domingo, 15 de maio de 2016

Sexagésimo nono soneto de amor

TALVEZ NÃO SER É SER SEM QUE TU SEJAS,
sem que vás cortando o meio-dia
como uma flor azul, sem que caminhes
mais tarde pela névoa e os ladrilhos,

sem essa luz que levas na mão
que talvez outros não verão dourada,
que talvez ninguém soube que crescia
como a origem rubra da rosa,

SEM QUE SEJAS, ENFIM, SEM QUE VIESSES
BRUSCA, INCITANTE, CONHECER MINHA VIDA,
aragem de roseira, trigo de vento

E DESDE ENTÃO SOU PORQUE TU ÉS,
E DESDE ENTÃO ÉS, SOU E SOMOS
E POR AMOR SEREI, SERÁS, SEREMOS.

(NERUDA, Pablo in Cem Sonetos de Amor)
_______________________