Demorei um pouco pra ter uma opinião mais consolidada sobre o novo álbum do Jair Naves, "Trovões a Me Atingir". Confesso que numa primeira ouvida não me pareceu lá grande coisa, no máximo uma boa continuidade do anterior. Porém, é o tipo de álbum que não se pega de primeira e segue num crescente. Foi preciso tempo para apreciar os pequenos e inúmeros detalhes que o constroi.
Primeiro de tudo, o trabalho me soou muito coeso e bem acabado. As harmonias e os arranjos estão excelentes, uma combinação bem dilapidada de diversas sonoridades. A ponto de me pegar esperando, por exemplo, o teclado e o backing vocal de "5/4", o trompete e a percussão no final da belíssima "B", o violão delicadamente arranhado e o violoncelo de "Prece Atendida" ou ainda a linha de baixo da parte final de "No Meu Encalço". Enfim, são pequenos grandes momentos que, aliados à já caracterísca intensidade do Jair, me agradaram demais, formando músicas poderosas, na mensagem e no som, sem preciosismos.
As letras continuam com a pungência e a profundidade poética já características. Tratam de temas como desilusão, solidão, relacionamentos, sempre de uma maneira densa e de uma perspectiva pessoal. Desde que o conheci me agradou a maneira como ele mistura tão bem delicadeza e lirismo com uma virulência latente que se insinua em sua voz grave, na métrica "alongada" de versos doloridos. Há urgência e "verdade" no que ele canta. Porém, aqui, perceptivelmente a forma do Jair Naves cantar está mais suave, sua energia está mais dosada e canalizada. Há mais sussurros e menos gritos. Aprofunda essa impresão os muito bem-vindos vocais femininos, inclusive na quarta faixa, "B", em que a Bárbara Eugênia canta.
Devo comentar também que o projeto gráfico do álbum físico está muito bonito, inclusive a capa em que, a despeito do nome do disco, o que atinge o músico são os raios de um dia ensolarado. Haveria aí um jogo intencional entre palavra e imagem?
Sempre me sinto limitado ao tentar comentar sobre música. O fato é que cada acorde me soou relevante, as nove músicas de "Trovões a me atingir" formam um disco agradável, cheio de qualidades e muito maduro, numa instigante evolução em relação ao álbum anterior de um artista que sem dúvida está entre os meus favoritos.
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