Esteticamente lindo e envolvente, "o último poema do rinoceronte" baseia-se na vida do poeta curdo-iraniano Sadegh Kamangar que, quando da Revolução Iraniana de 1979 (que implicou na derrubada do xá e na tomada de poder pelo aitolá Khomeini) foi injustamente preso, acusado de escrever poemas de cunho político e condenado a longos anos de cárcere, tendo sido inclusive declarado morto para sua família.
O foco da história é Sadegh Kamangar já liberto, 30 anos depois, quando vai em busca de sua esposa e descobre que ela se casou novamente e saiu do país, indo para Turquia. Os acontecimentos do passado e seus desdobramentos vão sendo revelados pouco a pouco, através de suas lembranças, que se alternam com o tempo presente. Além disso, o filme conta com construções visuais belíssimas que retratam cenários vazios e cores esmaecidas, que transbordam a poesia de Kamangar para a tela.
É um filme essencialmente triste. O próprio protagonista parece carregar em seu rosto as marcas e o peso do passado dos quais ele não parece ser capaz de se livrar. Não há salvação possível e a própria felicidade se coloca como algo que ficou distante, perdido no passado.
Já tinha tido algum contato com esse contexto histórico (da Revolução Iraniana) com a HQ e o filme de "Persépolis", então achei ainda mais interessante o tema, principalmente pela delicadeza com que são abordados os dramas pessoais que surgem a partir de acontecimentos políticos. É aterrador pensar em quantas vidas são destroçadas por conta de diferenças ideológicas e lutas pelos poder.