quinta-feira, 18 de julho de 2013
algumas linhas sobre "the man comes around"de jonnhy cash
desde 2010 ouvi esse cd centenas de vezes. e de vez em quando sinto a necessidade de voltar a ele, como se houvesse algo ali que não encontrasse em nenhum outro lugar. adoro a aura do disco como um todo, que soa como se fosse desentranhado do fundo da alma de Cash com força e verdade. a voz de um senhor calejado pela vida e perceptívelmente velho e cansado (e que já pouco havia do rebelde e problemático jovem músico), cantando com tanta dor e austeridade e fazendo de cada acorde uma lembrança e uma despedida.
a primeira música que me chamou a atenção, até por ser largamente veiculada na mtv em 2003, foi "hurt", originalmente do Nine Inch Nails, que ficou profundamente dolorosa na versão do Jonnhy Cash. ganhou contornos de um acerto de contas com o passado e o que ficou de saudades e remorso.
"give my love to rose" conta a história de um homem recém saído da prisão que é encontrado à beira da morte próximo ao trilho do trem e pede ajuda a quem o encontrou para que leve o seu dinheiro e suas última palavras para sua mulher (a rose do título) e a seu filho, que não chegou a conhecer. é triste e linda, num estilão country que poucas vezes me agradou tanto.
tenho que destacar também "hung my head" que conta uma história bem ao estilo velho oeste, sobre um assassinato cometido sem motivo aparente e o profundo arrependimento que assola o assassino. são de arrepiar os seguintes versos: "eu senti o poder da morte sobre a vida/ deixei orfão seu filho/ enviuvei sua esposa/ eu implorei por seu perdão/ desejei estar morto/ eu abaixei minha cabeça".
"personal jesus" tem um violão de peso, com belos riffs e um elegante piano sempre presente. gosto da imagem que ela me passa de uma mão amiga, ainda que pesada, disposta a dar amparo a um solitário que procure a fé (em seu próprio jesus). por fim, para não acabar falando de todas as músicas, preciso falar da mais bela melodia do cd, que é "desperado", um tocante conselho para que um cara durão e solitário (para quem "a prisão é andar sozinho por este mundo") "volte a si", "esqueça aquilo que ele não pode ter" e "deixe alguém amá-lo antes que seja tarde demais".
a última música do cd ("we'll meet again")é uma doce despedida que diz: "nós vamos nos encontrar de novo/ não sei onde e não quando/ mas eu sei que vamos nos encontrar de novo em algum dia de sol". não seria tão arrepiante se não fosse de fato a despedida de jonnhy cash, que morreu algum tempo depois, meses após sua esposa, june carter.
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