Ainda assim, meu fascínio por Carlos Drummond de Andrade é evidente. O gauche itabirano, para recorrer a um clichê ou o "burocrata que fazia versos", segundo a sua própria (e injusta) definição é sem dúvida um dos grandes autores do século XX e que ainda ecoa pelo nosso tempo, ao contrário do que previa, a dizer que "em vinte anos estaria esquecido". Não está e não fosse o português língua marginal, Drummond teria reconhecimento mundial. Independente disso, lê-lo, para mim, é uma experiência pessoal inigualável e muito representativa de fases da minha vida. Abrir algum de seus livros (o "Alguma Poesia" ou o "Sentimento do Mundo", por exemplo) é correr o risco de encontrar algo de mim mesmo ali naquelas páginas. Um sentimento quase adolescente de profunda identificação.
Tive a oportunidade de ler recentemente "Dossiê Drummond", de Geneton Moraes Neto, que traz um apanhado de pequenas revelações sobre sua vida e obra. Principalmente sua vida, que era bem pouco conhecida por mim. O livro é dividido em partes, que incluem uma longa entrevista com o autor (a última), até então conhecido por ser avesso à entrevistas e outras formas de exposição midiática. Depois vários "retratos falados", declarações e "causos" interessantes de amigos e admiradores. Vale citar também a transcrição de uma fita que ele gravou com sua "namorada", Lygia Fernandes, na qual discorrem longamente, entre gracejos e chamegos, sobre alguns pontos da obra de Drummond e sobre a própria relação deles, num tom despretensioso.
Vemos emergir das páginas do dossiê uma figura muito humana, com suas idiossincrasias, limitações, defeitos e virtudes. Chama a atenção a sua descrição como um homem em geral tímido, discreto, avesso aos contatos sociais, modesto em relação a sua produção poética, metódico em sua organização pessoal e profissional. Por outro lado é considerado espirituoso e falante com os mais chegados, ainda que mantendo certa reserva.
Tive a oportunidade de ler recentemente "Dossiê Drummond", de Geneton Moraes Neto, que traz um apanhado de pequenas revelações sobre sua vida e obra. Principalmente sua vida, que era bem pouco conhecida por mim. O livro é dividido em partes, que incluem uma longa entrevista com o autor (a última), até então conhecido por ser avesso à entrevistas e outras formas de exposição midiática. Depois vários "retratos falados", declarações e "causos" interessantes de amigos e admiradores. Vale citar também a transcrição de uma fita que ele gravou com sua "namorada", Lygia Fernandes, na qual discorrem longamente, entre gracejos e chamegos, sobre alguns pontos da obra de Drummond e sobre a própria relação deles, num tom despretensioso.
Vemos emergir das páginas do dossiê uma figura muito humana, com suas idiossincrasias, limitações, defeitos e virtudes. Chama a atenção a sua descrição como um homem em geral tímido, discreto, avesso aos contatos sociais, modesto em relação a sua produção poética, metódico em sua organização pessoal e profissional. Por outro lado é considerado espirituoso e falante com os mais chegados, ainda que mantendo certa reserva.
Tomamos conhecimento de episódios da sua biografia, principalmente a vida cotidiana. Seu breve envolvimento com a política (quando fez parte de um jornal comunista), seu trabalho como chefe de gabinete do Ministro da Educação no governo de Getúlio Vargas, suas opiniões sobre determinados fatos da época, seus gostos e desgostos. A própria relação que ele tinha com a sua obra chama a atenção por ser marcadamente crítica, relutando em reconhecer sua inegável importância.
Dois fatos me parecerem mais relevantes. O primeiro, bastante conhecido, é a devoção que o poeta tinha pela sua filha única, Maria Julieta, a pessoa que mais amou na vida. Além de se sentir muito conectada com ela, enquanto amiga e confidente, a considerava sua herdeira intelectual. Drummond ficou extremamente abalado com sua morte, morrendo alguns dias depois que ela. O outro, até então desconhecido por mim, é a existência de uma amante em sua vida ao longo de 36 anos. Seu nome é Lygia Fernandes. Ambos se conheceram quando Lygia foi trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, onde Drummond já trabalhava. Ela tinha 24 anos e ele 49. Se apaixonaram, ficando juntos até o fim da vida, porém sem que Drummond largasse a esposa "oficial", num caso curioso e inesperado de bigamia. Ao que parece, foi ela seu grande amor. A parte em que ambos falam numa gravação é muito bonita, e demonstra a existência de uma cumplicidade profunda e muito afeto entre eles.
Enfim, o livro como um todo é a grata oportunidade de espiar, mesmo que vagamente, o poeta pr'além da sua poesia. Ainda que continue achando que o que vale é a "verdade de um poema", no sentido de que o autor é secundário diante de sua obra, achei muito interessante poder "ouvir" o que Drummond tinha a dizer ou o que tinham a dizer sobre ele.
Dois fatos me parecerem mais relevantes. O primeiro, bastante conhecido, é a devoção que o poeta tinha pela sua filha única, Maria Julieta, a pessoa que mais amou na vida. Além de se sentir muito conectada com ela, enquanto amiga e confidente, a considerava sua herdeira intelectual. Drummond ficou extremamente abalado com sua morte, morrendo alguns dias depois que ela. O outro, até então desconhecido por mim, é a existência de uma amante em sua vida ao longo de 36 anos. Seu nome é Lygia Fernandes. Ambos se conheceram quando Lygia foi trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, onde Drummond já trabalhava. Ela tinha 24 anos e ele 49. Se apaixonaram, ficando juntos até o fim da vida, porém sem que Drummond largasse a esposa "oficial", num caso curioso e inesperado de bigamia. Ao que parece, foi ela seu grande amor. A parte em que ambos falam numa gravação é muito bonita, e demonstra a existência de uma cumplicidade profunda e muito afeto entre eles.
Enfim, o livro como um todo é a grata oportunidade de espiar, mesmo que vagamente, o poeta pr'além da sua poesia. Ainda que continue achando que o que vale é a "verdade de um poema", no sentido de que o autor é secundário diante de sua obra, achei muito interessante poder "ouvir" o que Drummond tinha a dizer ou o que tinham a dizer sobre ele.