quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Estilhaçando e Recompondo

não vou lamentar um coração estilhaçado, perdido em muitos pedaços. não vou dizer que o prefiriria inteiro e indivisível (de ferro!), ainda que isso possa ser verdade. não farei isso agora (acho que isso eu já fiz demais)... quero antes olhá-lo, atento e curioso, na impossibilidade de esquecê-lo por completo, de deixá-lo por aí como uma coisa natural (a apodrecer naturalmente) e que a gente nem se dá conta .

é... tudo leva a crer que meu coração foi feito mesmo para estar por aí, espalhado por entre pessoas e lugares; para que eu o perca sempre e nunca tente encontrá-lo. por mais que às vezes seja essa minha vontade, não é comigo que ele deve estar, ainda que assim fosse mais fácil, mais seguro... e há cacos dele por todo o canto! frequentemente encontro pedaços no caminho do ônibus ou em fotos antigas, em lugares que nunca estive ou nos quais eu sempre estou e aquilo faz todo sentido pra mim! fico um tempão sem passar por aquela rua ou sem me lembrar daquela(s) pessoa(s) e quando o faço (por mero acaso ou não) percebo o quanto de mim ainda está lá... e acho que é por isso que sinto tanta saudade, tanta nostalgia: é o tanto de mim que espalho no mundo, e o meu coração é muito menor que o mundo...

pessoas que nem imaginam carregam pedaços (às vezes enormes!) dele. muitas vezes prefiro que não saibam mesmo, não vem ao caso. disfarçadamente coloco  no bolso do casaco ou na mochila e eles nem desconfiam que daquele momento em diante é um pedaço de mim (e do que há em mim de mais importante) que vai com eles, mesmo que não queiram, mesmo que preferissem que não fossem assim...

e assim eu procuro passar meus dias, estilhaçando e recompondo. desculpe-me, mas é que eu não sei fazer de outro jeito.
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"Amigos morrem,
as ruas morrem,
as casas morrem.
Os homens se amparam em retratos.
Ou no coração de outros homens."

(Ferreira Gullar)

ainda sobre isso aqui: http://carbonoeamoniaco.blogspot.com/2010/05/cardiologico.html

2 comentários:

Anônimo disse...

E, quem quer lamentar, verdadeiramente, o estilhaço, o partido, o que foi, o que era????? Todos queremos é compor, é fazer, é construir é, pelo menos, e à falta de melhor, reconstruir.

Um abraço (encontro-me também aqui: www.oromeuqueseperdeu.blogspot.com)

fernando disse...

não sei... o estilhaçar, ainda que traga boas experiências, que nos permita estar mais atento à vida e ao que nos rodeia, não deixa de ser algo arriscado e doloroso... deixar pedaços de si por aí é perder o controle e "dar-se ao mundo".

mas, ei, acho que no fim das contas é isso que vale!