Gostava quando você tossia. Alguma coisa em mim se animava ao ouvir aquele "cof, cof" (na falta de onomatopéia melhor...). Era você de volta. Era eu me apegando a qualquer coisa passada que me trouxesse um pouco de comforto. Um gesto tão inequivocamente seu, que eu sentia que você estava de volta. A mesma tosse que há muito tempo atrás vinha da cozinha e eu ouvia deitado no sofá da sala. A leveza por saber que você estava lá e que tudo estava bem. Nós sempre estamos nos gestos mais despretensiosos e corriqueiros: um jeito de apertar os lábios ou de ajeitar os óculos, de rir fechando os olhos, de andar devagar.
Às vezes me lembro... Uma lembrança débil, nebulosa, confusa, que se esforça pra se fazer presente. Me assusto com o fato de que cada vez menos consigo me lembrar de como era antes, lá atrás. Sinto dificuldade em aceitar que você não é mais e que, com isso, eu também sou menos. Porque a gente nunca é só a "gente" mesmo. Eu sou também o que os outros fazem de mim. E eu gostava tanto do que você me fazia ser...
Aí eu percebo que viver é sempre pela última vez. Percebe? Sou eu me fazendo e desfazendo continuamente. Às vezes na porrada! E sempre que eu ia embora e voltava você me jogava essa verdade inconveniente na cara. Ao não me chamar pelo nome, ao não me olhar nos olhos, ao não fazer o que você sempre fez, você negava um pouco a minha própria existência. Por isso era importante reconhecer e me apegar àquele seu pequeno gesto. Era eu sabendo que, afinal não estava perdido por completo. E eu pensava em você e no resto das coisas e de alguma forma percebia que é sempre pela última vez. No fundo eu sabia que partir é só uma questão de quando e que não me seria permitido ensaiar despedidas. Se assoprarmos a camada de rotina e fixidez que nos cobre e nos acalenta podemos perceber que é sim, sempre sobre adeus.
Então, adeus.
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