terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Algumas linha sobre "Ida"


e minha primeira incursão numa sala de cinema este ano não poderia ter sido melhor! Ida (2013) é um filme incrivelmente bonito, visualmente delicado e bem construído, numa sucessão por vezes brusca de quadros estáticos e frios. a fato de ter sido filmado em preto e branco e o enquadramento dos personagens na parte inferior da tela (e acima de suas cabeças grandes paredes brancas ou o céu nublado) só reforça a sensação de desconforto e vazio em que se encontram.

o filme se passa na Polônia dos anos 60 e conta a história de Anna, uma orfã crescida num orfanato católico, que às vésperas de se tornar freira fica sabendo que possui uma tia, sua única parente viva e que, por orientação da madre superiora, ela deve ir visitá-la antes de fazer seus votos. nada mais oposto à realidade daquela menina que "nunca tinha estado em lugar nenhum" do que entrar em contato com o modo de vida da tia, que mistura uma melancolia intrínseca à excessos de sexo, bebidas e tabaco. apesar do choque inicial desse encontro e de ser recebida com uma certa frieza, elas acabam se unindo pela frágil reminiscência de um passado em comum e pegando a estrada a fim de tentar descobrir onde os pais de Anna (judeus na época da II guerra) haviam morrido e sido enterrados.

não quero contar mais da história, que acaba não se resumindo à busca pelo passado perdido ou ao encontro dessas duas mulheres tão diferentes entre si. no caminho a relação entre tia e sobrinha se desenvolve, entre estranhamentos e afetos rotos, mas são mundos que nunca chegam a ser interpenetrar totalmente e que, apesar de ter um entroncamento em comum (a morte da mãe/ irmã de uma forma cruel), acabam permanecendo distanciadas. no fim da viagem, algumas perguntas são respondidas, porém outras continuam em aberto, as quais cada uma delas encara de sua própria maneira. 

a trajetória individual de Anna, antes aparentemente inequívoca, já que sem alternativas, é estremecida diante do descortinamento de seu passado e seu crescimento passa a depender também da maneira como ela aprende a lidar com essas novas formas de interação e de pertencimento ao mundo. nesse sentido, achei o desfecho fascinante, quando, após um momento de busca e reavaliação de si, acaba se sentindo pronta para optar por um caminho.

enfim, definitivamente não fui capaz de transpor a essência que tanto me agradou neste filme. vale o registro e a vontade de revê-lo.




quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Um pouco de cinema em 2014

Acho que não vi tantos filmes sensacionais no ano que passou. Talvez tenha tentado arriscar um pouco mais nas escolhas e visto coisas que variam entre ruins, médias e boas (mas esquecíveis).De qualquer forma, os que vêm abaixo são aqueles que acabaram por despertar mais meu interesse, cada um a sua maneira.

O Lobo de Wall Street: Ótimo roteiro e ótima interpretação do Leonardo Di Caprio (de novo), no papel de um sacana que se dá bem no mercado financeiro. O filme é ágil, inteligente e principalmente divertido, contando a história de pessoas alucinadas ganhando muito dinheiro e queimando-o das maneiras mais extravagantes. 

O Passado:  Já tinha escrito sobre ele antes (leia aqui). É um drama familiar, contado com destreza e sensibilidade, no qual os relacionamentos, passados e presentes, são expostos, revelando um redemoinho de segredos, sentimentos e problemas mal-resolvidos.

Magia ao Luar: Desde 1982, todo ano tem filme novo do W. Allen (sorte minha!). Gostei deste mais do que do Blue Jasmine (2013). Sua ambientação (sul da França da década de 20) é muito bonita e os protagonistas são cativantes. Ainda que tenha perceptivelmente um roteiro menos ambicioso, chegando a repetir alguns temas de filmes anteriores (magia/ misticismo x ceticismo) , é um filme leve e bem divertido.

Relatos Selvagens: Normalmente não gosto tanto de filmes compostos por pequenas histórias fechadas e independentes, mas este sem dúvida briga com O Lobo de Wall Street pelo título de melhor filme do ano. Roteiro genial, com humor negro e violência na medida certa, relatando situações em que pessoas normais simplesmente perdem o controle. Além disso, fiquei impressionado como a narrativa flui bem, sempre criando um impacto. Já tinha escrito sobre ele aqui.

Miss Violence: Seu maior mérito, para mim, é a forma original como trata de temas pessadíssimos como o incesto e a pedofilia e como tais perversidades tomam conta das pessoas ao seu redor. Tem uma narrativa lenta e tom seco e pesado, que acabam por passar uma sensação de repugnância, revelando aos poucos o terror de uma família atormentada.

O Critico: Ótima comédia romântica que brinca com os clichês do gênero. Conta a história de um crítico de cinema ranzinza e fechado, rigoroso em suas críticas sobre os filmes atuais (principalmente quanto às comédias românticas), que, por um "acaso do destino", passa a viver uma típica história de amor. Gostei muito da forma irônica e bem humorada como retratam o "especialista da sétima arte" e os desdobramentos de seu inesperado caso de amor.