quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

"Todos os homens e mulheres são distintos, mesmo os gêmeos univitelinos. Aos nos relacionarmos com qualquer um deles, no entanto, fazemos isso por meio do seu tipo: branco, preto, capixaba, francês, pobre, rico, e assim por diante. Não fosse assim, a relação seria inimaginável. Não interagimos com coisas e seres singulares, esta possibilidade não está dada ao ser humano."

(SANTOS, Joel Rufino dos - Quem Ama Literatura Não Estuda Literatura: Ensaios Indisciplinados, pág. 154)
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foda chegar a essa conclusão: nós simplesmente não temos acesso ao outro ser ou coisa, não entramos em contato com ele de maneira plena. quando o fazemos é só de maneira muito limitada, por meio da nossa subjetividade, da nossa visão de mundo, sensações, sentimentos e inevitavelmente de nossos preconceitos... e tudo isso é muito pouco e quase falso (apesar de tão humano!).

conhecer uma pessoa é antes de tudo situá-la no (meu) mundo, é compará-la com o que eu já conheço e reduzí-la a algumas informações. nome, idade, onde mora, onde nasceu... dá pra perceber o quanto isso já é esteriotipar aquele ser? tentamos apreender um ser único e complexo através de um punhado de informações socialmente compartilháveis.

claro que existe uma enorme gama de outros estímulos que recebemos do outro (comunicação não-verbal, aquilo que é só sentido, intuido a "impressão" que nos passa...), mas ainda assim, CONHECER O OUTRO É CONHECÊ-LO ATRAVES DE VOCÊ MESMO. Não conseguimos escapar desse fato...

o mundo vasto, infinito com os bilhões de pessoas que estão lá fora estão irremediavelmente fora de nosso alcance. não os atingimos, não os alcançamos enquanto realidades objetivas...

 isso me lembra muito o MITO DA CAVERNA de platão. nós conseguimos tão somente perceber umas poucas sombras na parede e achamos que isso é a realidade... não interagimos com os seres singulares, mas tão somente (e em graus variados) com as informações que recebemos e conseguimos "processar" (e a sombra é um ótima metáfora para isso). e é a partir dessas informações que definimos como vemos aquela pessoa e como vamos interagir com ela... e isso vai desde uma simples passada de olho, até a convivência por anos, o fato é que SEMPRE vamos estar reduzindo aquela pessoa, simplificando-a de forma que consigamos racionalizá-la. Em uma palavra, TIPIFICANDO-A.

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