Queria a palavra sem alamares, sem
chatilenas, sem suspensórios, sem
talabartes, sem paramentos, sem diademas,
sem ademanes, sem colarinho.
Eu queria a palavra limpa de solene.
Limpa de soberba, limpa de melenas.
Eu queria ficar mais porcaria nas palavras.
Eu não queria colher nenhum pendão com elas.
Queria ser apenas relativo de águas.
Queria ser admirado pelos pássaros.
Eu queria sempre a palavra no áspero dela.
(Manoel de Barros, Poemas Rupestres)
segunda-feira, 25 de julho de 2016
terça-feira, 12 de julho de 2016
"Temos aí uma definição de literatura: a arte de provocar, com palavras, o gozo de fingir que se sofre. As palavras-chave desta definição são: palavras, gozo, fingir. Sofrer também é, mas devemos trocá-la por paixão, de forma a incluir a sensação que lhe parece oposta: paixão é tristeza e alegria, indiferentemente. Ou como dizia Aristóteles, 'tudo o que faz variar os juízos e de que se seguem sofrimento e prazer'. Um choro de Pixinguinha (1898-1973) se intitula 'Sofres porque queres' - e é também boa definição da estesia literária.
Amar literatura é, pois, um vício: o do gozo fingido, ou do fingimento gozoso"
(SANTOS, Joel Rufino dos. Quem Ama Literatura não Estuda Literatura: Ensaios Indisciplinados. p. 13 e 14. Rocco, 2008)
___________________________
Quando eu abro esse livro é sempre para (re)aprender alguma coisa.
Para não esquecer do que de fato importa e é substancial. O que tem de fato nos movido nos últimos milênios. Não o intelectualismo grave e pedante, vazio e orgulhoso de si, mas a pulsão criativa, a necessidade de se ir além do (e através do) ser humano e imaginarmos outras vidas, tantas quanto possíveis.
"a poesia nasce do espanto" e nós renascemos através da poesia.
Amar literatura é, pois, um vício: o do gozo fingido, ou do fingimento gozoso"
(SANTOS, Joel Rufino dos. Quem Ama Literatura não Estuda Literatura: Ensaios Indisciplinados. p. 13 e 14. Rocco, 2008)
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Quando eu abro esse livro é sempre para (re)aprender alguma coisa.
Para não esquecer do que de fato importa e é substancial. O que tem de fato nos movido nos últimos milênios. Não o intelectualismo grave e pedante, vazio e orgulhoso de si, mas a pulsão criativa, a necessidade de se ir além do (e através do) ser humano e imaginarmos outras vidas, tantas quanto possíveis.
"a poesia nasce do espanto" e nós renascemos através da poesia.
sábado, 9 de julho de 2016
a vitória nossa de cada dia
"Eu não digo que eu tenha muito, mas tenho ainda a procura intensa e uma esperança violenta.(...) E eu não choro, se for preciso eu grito, Lóri. Estou em plena luta e muito perto do que se chama de pobre vitória humana do que você, mas é vitória. Eu já poderia ter você com o meu corpo e minha alma. Esperarei nem que sejam anos que você também tenha corpo-alma para amar. Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira. Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. não temos aceito o que não se entendo porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amos diga: tens medo. Temos organizado associação e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rimos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer 'pelo menos não fui tolo' e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia."
(LISPECTOR, Clarice; "Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres")
sábado, 2 de julho de 2016
final de uma ode
'(...) Quisera dividir o corpo em heterônimos - medito aqui no chão, imóvel tóxico do tempo."
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