segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

... e era como se eu me esfacelasse, me decompusesse inteiro ante meus olhos e não pudesse fazer nada. desesperado, tentava reter com as mãos os pedaços de mim que eu sentia apodrecer e cair. tanta gente passava, mas distraídos em tantas outras coisas, não me davam atenção e apesar de eu querer alguma ajuda, não fiz barulho algum, tentei mais despercebido. calmo, silencioso.

mas tive medo, claro, como nunca antes. um medo inominável e ilimitado, pois não é deste mundo nem de outro; é do nada, da ausência completa. se eu me tornasse um amontoado no chão da praça da matriz, se eu deixasse de ser quem eu sou pra me tornar algo inimaginável, algo que nunca ninguém inventou, deu nome, classificou seria pior que a morte (afinal, ao morrermos, ainda assim continuamos sendo, em algum grau o que sempre fomos e continuamos fazendo parte de alguma coisa). o horror era imaginar deixar de ser qualquer coisa que fosse. tornar-me um não-ser.

e essa agonia, me fez clamar por um momento por deus e também pelo diabo. algo que me prendesse ao mundo, à vida como a conhecemos. seja um lado ou outro da moeda. por favor, alguém, não quero o escuro abismal, atemporal que me ronda!

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é tudo verdade...

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