segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Terra das Oportunidades parte 1 - Dogville

pude ver no último final de semana dois ótimos filmes do polêmico diretor lars von trier: dogville (2003, que eu já tinha visto uns dois anos atrás) e manderlay (2005). ambos surgiram inicialmente como parte de uma trilogia que tem como tema central os EUA (USA: Lands of Opportunities), apesar da terceira parte (Wasignton) nunca ter sido lançada.
sou fã do diretor, principalmente pelo seu tom provocativo, apesar dos filmes deles me causarem um certo mal-estar indefinido. acho que têm em comum (pelo menos os que eu vi) um pessimismo intrínseco, uma perversão e crueldade do ser humano, por mais indefinível que isso possa parecer.

no caso específico desses dois filmes, o grande diferencial está no fato de eles praticamente não terem cenário, se resumindo a linhas marcadas no chão e alguns poucos móveis. não sei dizer ao certo qual a intenção do diretor (e nem se há de fato uma intenção clara), só sei dizer que pra mim essa peculiaridade soa como uma tentativa raio-x, que foca os personagens em seu íntimo e em suas relações, em detrimento de todo o resto, que poderia ser interpretado como superficial; uma desmontagem daquilo que não importa, quase que desnudando os indivíduos ali presentes e narrativa da qual fazem parte.

no primeiro filme, a história gira em torno dos "amáveis cidadãos" de um pobre e pacato vilarejo perdido no meio-oeste americano, que ao serem surpreendidos com uma fugitiva em seus domínios precisam escolher se arriscam e lhe dão abrigo ou se a entregam para os gângsters que estavam em sua busca. a princípio, Grace, a moça fugitiva é aceita e tem duas semanas para se integrar à comunidade e convencer os cidadão de dogville de que seria bem vinda ali e para tanto ela passa a se oferecer para ajudar os outros habitantes. o que inicialmente parece uma boa estratégia se torna a sua perdição. é através desse estado de servidão e complacência que dogville começa a mostrar suas presas. ela se torna escrava de sua situação, passa a ser ameaçada e acaba se sujeitando as mais humilhantes situações. mesmo assim, a garota acaba justificando o comportamento dos cidadãos, culpando as circunstâncias em que vivem. claro que há uma grande reviravolta em sua maneira de ver as coisas, depois de uma espetacular conversa com seu pai e, depois de uma profunda crise moral ela chega a conclusão de que o mundo seria um lugar melhor sem a existência de dogville.

se sobressai e choca acompanharmos a ideia de que bastou a oportunidade para que aqueles bons indivíduos mostrassem seu lado sombrio e perverso, escravizando a garota, destituindo-a de sua humanidade, de maneira que ela passou a ser tratada como um objeto ou animal, útil às suas necessidades e só. sempre amparados por argumentos hipócritas e cínicos os habitantes de dogville "absorvem" aquele ser forasteiro de maneira mesquinha e egoísta.

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