cada dia mais penso em por que vivo (e vivemos) em são paulo.
é uma cidade que te oprime em todos os sentidos. é suja, feia, poluída, degradada e tem problemas sociais gravíssimos.
ser pobre nessa cidade é pedir para sofrer diariamente em áreas básicas como saúde, educação, transporte e lazer. se você tem uma condição social melhor, vai morrer de medo de ser assaltado, sequestrado, assassinado. aí acaba se escondendo atrás de um muro alto ou dos vidros do carro. tanto para os ricos quanto para os pobres a questão é desconfiar de tudo e de todos e sobreviver.
é feia sim. não tem como falar que são paulo é uma cidade bonita. as marginais são o cartão-postal de quem chega. um esgotão a céu aberto (como eu gostaria de poder ver os rios de são paulo despoluídos um dia!) margeado por asfalto e milhares de carros. só de olhar eu me sinto mal, parece que a cidade grita "não queremos você aqui!". pra todo lado a cor predominante é o cinza do concreto e da fumaça.
o centro e diversas outra áreas são depósitos de pessoas excluídas que a gente passa por cima e finge que não vê (alguém que conhece a cracolândia ou a várzea do glicério vai discordar?). as periferias estão apinhadas de favelas, milhares de barracos espremidos com gente (sobre) vivendo de forma precária.
o paulistano quase sempre mora bem longe do trabalho e leva duas horas pra chegar a ele, extremamente apertado, ou estressado atrás de um volante, como é de praxe. e mesmo que more a dez minutos, com o trânsito, o trajeto será quatro vezes mais demorado. vai respirar bastante fumaça a ponto de desenvolver problemas respiratórios.
lazer é outra área totalmente problemática. paulistano adora falar que aqui tem de tudo, você pode fazer praticamente qualquer programa a qualquer hora do dia ou da noite. bares, restaurantes, cinemas, teatros, shows, baladas e uma série de eventos que só acontecem nas maiores cidades do mundo. tem sim, se você estiver disposto a torrar uma bela grana com isso. tudo aqui é muito caro. estacionar o carro é mais caro que andar com ele, ingresso pra qualquer evento é um absurdo, comer e beber então, nem se fala. além das filas e dos aborrecimentos comuns a lugares onde há muita gente. experimente ir ao cinema no sábado à noite, por exemplo. experimente querer imaginar em ir ao show de um grande artista... conclusão, ou você tem o mínimo de recursos pra bancar programas na cidade, ou vai acabar na televisão ou no computador mesmo.
querer morar num imóvel seu é luxo só para os mais abastados. qualquer apartamentozinho de dois quarto na periferia da periferia tem valores por volta de R$ 200 mil.
claro que muitos desses problemas assolam também muitas outras cidades, mas acho que o tamanho da região metropolitana de são paulo torna todos eles ainda maiores e de difícil solução. tudo aqui é enorme. tanto o luxo quanto a pobreza. são várias cidades numa só.
e olha que tudo que eu levantei aqui faz parte do meu cotidiano. eu sei o que é perder mais de três horas diariamente no trânsito. morei desde sempre afastado do centro e muito próximo de favelas. vou para a região da sé todos os diase convivo com todos seus problemas. se me aventuro a sair no finais de semana sei que, se não tomar cuidar vão me tomar até a roupa do corpo. e tento há alguns anos morar em um imóvel próprio...
a melhor conclusão a que pude chegar é que pagamos pra morar numa cidade de primeiro mundo, mas moramos de fato numa de terceiro.
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