terça-feira, 13 de dezembro de 2011

sobre como nós temos tendência a sermos uns bostas

sabe o mais foda das pessoas? é que de maneira geral elas se acham muito mais do que realmente são. incrível você transitar por diversos ambientes e perceber que elas se consideram superiores porque são do jeito que são. e dá-lhe estigmas para diminuir o outro e para disseminar seus preconceito e ignorância.

o tempo todo é gente falando mal dos outros, por aquilo que eles gostam de ouvir, ver, fazer, por pensar como pensam ou porque preferem não pensar em nada... aí se reúnem em pequenos grupelhos de masturbação coletiva  que acha o resto do mundo desprezível e idolatram determinados usos e costumes. esse tipo de comportamento é até compreensível em pré-adolescentes, que ainda não sabem muita coisa da vida, mas depois disso se torna irritante... e nem passa pela cabeça dessas pessoas que, pra quem vê de fora elas também podem parecer babacas.

acho que a gente deveria seguir minimamente uma cartilha de "relativização cultural" (ou seja, parar com a porra de querer achar que o centro do sistema solar é no seu umbigo ou no centro da rodinha que você forma com seus amigos super legais), que nos permitisse ver o outro de maneira um pouco mais madura, prestando atenção no fato de que estamos no mesmo barco e as diferenças que constatamos são mais na forma do que na essência.

o começo de tudo seria pensar que "cada um vive a vida à sua maneira". isso não significa que você precisa GOSTAR, nem que você não possa DISCORDAR e DISCUTIR sua ideias sobre os diversos temas com pessoas que estejam DISPOSTAS a isso. mas partir do princípio de que cada um vive a vida do jeito que melhor lhe convém, na medida em cabe só a ela decidir, já significa que há uma maior tolerância e até valorização à diversidade. e isso pra tudo, desde gosto musical até política e religião. no caso do primeiro, por exemplo, eu não gosto de funk, nunca gostei, mas acho que eu gosto menos ainda das pessoas arrogantes que se acham melhores por que não gostam de funk. aí, dá-lhe falar que é música de bandido, de vagabundo, de favelado e blá blá blá. esses podem ser bons critério para VOCÊ não ouvir funk ou pra não querer que seus filhos ouçam, mas não serve pra querer defender a censura ao funk (nem a coisa nenhuma). aí o cara gosta de rock e se acha foda por isso, ou gosta de jazz e se acha mais refinado ou de samba e mais descolado, mas se esquecem que esses estilos já sofreram com marginalização (por coincidência, três estilos musicais que vieram das camadas populares e para os quais as elites torciam o nariz). e no final das contas sempre vai ter um pra falar  "ai credo, você gosta disso!? isso é coisa de retardado/ nerd/ maloqueiro/ mauricinho/ maconheiro/ velho" (a lista é imensa...).

transfira esse exemplo da música para outras questões da vida que você vai ter bem o retrato de como funcionamos. tentamos legitimar o nosso, deslegitimando o do outro, a gente quer que o nosso comportamento (ou aquele que tentamos atingir, muitas vezes sem sucesso) seja o mais legal, em detrimento do dos outros, e estamos sempre com um tomate na mão esperando que alguém fora do nosso padrão surja para tacarmos nele. "aí, ele é isso, ele é aquilo", mas, peraí, será que, aos olhos dos outros (e pelos seus mesmo, se você tiver um pouco de auto-crítica) você também não é "isso" ou "aquilo". será que não somos todos (e cada a sua maneira) seres humanos deploráveis, tentando dar sentido a vidinhas medíocres?

sei lá, acho que pensando assim (dando a cara a tapa) pelo menos podemos ser menos cuzões e mais tolerantes com as diferenças alheias e quem sabe até seres humanos melhores.

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(acho que é um assunto com uma abordagem semelhante a post passados, mas é que eu continuo sendo parecido com o que eu era antes e certas coisas continuam me irritando...tipo, o que você sabe do outro pra ficar falando dele?)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

sobre opressores e oprimidos

“Se você não tiver cuidado os jornais vão ensinar a odiar os oprimidos e amar os opressores” é uma frase que as pessoas adoram compartilhar no facebook atualmente. ótimo, também acho que esse é risco real e recorrente. concordo que há mecanismos ideológicos e de controle que legitimam o tal opressor e criminalizam o oprimido que acaba sendo marginalizado e tratado de forma estigmatizada.

mas eu quero falar sobre outra coisa, que me incomoda bastante: o fato de que, de certa forma e em graus variáveis, somos todos opressores e oprimidos ao mesmo tempo. não raro os militantes de certas causas, colocam seu grupo social como vítima da "sociedade injusta e preconceituosa", mas ao mesmo tempo têm comportamentos discriminatórios ou ideias que reduzem o outro.

um cara pode ser discriminado porque é gay, e sem se dar conta, discriminar um outro por ser nordestino, que oprime a sua mulher por questões de gênero. as feministas na sua luta por seus direitos podem por sua vez serem particularmente intolerantes aos evangélicos, que são contra os seguidores de religiões afro-brasileiras. é um círculo que não acaba mais e com inúmeros fios soltos.

historicamente os cristãos foram massacrados em determinadas épocas e lugares e igualmente massacraram em outras épocas e lugares. os comunistas, perseguidos em alguns países foram os perseguidores em outros. os índios, dizimados pelo colonizador europeu tinham, naturalmente, relações belicosas entre si (afinal, eram diversas etnias diferentes) e muitas até ajudaram o "homem branco" em conflitos. e é claro que isso não condena nem absolve ninguém de antemão.

qual é meu objetivo ao constatar isso? acho que simplesmente descaracterizar essa ideia ingênua de bem contra o mal. a vida em sociedade não é feita de vítimas e malfeitores. quer dizer, não de início. exemplo: se você é de esquerda não pode apoiar INCONDICIONALMENTE outras pessoas ou grupos só porque eles também são de esquerda. isso é dar um cheque em branco pra outra pessoa fazer o que quiser tendo como escudo o rótulo de "somos do mesmo grupo". tais rótulos servem A PRINCÍPIO, mas depois podem acabar se tornando um álibi para desmandos de canalhas. qual comunista com um mínimo de discernimento pode apoiar incondicionalmente Stálin? quer dizer, você pode até querer enfatizar pontos positivos, de acordo com o seu viés político, mas nunca o todo.

devemos ter consciência de que todos temos preconceitos e a pré-disposição de discriminar e até oprimir pessoas diferentes (até porque, o que é diferente não raro nos assusta ou vai de encontro aos nosso princípios e valores). a nossa luta, deve ser mais ampla, não pelos direitos desse ou daquele grupo, mas pela dignidade e respeito de toda e qualquer pessoa. você não merece ser respeitado porque é negro, você merece ser respeitado porque é um ser humano. e não digo que isso seja simples, mas mudar o a postura e a proposta individual já é um grande começo.

a gente cresce aprendendo a ver a história como a relação entre coitadinhos e filhos da puta. concordo que muitas vezes esses rótulos caem bem (quem não se indigna ao aprender na escola sobre o genocídio indígena na época da colonização?), mas não vamos por favor reduzir o mundo entre bom e mau, opressores e oprimidos. vale mais saber analisar o contexto e ter em mente de que somos todos seres humanos, carregando potencialmente os mesmo defeitos...