terça-feira, 2 de fevereiro de 2010


"[...] Para não falar do candidato a campeão mundial de desigualdade econômica, o Brasil. Nesse monumento de injustiça social, os 20% mais pobres da população dividiam entre si 2,5% da renda total da nação, enquanto os 20% mais ricos ficavam com quase dois terços dessa renda (UN World Development, 1992, pp. 276-7; Human Development, 1991, pp. 152-3, 186)."

(HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: O Breve Século XX, pág. 397. Editora Companhia das Letras)


Não que essa informação seja exatamente uma novidade, mas lê-la colocada dessa maneira, ainda mais evidenciando-se a posição de nosso país como campeão (ou quase) de desigualdade, salta às vistas e choca. Veja bem, não é questão de pobreza, mas sim de concentração excessiva de renda.

Ainda que seja difícil ter a real noção desse problema em sua abrangência (que remete às origens e ao desenvolvimento do Brasil enquanto nação) e em seus efeitos práticos, se só olharmos a proporção de azul e de amarelo entre o primeiro e o segundo gráficos (feitos porcamente por mim) já nos permite visualizar o abismo que se forma entre as camadas sociais que compõem o Brasil. Fosse um gráfico sobre a divisão de biscoitos (desculpe pelo exemplo), 20 pessoas ficariam com 2,5 biscoitos enquanto outras 20 teriam 65 para si. Seria simples se isso não determinasse quem vive e quem morre (ou sobrevive) em nossa sociedade. Sim, não é questão de partilha de bens de luxo e comodidade; trata-se de acesso a meios básico e indispensáveis de sobrevivência.

Esses dados são do início da década de 90, pode ser que alguma coisa tenha mudado, porém não acredito que o alerta deva ser menor nos dias de hoje. Ainda mais que tal cenário é mantido por grupos que tentam legitimá-lo por diversos meios, seja pela moral, pela religião ou pela ideologia no livre mercado e no laissez faire. Defensores do status quo não titubeiam em criminalizar a pobreza de forma irrestrita, reforçando esteriótipos e preconceitos há muito difundidos. Cinicamente mascaram as origens dessa desigualdade sob o discurso reificante do neoliberalismo.

Enfim, não queria que soasse panfletário ou que parecesse uma questão simples. Não é. Mas também não concordo que convivamos diariamente com essa situação que muitas vezes passa quase despercebida, silenciosos que são os que sofrem seus efeitos. Independente de qualquer coisa - ideologia, orientação política, religião, etc... - não é justificável que tal estrutura social se matenha.

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