eu sou muro.
nasci muro...
sem entender os mundos
(de cada lado das minhas faces)
cresci muro.
eu sou muro...
nascido na surdina
(sem alarde)
eu sou muro.
vivo muro...
desmoronado
(desfeito em partes).
[solilóquio camiphili]
______________________________
I. Não sei até que ponto é apropriação indébita, mas pensei muito nesse poema a partir de uma posição de mundo. O muro que não entende o que ocorre dos dois lados dele e portanto permanece na surdina, na sua condição de (estar em cima do) muro. Já me falaram que adoto tal posição frente a uma série de questões, discordo, acho simplificador e taxativo demais, mas no fim acho que é isso mesmo: o muro não entende os lados. Gosto da liberdade que uma visão ampla permite e penso que sem muro seria tudo uma coisa só. Então não o reifiquemos. Ele não esteve sempre lá. Nasceu na surdina, sem que percebemos e quanto mais pedras nas mãos maior é sua altura.
II. Porém, esse mesmo muro está desmoronado. E isso me deu uma idéia de como algo sólido e resistente (como um muro deveria ser), pode apresentar sinais de fraqueza e fragmentação. Ele não esteve sempre lá e pode ser que deixe de estar mais dia ou menos dia.
III. Um último pensamento que tal muro evoca é o de seu papel de separar o que antes era único. Colocado no meio, causa e consequência de diferenças que surgem de um lado e do outro. Cria diferenças e é criado por elas, possibilita a distinção entre o cá e o lá. E por ser muro impede que um enxergue o outro como um igual. São demonstração de força e coerção. São os muros dos presídios, dos manicômios, das escolas, das mansões, do apartheid e da xenofobia. Só não saberia dizer em qual dos dois lados estão os "livres" e os "cativos".
P.S. foi retirado daqui http://inversoscamifelling.blogspot.com/2009/07/blog-post_16.html#comments
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
terça-feira, 20 de outubro de 2009
"os idiotas", de lars von trier.
estranho como não sei direito o que pensar desse filme, como se não houvesse um "chão", uma "base" da qual partir um entendimento.
tudo é muito estranho e nem esse estranhamento eu consigo racionalizar direito.
trata-se de um grupo de pessoas que se reunem para fazer "idiotices" (bancarem os doentes mentais) entre si e em situações do dia-a-dia.
claro, isso gera muitas cenas engraçadas, mas é também algo meio angustiante.
percebe-se que aquilo ali não é comédia.
também discordo que seja "uma forma de protesto", como li alguém defender ou que tenha um significado qualquer (pelo menos que seja perceptível de pronto).
até para os próprios personagens, aquilo não tem um significado coerente.
seria algo meio niilista?
vejo a negação de muitas coisas, mas de uma maneira velada e esquizofrênica.
acho o foco (pelo menos consegui digerir melhor assim) seja realmente as sensações que geram aquelas situações despropositadas.
e se isso importar, achei o filme tenso e pertubador (por que exatamente, não sei).
o jeitão de documentário com o qual ele grava meio que enfatiza essa tensão e a agonia.
aliás estranho como os filmes desse diretor são sempre pertubadores.
sinto que os seres humanos são retratados sempre de maneira mais nua e crua (cruel?), principalmente sem o glamour do cinema.
seus personagens são deploráveis e se relacionam uns com os outros (e consigo mesmo) de maneira caótica.
mas também não sei exatamente o que pensar sobre isso...
estranho como não sei direito o que pensar desse filme, como se não houvesse um "chão", uma "base" da qual partir um entendimento.
tudo é muito estranho e nem esse estranhamento eu consigo racionalizar direito.
trata-se de um grupo de pessoas que se reunem para fazer "idiotices" (bancarem os doentes mentais) entre si e em situações do dia-a-dia.
claro, isso gera muitas cenas engraçadas, mas é também algo meio angustiante.
percebe-se que aquilo ali não é comédia.
também discordo que seja "uma forma de protesto", como li alguém defender ou que tenha um significado qualquer (pelo menos que seja perceptível de pronto).
até para os próprios personagens, aquilo não tem um significado coerente.
seria algo meio niilista?
vejo a negação de muitas coisas, mas de uma maneira velada e esquizofrênica.
acho o foco (pelo menos consegui digerir melhor assim) seja realmente as sensações que geram aquelas situações despropositadas.
e se isso importar, achei o filme tenso e pertubador (por que exatamente, não sei).
o jeitão de documentário com o qual ele grava meio que enfatiza essa tensão e a agonia.
aliás estranho como os filmes desse diretor são sempre pertubadores.
sinto que os seres humanos são retratados sempre de maneira mais nua e crua (cruel?), principalmente sem o glamour do cinema.
seus personagens são deploráveis e se relacionam uns com os outros (e consigo mesmo) de maneira caótica.
mas também não sei exatamente o que pensar sobre isso...
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
estão se esforçando para tornar o mundo num lugar politicamente correto.
temos que conformar nossa maneira de pensar e principalmente de se expressar de acordo com o que se considera moral e adequado.
as idéias têm de ser inofensivas, quase café-com-leite. têm que se adequar a cartilha.
cria-se uma patrulha que policia o que se diz, de forma que é melhor pensar duas vezes antes de que sua opinião seja conhecida por mais alguém além de você.
ou ainda, mesmo que não seja SUA opinião, trabalhar certas idéias ou citar determinados conceitos ou pontos de vista é alarmar determinados grupos preocupados em manter a higiene mental e os bons costumes da sociedade ou a imagem de certos grupos imaculada.
há uma série de palavras que se deve evitar, temas sobre os quais se deve silenciar, ou caso os aborde tenha cuidado sobre como falar:
use com frequência eufemismos, nunca se utilize de sarcasmo (se a patrulha não entender vai te massacrar), piadas de humor negro jamais e se for usar uma expressão um pouco mais "pesada" se justifique e peça desculpas por antecipação.
estamos o tempo todo pisando em ovos...
as idéias devem ser um tanto quanto perigosas, corrosivas.
para que novas surjam, devem confrontar algumas passadas, que causem polêmica e que gerem discussão.
querer que se silencie sobre deteminados assuntos (ou conformá-los em uma bolha nas quais perde-se em autonomia e espontaneidade) é tentar mantê-lo igual. ou mudar somente a casca fina sob a qual ele se apresenta.
nada disso é possível num espaço que se quer cada vez mais encolhido e restrito ao que se considera correto, bonitinho e sadio. respeito ao próximo não é isso.
o máximo que se consegue é, quando muito, padronizar as ações e esterelizar o debate, tornando tudo muito chato e repetitivo.
é mais do que óbvio que CONCORDO que algum limite tenha que ter.
não estou defendo que se deve dizer o que se queira de qualquer pessoa ou grupo de pessoas.
só que o limite tem que ser dado pelo bom senso e pela responsabilização de quem diz o quê.
não é por que um pouco de deboche e transgressão as boas maneiras seja interessante, que não se deva cobrar um pouco de bom senso e, principalmente (se o bom senso falhar) responsabilidade sobre o que se diz.
prezo pelo respeito e valorizo que determinadas pessoas lutem para conquistá-lo, porém, acho que ingenuamente se confunde esse respeito com o politicamanente correto, que é hipócrita e simplesmente coloca a sujeira embaixo do tapete.
"certo, não falaremos disso ou daquilo, mas isso não significa que mudamos a nossa maneira de pensar e muito menos de agir".
temos que conformar nossa maneira de pensar e principalmente de se expressar de acordo com o que se considera moral e adequado.
as idéias têm de ser inofensivas, quase café-com-leite. têm que se adequar a cartilha.
cria-se uma patrulha que policia o que se diz, de forma que é melhor pensar duas vezes antes de que sua opinião seja conhecida por mais alguém além de você.
ou ainda, mesmo que não seja SUA opinião, trabalhar certas idéias ou citar determinados conceitos ou pontos de vista é alarmar determinados grupos preocupados em manter a higiene mental e os bons costumes da sociedade ou a imagem de certos grupos imaculada.
há uma série de palavras que se deve evitar, temas sobre os quais se deve silenciar, ou caso os aborde tenha cuidado sobre como falar:
use com frequência eufemismos, nunca se utilize de sarcasmo (se a patrulha não entender vai te massacrar), piadas de humor negro jamais e se for usar uma expressão um pouco mais "pesada" se justifique e peça desculpas por antecipação.
estamos o tempo todo pisando em ovos...
as idéias devem ser um tanto quanto perigosas, corrosivas.
para que novas surjam, devem confrontar algumas passadas, que causem polêmica e que gerem discussão.
querer que se silencie sobre deteminados assuntos (ou conformá-los em uma bolha nas quais perde-se em autonomia e espontaneidade) é tentar mantê-lo igual. ou mudar somente a casca fina sob a qual ele se apresenta.
nada disso é possível num espaço que se quer cada vez mais encolhido e restrito ao que se considera correto, bonitinho e sadio. respeito ao próximo não é isso.
o máximo que se consegue é, quando muito, padronizar as ações e esterelizar o debate, tornando tudo muito chato e repetitivo.
é mais do que óbvio que CONCORDO que algum limite tenha que ter.
não estou defendo que se deve dizer o que se queira de qualquer pessoa ou grupo de pessoas.
só que o limite tem que ser dado pelo bom senso e pela responsabilização de quem diz o quê.
não é por que um pouco de deboche e transgressão as boas maneiras seja interessante, que não se deva cobrar um pouco de bom senso e, principalmente (se o bom senso falhar) responsabilidade sobre o que se diz.
prezo pelo respeito e valorizo que determinadas pessoas lutem para conquistá-lo, porém, acho que ingenuamente se confunde esse respeito com o politicamanente correto, que é hipócrita e simplesmente coloca a sujeira embaixo do tapete.
"certo, não falaremos disso ou daquilo, mas isso não significa que mudamos a nossa maneira de pensar e muito menos de agir".
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