sexta-feira, 2 de setembro de 2011

algumas linhas sobre anjo negro



quanto mais eu leio nelson rodrigues, mais eu me fascino.

terminei hoje "anjo negro", talvez sua obra mais polêmica (do pouco que eu conheço, com certeza é). tanto que ficou censurado por um bom tempo. afinal, se hoje em dia já é complicado falar de incesto, pedofília, racismo, infanticídio, imagina na década de 40. tudo isso na peculiar aura de morbidez e insanidade que está presente nas relações conjugais e familiares de seus personagens.

a história de anjo negro gira em torno de ismael, um negro com profundo ódio de sua cor (o que o leva inclusive a rejeitar a própria mãe e lutar obstinadamente para ascender socialmente e tornar-se um "negro de alma branca") e sua mulher, virgínia, uma bela e branquíssima moça. desde o começo a relação entre eles se dá de maneira obssessiva, insana, sadomasoquista. a própria união entre eles, como todos os acontecimentos que se sucedem na peça (e que eu estou me segurando pra não contar) se dá numa série de tragédias, violações, sofrimento e morte. tudo adquire (e sente-se nitidamente isso por entre as páginas) um caráter obscuro e grotesco (talvez por isso mesmo feérico e talvez burlesco).

tenho uma impressão geral, que nelson rodrigues sempre mostra e realça o que há por trás das relações trivais, do dia-a-dia (basicamente familiares) e com as quais estamos acostumados desde sempre. máscaras caem e podemos ver um turbilhão de desejos, paixões, imoralidades e mesquinharias, enfim, fantasmas que nos rodeiam mas que não escapam a quem espia pelo buraco da fechadura.

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mas claro, nada disso é tão importante quanto as palavras escritas em caneta azul e que fizeram com que eu me sentisse mais feliz na volta pra casa.


Um comentário:

Mayra disse...

...na ida ao trabalho!