quarta-feira, 25 de julho de 2012

contra o trabalho

"ninguém jamais deveria trabalhar. o trabalho é a fonte de quase todos os sofrimentos no mundo. praticamente qualquer mal que se possa mencionar vem do trabalho ou de se viver num mundo projetado para o trabalho. para parar de sofrer precisamos parar de trabalhar."
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as palavras de bob black, logo no início do texto não deixam dúvidas e, apesar de ser reticente quanto a essa origem única do sofrimento humano, fiquei impressionado mais uma vez (já que li uns seis anos atrás o mesmo texto) com o quanto nossa vida em geral é pautada pela imbecilização crônica e o desgaste físico e mental, através de trabalhos repetitivos e monótonos em condições totalitárias. isso sem falar nos milhares de acidentes de trabalho e mortes causadas enquanto tais tarefas são executadas. tudo tão claro e esfregado na nossa cara e nem percebemos...

parem pra pensar: um trabalhador médio é um "escravo em meio período". seu comportamento é totalmente condicionado e delimitado pelo patrão, que o diz a que horas entrar, o que e como fazer, quando descansar, o que vestir, como se comportar, etc. ele é vigiado e controlado o tempo inteiro e, igual a uma criança pode ser chamado a atenção, punido e até demitido caso não faça o que se espera dele.

o trabalho (palavra derivada de tripalium, castigo que se dava aos escravos preguiçosos) condiciona todos os aspectos da nossa vida e o ethos da sociedade como um todo. paira no ar, como uma verdade inquestionável que o trabalho dignifica o homem e que ser virtuoso é ser trabalhador. uma massa que todo dia sai de suas casas disposta a trocar sua força de trabalho por comida e, se possível, um algo a mais e que crê que esse é o caminho para a prosperidade.



toda a evolução tecnológica, principalmente no século XX não favoreceu e nunca favorecerá nem um pouco a condição de vida dos trabalhadores (o que melhorou foi simplesmente por medo da ameaça real e crescente dos movimentos sindicais e organizações de esquerda). o discurso burguês sempre foi e continuará sendo que não é possível diminuir a jornada de trabalho ou melhorar a condição de vida dos trabalhadores. assim como diziam não ser possível abolir a escravidão negra ou reduzir jornadas que no século XIX chegavam a 16 horas.

pode ser que isso soe muito extremista, mas, se pararmos para pensar um pouco poderemos ter noção do quão absurda é essa relação de exploração, debilmente mascarada sobre a noção vaga de que somos livres e iguais em direitos e oportunidades. talvez não nos espantemos tanto simplesmente pelo fato de nascermos numa época como essa, assim como quem nasceu no século XVII achasse natural que negros fossem escravos. simples assim, não conseguimos enxergar o palmo diante do nosso nariz...

e que fique claro, o problema não está na atividade humana em si, no fato de nós interagirmos com a natureza e com outras pessoas desde sempre, mas sim na maneira como isso se dá entre nós, na mercantilização da mão-de-obra que nos reduz a apêndices de intricadas engrenagens industriais e corporativas, que nos robotiza e nos imbeciliza, enfim, que nos transforma em um contingente sem personalidade e vontade própria.

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