ontem teve greve no metrô e o "caos" se instalou na cidade de são paulo (que já é caótica)...
parto do princípio de que a greve é um direito legítimo e necessário para os trabalhadores, adquirido historicamente através de muita luta, para tentar negociar com os patrões atingindo-lhes naquilo que lhes é mais caro: o lucro, acumulado através da exploração do trabalho de seus empregados. a greve é usada de forma sempre justa e bem intencionada? não. há outros interesses pessoais e escusos no meio? sem dúvidas! mas mesmo assim considero-a um recurso importante nas relações de exploração de mão-de-obra.
o que surpreende (ou nem tanto, vai...) num acontecimento como o de ontem é o quanto a sociedade, conservadora no seu modo de pensar e robotizada no seu modo de agir, lamenta por não poder comparecer a seus postos de trabalho. o quanto nós, explorados como um todo, criamos uma necessidade quase patológica de nos submetermos, de estar ali quando o patrão precisar, de ansiar pelo cabresto... fico pensando: é uma ínfima parte da população que realmente precisaria sair de casa ontem por questões de urgência. a grande maioria queria mesmo era dar as 8 horas diárias da sua vida pro patrão.
somos escravos e ponto. vendemos nossa força de trabalho por comida e, com sorte, um quinhão a mais. nos debatemos para aproveitar as maravilhas da sociedade de consumo. nos hipnotizamos em frente a tv pelo estilo de vida das celebridades. perdemos parte de nossas vidas num movimento sem sentido e alienante de ir e vir (o qual costumam chamar, erroneamente, de liberdade), de obedecer passivamente. se acontece algo como o que aconteceu ontem, a primeira reação que temos é criticar, demonizar como uma "afronta a são paulo"... não, senhores, isso é uma afronta a quem manda em são paulo, aos donos do dinheiro e do poder de são paulo. a real afronta à população de são paulo são as péssimas condições de vida a qual já somos submetidos.
nem questiono se a greve de ontem estava certa ou não e acho que cada cidadão tem o direito de ter sua própria opinião sobre a questão. o que me espanta de fato é que de maneira geral os escravos do século XXI estão se focando no ponto errado. não houve prejuízo ao "DIREITO DE IR E VIR", já que tal direito é meramente formal, não existe de fato. quanto trabalhadores vão todos os dias para lugares que NÃO GOSTARIAM DE IR, fazer o que não quer? quanto deles têm trabalhos enfadonhos. e quantos não sofrem diariamente calados com as más condições do transporte para chegar até seus postos de trabalhos?
falam da afronta a "rotina de são paulo", como se falasse da coisa mais sagrada do mundo. como se essa rotina não fosse uma enorme merda para a grande maioria de nós, inclusive os pequenos burgueses, aqueles que têm melhor sorte, mas que acabam sendo quase tão escravos quanto qualquer outro. falam do "enorme estrago causado na vida da população", como se todos os dias não perdessemos um pouco de nossas vidas em trens e ônibus lotados, numa cidade poluída, suja e feia, em postos de trabalho distantes de nossas casas, em tarefas alienantes e tediosas, para ganhar pouco.
então, por favor, senhores, quando forem encher a boca pra falar dos "prejuízos causados" por essa ou qualquer outra greve, lembrem-se que a vida de vocês (ou em nome de quem vocês falam) normalmente já é uma grande porcaria. quem perde com isso é quem TEM algo a perder e não quem trabalha durante o dia pelo alimento da noite...