quinta-feira, 15 de maio de 2014

Algumas linhas sobre "O Passado"

Filme mais recente do diretor iraniano Asghar Farhadi, que ficou famoso por "Uma Separação " de 2010, que chegou a ganhar o Oscar de melhor filme estrangeiro (e que eu não vi).

Conta a história de um iraniano que vai para a França, a fim de formalizar seu divórcio com Marie, quatro anos depois de sua partida. Lá reencontra-se com a sua ex-mulher e as filhas dela (de um casamento anterior), Lucie e Lea e acaba conhecendo também o homem com quem Marie está envolvida, Samir, e seu filho, Fuad. O que começa como uma situação aparentemente sob controle (ainda que incomôda), vai se mostrando cada vez mais tensa e conflituosa.

É basicamente um grande drama familiar que se desvenda aos poucos, mostrando as relações dolorosas e cada vez mais complexas nas quais se inserem aqueles indivíduos. No começo sabemos muito pouco sobre as motivações de cada um e é muito lentamente que vamos entrando em contato (ainda que nunca totalmente) com aquelas pessoas. Como uma sombra, o passado a que remete o título afeta a todos de diferentes formas. A filha mais velha, Lucie, se opõe ao novo casamento da mãe e se mostra bastante arredia por algum motivo. A (ex) mulher de Samir está em coma, também por motivos desconhecidos de início. O próprio Ahmad se vê envolvido até o pescoço com os problemas da família que deixou pra trás, sendo que, inclusive sua situação com Marie se mostra um tanto quanto mal-resolvida. As camadas de complicações vão se sucedendo e se acumulando gradativamente e a história toda fica cada vez mais problemática e de difícil solução. As crianças, Lea e principalmente Fuad, são especialmente afetadas, ficam no meio de todas as brigas sem conseguir entender o que está acontecendo.

A atmosfera toda do filme é triste e pesada, mas sem nunca cair no melodramático ou no simplório. São pessoas normais, em suas vidas comuns, lidando com situações passíveis de acontecer com qualquer um. E acho que o que mais me prendeu à narrativa toda tenha sido justamente essa capacidade de se contar uma história dessas com muito equilíbrio e honestidade. Não cai na tentação de se facilitar tomando partido e definindo quem está certo e o errado, ou quem praticas boas ou más ações. São somente pessoas sendo pessoas, lidando com seus anseios, ciúmes, remorso, raiva, insegurança, da melhor forma que conseguem e por isso acabam, justamente por isso se machucando e machucando os outros a seu redor. Mas para mim é justamente dessa sensibilidade em captar a fragilidade humana que nasce a maior qualidade do filme.



Nenhum comentário: