terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Algumas linhas sobre "Beleza e Tristeza"

Não sei ao certo por que escrever sobre esse livro. Não foi o melhor que li na minha vida, talvez nem mesmo no ano (e estamos apenas no segundo mês!).

Arrisco dizer que há nele algo de marcante que eu não havia encontrado antes em nenhum outro, uma força intrínseca que é de fato ao mesmo tempo bela e triste. Sei, isso é demasiadamente vago. Terei condições de me explicar melhor?

Não quero falar muito sobre o enredo em si. Mas adianto que o cerne é um doloroso caso de amor de um homem caso com uma jovem. Eles se afastam, mas as feridas permanecem indeléveis em cada um. Ninguém está totalmente imune aos acontecimento; é o que os une e os afasta e o que determina a maneira como eles se relacionam entre si e consigo mesmos. Como um fantasma que está sempre presente e do qual não se consegue escapar. Logo todos estão sufocados em sentimentos como remorso, amor, solidão, vingança, ciúmes... Presos ao passado o mundo se torna um lugar amargo e difícil. Há uma leve e permanente camada de melancolia sobre todos a trajetória deles. Não é possível ser feliz, deixar o passado para trás.

Mas é desse estado melancólico que surge a beleza aludida no título, sempre acompanhada de um certo amargor, mas ainda assim plena. Os protagonistas canalizaram a sua dor na arte. Ele, um famoso escritor, tem nos relatos de suas memórias sua obra-prima, ela uma talentosa pintora, encontra nas artes plásticas uma maneira de recomeçar sua vida. Ambos carregam esse pesado fardo de uma maneira digna, constrita, silenciosa. Aceitam a tragédia e a dor indissociável de suas trajetórias, não renegam, mas criam,  a partir delas, coisas belas. Não ha escapatória possível, os sentimentos que nutrem é o que os fazem ser quem são, é o que os impossibilita de ser feliz.

A própria maneira como a história se desenrola é sutil, contemplativa. Lenta e delicadamente o autor vai construindo uma rica pintura, em longas descrições das paisagens japonesas, de sua natureza e seus antigo templos, o que acabou me remetendo a delicadas pinturas de tons suaves. O movimento ambíguo dos personagens, seus diálogos, a forma ora frágil, ora pungente como interagem entre si e com o ambiente, tudo ali guarda uma grande beleza, que misturada à inescapável melancolia que permeia toda a história, acaba por causar no leitor uma sensação de deslumbramento e vazio.

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