quarta-feira, 13 de maio de 2009

Há duas formas de ver a vida,não, na verdade há mais (sempre!), mas quero falar sobre duas em específico, sobre as quais tenho pensado com maior seriedade.

A primeira é crer que - seja um indivíduo em particular, seja a humanidade como um todo - existe um fluxo contínuo, que através de etapas leve a um "fim último" das coisas. É como se tudo estivesse linearmente intrincado pela idéia do progresso. Esse fim pode ser tanto o sucesso profissional quanto a elevação espiritual/ religiosa. No caso da história, poderia-se pensar nas sociedades como organizadas entre menos e mais desenvolvidas, por qualquer critério que seja (normalmente usa-se o econômico, técnico-científico, bélico e político). Dessa forma, as sociedades poderiam ser colocadas num contínuo, que as diferencia e as hierarquiza, sendo que a inferiores teriam que subir os degraus do progresso, assim como fizeram as mais avançadas. É comum crer que quanto mais um país produz, quanto maior sua capacidade tecnológica, mais próximo ele está de um estágio ideal de desenvolvimento, supostamente claro e desejável por todos. Ou ainda o desenrolar da história inequivocamente levando-nos ao fim dela (como em diversas religiões e na teoria marxista ortodoxa da história).

A segunda maneira, mais condizente com meu pensamento é a vida em sentido amplo se desenrolando como uma coleção mais ou menos indefinida de acontecimentos, que não seguem uma lógica superior (oracular, pré-determinada) e nem uma linearidade que nos permita traçar de antemão um objetivo ideal. Se eles (os objetivos) existem, são construido por nós a partir do "caos", do indefinido. Ou seja, no plano individual há sempre uma ideia de "ganha-se aqui, perde-se ali". Trata-se sempre de escolhas a partir de um leque amplo de opções, de abrir mão de algo em favor de outras coisas, mesmo quando não nos resta a menor dúvida sobre o que queremos. Seguir um caminho (ou construí-lo no decorrer do tempo) é deixar de seguir todos os outros, é estar à mercê de idas e vindas, avanços e retrocessos, que podemos ou não considerar como o "caminho que deveríamos ter traçado desde o início". Estar em uma posição (na carreira profissional, por exemplo), significa não estar em todas as outras, em ganhar em certos pontos, mas perder em muitos outros.
O mesmo valeria para a história num sentido macro. O que se vê como linear é um sucessão de acontecimentos, que encadeados formam uma narrativa histórica (normalmente do ponto de vista dos vencedores, que afirmam que aquele é o caminho que deveria, inevitavelmente, ser trilhado). Ao trilhá-lo, porém, seguiu-se um caminho dentre outros possíveis. O avanço tecnológico, aclamado como avanço da humanidade como um todo, pode ser considerado como uma particularidade cultural, um símbolo e uma ideologia (no sentido de um conjunto de idéias e valores restritas no espaço e no tempo) de determinadas sociedades. Ou seja, está circunscrito nas sociedades que lhe dão valor, que criam uma significação para ela. Assim, como outras formas de ver o mundo, outras cosmologias, podem levar a interpretações diversas sobre o avanço (ou não) da humanidade.

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Engraçado, isso me vem à cabeça quando vejo pessoas defendendo tal ou qual objetivo de vida, como o sucesso financeiro, por exemplo. Parece-me muito evidente que assim como ele traz benefícios, também traz limitações.
Mas como explicar para algumas pessoas que aparecer na "Caras" e possuir jóias pode não ser um desejo absoluto?

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