há em mim um pêndulo incessante que oscila entre um sentimentalismo profundo e nostálgico e a descrença geral, pura e cínica. às vezes uma simples frase me faz querer chorar, comovido. outras, qualquer percalço da vida (um coração despedaçado ou um genocídio) me soa como muito corriqueiro e natural; expressão por excelência do que há de humano (desumano?) em nós...
hesito, atordoado, como se fosse dois, entre o racional e o non-sense. em alguns momentos sinto tudo cair sobre minhas costas, um peso que mal consigo suportar, condensação de uma melancolia da qual parece se constituir minha alma, o universo e a experiência que temos dele. a desventura na qual somos todos companheiros. em outras, veja só, me sinto um bufão a exaltar o niilismo e a rir de toda e qualquer imagem que fazemos de nós mesmos e do mundo, das perguntas e das respostas (esqueça-as todas!). a ausência de sentido, o caos por essência e a nossa hipocrisia delirante tentando estabelecer um mínimo de ordem e lógica...
sinto que ando o tempo todo em areia movediça e se por um momento paro e penso ser possível construir meu castelo de certezas, logo percebo que não há terreno confiável, não há base sólida que possa me sustentar... e sigo, sempre, entre dormente e eufórico, numa eterna e desgastante ambiguidade que a primeira vista parece unir os opostos que suponho me constituir (não será isso também uma mera alucinação?), sem saber exatamente que esperar.
de mim.
do resto...
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Que droga foi que me inoculei?
Ópio de inferno em vez de paraíso?...
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial eu me eternizo?
Nem ópio, nem morfina. O que me ardeu,
Foi álcool mais raro e penetrante:
É só de mim que ando delirante -
Manhã tão forte que me anoiteceu.
(Mário de Sá-Carneiro)
2 comentários:
Não consigo fazer uma transposição do que li agora para a vida real,a sua,se é que posso utilizar esse termo (vida real), se é que realmente tenho argumentos para achar que poderia entender qualquer de seus devaneios ou divagações...
Desta vez não entendi...confesso que me pareceu um retrato da sua instabilidade, talvez da sua vulnerabilidade...(sua ambiguidade?).
Faço mal em tentar te interpretar?
faz muito bem em tentar interpretar o que quer que seja, se for essa sua vontade (ou necessidade)... por mais complicado que pareça a princípio (talvez trazendo ainda mais dúvidas do que certezas).
sim, também acho que seja um retrato da desarmonia, instabilidade na minha maneira de pensar o mundo e agir nele, o que me torna vulnerável, quase perdido, mas ainda assim (e por isso mesmo) muito mais sensível, atento, ao mundo que me rodeia e o papel que eu me proponho a ter nele. pelo menos é essa minha ficção...
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