sabe garota, eu poderia tentar escrever algo sobre você. era o que eu queria! captar uma suposta essência que fosse sua, só sua e que só eu pudesse desentranhar e colocar no papel. talvez ficasse bom e eu até ficaria satisfeito, confortável, ao reler. seria você, da maneira como existe em mim (e da maneira como eu pensei que você existisse em tudo!). porém desisti de fazê-lo ao final da segunda linha... ("ei, isso é metalinguagem barata!") eu sou sempre assim... faço e desfaço. refaço, descreio, dou a minha vida, renasço e passo a tarde a pensar. sempre, sempre assim. e nunca soube exatamente se você ria por achar graça ou por desdém... (tudo bem, os ruídos e os dentes expostos por si só valiam a pena).
talvez você reflita sobre isso daqui a dez anos e sinta orgulho de ter conhecido uma pessoa como eu... ou não, em dez anos pode ser que eu seja somente um nome (mais consoantes que vogais) ou nem isso. porém, esse é um risco que se corre, o que importa, o que cabe dizer agora é que eu queria escrever sobre você, de uma maneira doce e forte. queria que um punhado de palavras te traduzissem, te refletissem (te iluminassem), ainda que deformada (as palavras sempre deformam, não é mesmo?) mas desisti (acho que o que me define melhor são as coisas das quais eu desisti) ao perceber que isso seria escrever sobre mim (como o que eu estou fazendo neste momento...) e escrever mentiras sobre pessoas que eu nunca conheci. tentar me fazer mais claro seria inventar uma estória e obscurecer a pouca verdade sobre a qual nos sustentamos (você tem uma verdade? você dorme com ela todas as noites, por medo de ficar sozinha?) e isso é exatamente o que eu não queria fazer. não agora. não nesse momento...