sexta-feira, 3 de junho de 2011

considerações sobre o politicamente incorreto

vivemos numa época chata. somos policiados o tempo inteiro sobre o que dizemos. abordar assuntos polêmicos é proibido, a não ser que você vá simplesmente soltar algum bordão já consolidado e aceito sobre o tema. a liberdade de expressão só é permitida para você se expressar segundo a cartilha. caso contrário vai ter sempre alguém ofendido com o que foi dito. escrevo isso pensando em alguns acontecimentos dos últimos dias.

o primeiro é o fato de o diretor lars von trier ter dito no festival de cannes que "entendia hitler" e que "simpatizava um pouco com ele" o que levou os organizadores a ficarem aterrorizados e o expulsarem de pronto do evento, como "persona non grata". e essa é uma boa lição: nunca, jamais, demonstre qualquer tipo de empatia ou evidencie nenhum traço positivo da personalidade de hitler ou da alemanha nazista (a história definiu muito bem quem eram os mocinhos e os bandidos do início do século passado). e não estou dizendo que tenham (traços positivos), só estou dizendo que, se você for falar dele (principalmente em público) deve falar que ele era mau, tudo que ele fez foi ruim e que ele era o anticristo em pessoa. não relativize, não coloque em dúvida essas palavras. simples assim. caso contrário você vai ser inapelavemente repreendido e você vai passar a ser um "nazi nojento". mesmo que seja um comentário irônico, pelo sim, pelo não, os alarmados moralistas de plantão vão te execrar antes que tenha chance de se explicar. e isso que aconteceu foi ridículo. por mais que os organizadores do festival e 95% dos participantes discordem das opiniões (ou provocações) do cara, ele não disse nada de mais, ele não defendeu o holocausto, não se auto-intitulou herdeiro ideológico de hitler, não exaltou os feitos do nazismo, nem nada. o que ele fez foi dizer que "simpatizava um pouco com ele".
o outro caso é ainda pior. vejam um trecho de notícia retirado do site da folha: "Entidades do movimento gay reclamaram de comentários de Marcos Mion no 'Legendários', da Record. Durante o programa, o apresentador disse que a drag queen Nany People 'tem surpresinha' e perguntou 'o que ela faz com o pacote' na hora do banho." Puta que pariu! Um programa de humor (tosco, mas ainda assim sem a intenção de ser sério) vai ser processado por que fez gracejos com uma pessoa que participava do programa de livre e espontânea vontade. sinceramente, já vi piadas com gays, travestis, drag queens, transexuais, muitos mais pesadas (essa foi pesada? chegou a ser uma piada?) do que essa e nunca ouvi falar de alguém ser processado. A própria Nany People disse que ficou surpresa quando ficou sabendo que ele seria processado. Afinal fazer referência jocosa a homens travestidos de mulheres, dizendo que eles continuam tendo "o orgão sexual masculino" e perguntar o que é feito dele na hora do banho não pode ser considerado ofensivo. eu tenho uma opinião bem consolidada quanto ao direito das pessoas à diversidade sexual, afetiva e comportamental, mas também sou a favor da piada.

Enfim, estou ficando cansando da quantidade de situações similares que encontro diariamente num simples passar de olho em algum site de notícia. Acredito na liberdade, no respeito e na convivência harmoniosa das pessoas, cada uma com suas inúmeras diferenças em todos os aspectos e acho que a liberdade de expressão é parte fundamental para aprofundarmos esses ideais em nossa sociedade. essa tentativa de moralização, de assepsia mental das pessoas é ridícula, é emburrecedora. parece um monte de criancinha dedurando uns aos outros pra professora e só ganha ponto positivo os robozinhos que entoam o mantra do politicamente correto. não nos deixa tomar contato com os diversos assuntos que nos rodeiam, por serem eles proibidos, ou tentar impor uma única forma de pensar é facista (taí outra palavra que foi esvaziada de sentido, já que tentam abarcar tudo que é ruim nela).


E assim, tentando desenraizar preconceitos, outros vão sendo criados. saímos de ideias formadas de antemão caímos em outras. tentando fugir da intolerância, parece que nos aproximamos mais ainda dela. o articulista helio schwartsman citou uma frase interessante de chomsky sobre este assunto, de uma maneira que ainda não tinha parado pra pensar:  "Se você acredita em liberdade de expressão, então acredita em liberdade para exprimir opiniões que você não gosta. Stálin e Hitler, por exemplo, eram ditadores favoráveis à liberdade de exprimir apenas opiniões que eles gostavam. Se você é a favor da liberdade de expressão, isso significa que você é a favor da liberdade de exprimir precisamente as opiniões que você despreza". é este o desafio, mais do que falar o que se quer é ouvir o que não se quer. mesmo que sejam comentários dispensáveis ou piadinhas bobas.

P.S.: é como disse nando reis, "hoje em dia nenhuma rádio tocaria 'Atirei o pau no gato' com medo de acusarem de anti-felinos".

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