"Ocorre que, por vivermos em um mundo plural, não podemos prever plenamente as consequências de nossas ações, e isto não se deve a uma deficiência cognitiva, mas sim a um certo grau de imprevisibilidade de toda ação, haja vista que, por estarmos inseridos em uma rede de relações, onde toda ação gera reações, não podemos saber integralmente qual o resultado do processo irreversível que desencadeamos no mundo. Por isso Arendt diz que apesar de agirmos, não somos os autores da história, pois o significado da mesma somente pode ser encontrado no 'fim', isto é, de maneira retrospectiva por quem se dispõe a narrá-la. Nessa linha, podemos dizer que a constituição de nós mesmos, de nossa biografia, do sentido de nossa existênca, bem como a constituição da comunidade política em que vivemos é uma atividade plural, que é incapaz de ser realizada solitariamente, pois a antes mencionada rede de relações que está por detrás dos negócios humanos não permite que realmente sejamos soberanos e onipotentes (...)."
(TORRES, Ana Paula Repolês. O Sentido da Política em Hannah Arendt.)
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Entrar em contato com as ideias de Hannah Arendt é sempre inspirador...
A maneira como ela coloca cada um de nós nos seu "devido lugar" (nada mais e nada menos) ao frisar que não somos capazes de constituirmos individualmente nem a nós mesmos e nem uma comunidade política é forte e original. Afinal de contas (e sendo esse um dos pontos mais marcantes de seu pensamento), é somente na interação entre os homens, no exercício da liberdade entre iguais que nos é possibilitado tanto a construção de nós mesmos enquanto pertencentes ao mundo, quanto a construção do próprio mundo, enquanto espaço para a ação do homem.
É através do olhar do(s) outro(s) que nos percebemos e é justamente a pluralidade de olhares e dos sujeitos que emergem a partir dessa relação que permite o surgimento do espaço público e da política, enquanto diálogo e troca.
Nesse sentido, gosto da ideia que ela elucida da história como algo que nos escapa, uma narrativa que se dá posteriormente aos acontecimentos,
quando alguém se prestará a narrá-los. Nós agimos no
presente, mas o significado e o desenrolar que nos levará a um "fim" é
sempre incerto, já que volátil.
Tampouco temos controle sobre a irradiação de nossas ações e não é no isolamento que se forma o "eu" e o "outro", mas antes nas reações às nossas ações, que ecoam por essa rede de relações e que inevitavelmente acabam voltando para nós mesmo das maneiras mais inimagináveis e constituindo de muitas formas o sentido de nossa existência.
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