terça-feira, 19 de maio de 2009

Algumas linhas sobre "O Fingidor"

Vi um tempo atrás à peça "O Fingidor", baseada em Fernando Pessoa. Apesar de resgatar em linhas gerais o personagem, a história é fictícia. Mostra Pessoa, a partir de uma crise sobre si e sua poesia, passando-se por Jorge (outro heterônimo?) e indo trabalhar como datilógrafo para um escritor literário que estava justamente preparando uma apresentação sobre seu trabalho.
Não vou contar mais partes de história. Só fique registrado que é interessante ver uma figura como essa retratada, ainda que de maneira aproximada. Mais legal ainda foi ver os heterônimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis "encarnados", ainda que fruto da imaginação do autor. Deu pra dar um rosto e uma personalidade um tanto mais condensada para eles, para além de meras descrições ou da idéia que fazemos a partir das obras de cada um. Mas claro, sempre fica uma sensação do tipo "ah, imaginava eles de forma diferente...". Comigo isso ocorreu principalmente com o Alberto Caeiro, que eu imaginava um pouco mais "rústico". Outro ponto interessante é a relação conflituosa entre o ortônimo e seus heterônimos, que chegam a ganhar certa vida própria e evidenciam o não tão simples processo criativo do poeta.


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Em tempo: Acredito que o título se refira ao fato do personagem fingir ser outra pessoa e através desse fingimento se dar o argumento principal da história, mas também ao próprio ofício de poeta:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

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