"Ele [Schopenhauer]
entendeu que se pudermos reconhecer que nossa separação do universo é
essencialmente uma ilusão (porque as vontade individuais e a Vontade do
universo são uma única coisa) podemos descobrir uma empatia com o mundo e tudo
o mais, e a bondade moral pode surgir de uma compaixão universal."
(O Livro da Filosofia)
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às vezes me perguntam no
que eu acredito, metafisicamente falando. penso bastante sobre o assunto, mas acho que acredito
mesmo em muito pouca coisa. não consigo deixar de perceber, aqui e ali, a
limitação e a fragilidade dos grandes sistemas cosmológicos, o absurdo das
explicações do universo e das revelações religiosas. principalmente não
acredito nos homens que as professam.
mas se tem um raciocínio
que me é particularmente instigante é o de Schopenhauer, acima. a ideia de que cada um de nós,
enquanto indivíduos, estamos essencial e irreversivelmente ligados uns aos outros, e mais,
ligados ao universo como um todo, me parece fazer bastante sentido. estamos
todos no mesmo barco, não temos pra onde fugir, carregamos entre nós muito mais
identidades do que diferenças. enquanto espécie, compartilhamos os mesmos vícios e virtudes em potencial e funcionamos de um jeito muito parecidos, através da vontade, diria
Schopenhauer, essa força indefinida presente em tudo e que leva o homem a
desejar e a buscar sempre mais.
o que são todas as
tragédias humanas, lutas, guerras, injustiças, opressões, sofrimento, que não, de uma forma ou de
outra a intolerância, a negação do outro e a busca quase irrefreável por algo mais? acreditamos que somos diferentes,
que estamos mais certos/ mais iluminados/ mais escolhidos por deus e que devemos
fazer valer essa diferença, nos auto afirmar e nos impor sobre o outro, exercer domínio, quando na
verdade o que temos é uma origem, um destino e um fim basicamente comuns.
não que eu compre tais ideias necessariamente como Verdade absoluta, acho que se simplifica em alguns pontos e acaba beirando ao misticismo. Também não nego a condição propriamente conflituosa das relações humanas, mas acho, sim, que é essa uma interpretação muito menos belicosa e
destrutiva, ainda que utópica, de nos esforçarmos para criar pontos de tolerância, empatia
e identificação com o outro (seja seu vizinho, seja o País no outro lado do
mundo) e que de alguma forma arrefeçam (ou escancarem quão ridícula e vazia é) essa
gana humana pelo exercício de supremacia e dominação.
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