sexta-feira, 12 de julho de 2013

canção de quase-amor

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vem aqui pra fora
que o céu está cinzento
e há tanto a se conversar

vem, mas não demora
que o dia logo acaba
desfaz-se o encantamento antes de começar

e se eu cair num poço fundo
de abraços quentes e velozes
ando em círculos desejando ser melhor ator
volto pra casa assoviando uma canção de quase-amor

vem, vamos embora
os prédios vão dançando
me ofereça a tua boca pra me consolar

eu sei que não é hora
de confessar meus devaneios
mas confundo gostar tanto com quase amar

e te ofereço a eternidade
meio ingênuo, meio fraude
viro água, pego fogo, colho a flor
te inundo, te incendeio, te mostro a dor
escancarada num sussurro,
que afaga teu ouvido
devora tua alma, transforma-se em vício
numa declaração de quase-amor

2 comentários:

Velha Thétis disse...

"O amor é fácil. O quase-amor é que é difícil."

--

É. Talvez seja o medo de cair num poço fundo de abraços quentes e velozes; talvez seja a vontade de se tornar melhor ator... o fato é que esse "quase-amor" mexe muito com nossas certezas, apesar de parecer algo que passaria batido por ser assim, cinzento, meio sem cores (como se imaginássemos a idéia do amor de verdade algo colorido e com fogos de artifício, talvez).

Meio ingênuo, meio fraude; temos o espírito, mas talvez não tenhamos a sensibilidade. Calejados emocionalmente, medrosos ou simplesmente descrentes na idéia da possibilidade de um sonho muito remoto guardado de amor, paixão correspondida. Me vêm à mente algo que é meio conduzido, mas que quer deixar-se conduzir. Esperando aquela virada que nos tiraria o fôlego... e que talvez nunca venha. Devaneio, confusão... parece que está em você e não no mundo. Parece que nos denuncia, que está escancarado, mas é duvidoso. De fora pra dentro e de dentro pra fora.

... quase-amores, quase sempre fora de hora. Quase sempre decepcionantes. Constantemente reprimidos.

--

Peixes - Mariana Aydar

Peixes são iguais a pássaros
Só que cantam sem ruído
Som que não vai ser ouvido

Voam águias pelas águas
Nadadeiras como asas
Que deslizam entre nuvens

Peixes, pássaros, pessoas
Nos aquários, nas gaiolas,
Pelas salas e sacadas
Afogados no destino
De morrer como decoração das casas

Nós vivemos como peixes
Com a voz que nós calamos
Com essa paz que não achamos

Nós morremos como peixes
Com amor que não vivemos
Satisfeitos? Mais ou menos

Todas as iscas que mordemos
Os anzóis atravessados
Nossos gritos abafados

Peixes, pássaros, pessoas
Nos aquários, nas gaiolas,
Pelas salas e sacadas
Afogados no destino
De morrer como decoração das casas

Nós vivemos como peixes
Com a voz que nós calamos
Com essa paz que não achamos

Nós morremos como peixes
Com amor que não vivemos
Satisfeitos? mais ou menos

Todas as iscas que mordemos
Os anzóis atravessados
Nossos gritos abafados

fernando disse...

é isso! o amor é fácil, é superlativo, espalhafatoso, cheio de si, saudável, bonito, seguro...
o quase-amor é que passeia pela corda bamba, inseguro, frágil, dúbio, engana e se engana...