem de falar que uma faixa de ônibus transporta dez vezes mais pessoas que a mesma faixa ao lado de automóveis. A sociedade e a mídia cobram que existem muitos congestionamentos, acho que ainda tem pouco. Eu acabaria com o rodízio em São Paulo, para a cidade sentir o que é a verdade do automóvel.
Todo mundo quer andar de carro, mas não existe espaço físico que comporte mais automóveis na cidade de São Paulo. Não tem mais obra viária que vá resolver a questão da mobilidade por transporte individual. Não tem alargamento de marginal, ponte ou túnel que dê conta.
Não sou contra o automóvel. Tenho automóvel, mas me recuso a ir para o centro da cidade com transporte individual. Não cabe, é um problema físico. Você consegue colocar cem pessoas em 1 metro quadrado? Não consegue, e o que estão querendo fazer com o automóvel é isso. A 23 de Maio vai continuar a mesma, e não podemos desapropriar a cidade inteira para entupir com automóveis.
Você vê o que aconteceu na Marginal Tietê, a prefeitura e governo estadual investiram quase 2 bilhões de reais para alargar a Marginal e os congestionamentos voltaram. Aí eles restringiram os caminhões, e os congestionamentos voltaram. E agora, quem eles vão tirar? Os pedestres, vão acabar com as calçadas? Não tem o que fazer, a demanda é tão grande que qualquer avenida inaugurada hoje, em um mês já vai estar entupida.

SPressoSP – Recentemente o pré-candidato à prefeitura de São Paulo, José Serra, afirmou que investir em ônibus em São Paulo iria engarrafar ainda mais a cidade. O que o senhor acha desta afirmação?

Horácio Augusto Figueira – Iria engarrafar o trânsito de automóveis, quando, na verdade, é o contrário, são os automóveis que engarrafam o trânsito do transporte coletivo e não deixam os ônibus andarem. É um viés, precisamos voltar aos bancos escolares para ter uma aula sobre o que é engenharia de transporte de pessoas. O ex-governador que me perdoe, mas quando eles falaram que iriam alargar a Marginal Tietê eu avisei, em uma entrevista, que iam jogar nosso dinheiro no lixo. Nas dez faixas da Marginal Tietê passam em média 15 mil automóveis por hora. Se multiplicarmos esse número pela ocupação média de 1,4 passageiro em cada automóvel, dá 21 mil pessoas por hora. Qualquer engenheiro da prefeitura sabe que uma faixa exclusiva para ônibus biarticulados, bastando apenas permitir a ultrapassagem no ponto, consegue transportar, com um padrão razoável de conforto, todas as pessoas que estão entupindo as dez faixas da marginal.
Quando o candidato diz que vai entupir a cidade, ele só está enxergando o congestionamento de automóveis, e o que eu lamento é o congestionamento de ônibus. (...) É só verificar o problema e aumentar mais uma faixa para o transporte público pelo tempo necessário. E os automóveis? Não estou mais preocupado com os automóveis. Se continuarmos preocupados com automóveis não tem mais o que fazer. Posso investir um trilhão de dólares em obras viárias em São Paulo que nunca mais vou conseguir resolver o problema da mobilidade.
Resumindo tudo o que estou falando, o sonho do automóvel acabou na cidade de São Paulo. Ele foi bom há 40 anos, quando era 1 em mil. Hoje, tem famílias que têm oito veículos para fugir do rodízio. É o rodízio da hipocrisia, você que é pobre não vai andar, mas eu que sou rico pego meu outro carro.
O metrô e o trem vão resolver o problema? Vão resolver os grande eixos de demanda, mas não da mobilidade de uma cidade que tem mais de mil linhas de ônibus. Você nunca vai ter uma malha de metrô de 2 mil quilômetros nem daqui a 1.000 anos. O sistema de ônibus é aquele que sobe o morro, que atende as ruas de bairros, e muitos dos seus eixos têm que ser estruturadores do sistema de transportes. Tem eixos que não precisam de metrô. Um corredor bem feito e bem operado resolve o atendimento da demanda, basta que você tenha linhas tronco. Por exemplo, a Rebouças, onde operam mais de 30 linhas de ônibus, teríamos que transformar em quatro ou cinco linhas troncos com ônibus biarticulados, como se fosse um metrôzinho sobre pneus. Outra medida é implantar um sistema de semáforo onde o ônibus converse com o semáforo por radiofrequência para diminuir o vermelho. Londres implantou isso em 77 e diminui 30% no tempo de percurso, e Curitiba está com isso faz três meses em todos os seus corredores.

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Basicamente a repetição de ideias um tanto quanto óbvias, mas que parece que o poder público e a sociedade em geral não enxergam.
Até hoje a questão parece ser sempre a tentativa proporcionar melhorias no fluxo do transporte individual, como se andar de carro numa cidade entupida e poluída fosse um direito sagrado e inquestionável.
A lógica profundamente arraigada de que o carro deve se sobrepor a toda e qualquer alternativa de transporte público... Aí os governantes, em atos desesperados e inúteis investem pesadamente em obras viárias ou passam a restringir tanto quanto possível o trânsito em vias estratégicas.
Gostaria que algum prefeito desta cidade tivesse a coragem de revolucionar a política de mobilidade urbana e restringisse de fato o espaço dos carros em favor dos corredores de ônibus.

terça-feira, 19 de junho de 2012

malufismo e petismo, agora andando de mãos dadas

implodiram de vez o pt...
parece que não tem mais pra onde "flexibilizar" o que restava de ideológico e da agenda esquerdista no dito partido dos trabalhadores.
hoje é um partido comum, desses com sede de poder e que não medem esforços para obtê-lo. partido que sabe muito bem usar a sua força para conquistar benefícios para seus aliados.
mesmo que seja agir exatamente da maneira como condenava os outros por agirem ou se aliar a inimigos históricos... e o da vez é o dr. paulo maluf.
isso mesmo. pra quem tem um pouquinho de memória, num passado recente, petistas e malufistas pareciam água e óleo, profundos antagonistas no cenário político, principalmente municipal.
foi assim em 92, 96, 2000. depois perdeu um pouco de força, mas eu não imaginava que em poucos anos tudo estaria tão diferente a ponto de lula e maluf posarem para fotos de mãos dadas.
e eu nem discuto aqui o quanto o maluf é um bom ou mau político (apesar de ficar subentendido o que eu penso), mas, pra começo de conversa, não posso confiar num partido que muda tanto de opinião em tão pouco tempo assim e que não faz a menor questão de esconder que se alia à direita para ganhar alguns segundos a mais de propaganda eleitoral...
já não é de hoje que não nutro a menor simpatia pelo pt e sua maneira de fazer política. acho desastrosa a sua adesão ao fisiologismo e alianças com o conservadorismo.
o lula se tornou uma personalidade autoritária e cheia de si, deslumbrada com sua capacidade de mobilizar de uma só vez as massas e a elite política (que anseia uma oportunidade de pegar onde em sua popularidade).
enfim, não voto e não consigo imaginar como um militante ou simpatizante do pt conseguirá justificar um voto em haddad sem igualmente relativizar suas convicções políticas.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

"Um estado totalitário verdadeiramente eficiente seria aquele em que os chefes políticos de um Poder Executivo todo-poderoso e seu exército de administradores controlassem uma população de escravos que não tivessem de ser coagidos porque amariam sua servidão. Fazer com que eles a amem é a tarefa confiada, nos Estados totalitários do hoje, aos ministérios de propaganda, diretores de jornais e professores." (p. 20)

 (...)

"À medida que diminui a liberdade política e econômica, a liberdade sexual tende a aumentar como compensação. E o ditador (a não ser que precise de massa de manobra e de famílias para colonizar territórios despovoados ou conquistados) agirá prudentemente estimulando essa liberdade. Em conjunção com a liberdade de sonhar sob a influência das drogas, do cinema e do rádio, ela ajudará a reconciliar os súditos com a servidão que é o seu destino." (p. 23)

HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. São Paulo, Ed. Globo, 2009
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Dá pra acreditar que esse cara escreveu o texto do qual tirei esses dois parágrafos em 1946? Parece que foi na semana passada...