É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...
(Vinícius de Moraes)
afinal de contas, o que é a felicidade?
melhor dizendo, o que nos torna felizes ou ser infelizes?
longe de querer responder a essas perguntas complexas, quero resgistrar que fiquei pensando, depois que o assunto surgiu numa mesa de bar, dias atrás...
a princípio parece simples, não é difícil fazermos uma associação direta entre felicidade e satisfação de nossos desejos, principalmente materiais e afetivos. todas as pessoas que jogam na mega sena consideram que aquele dinheiro lhes fará mais felizes. a mesma coisa de quem busca o grande amor da vida.
por oposição um pessoa que se encontra em uma situação de vunerabilidade material é vista como mais propensa a estar infeliz.
olhamos de fora uma pessoa e considerarmos que "aquele sim é um padrão de vida que traz felicidade". um bom emprego, uma família saudável e unida, carro, casa, casamento, fartura... pergunte para qualquer pessoa e as chances dela falar que pessoas assim são felizes é enorme.
o que me intriga porém é reconhecermos que, de fato, tudo isso (e muito mais) não é suficiente para assegurar que sejamos felizes. a angústia, melancolia, depressão não costuma respeitar classes sociais. é o velho clichê "dinheiro não traz felicidade". podemos até ter um ímpeto de julgar tais pessoas dizendo que "elas não tem motivos para serem felizes", que "elas tem tudo que poderiam querer", que "devem valorizar o que têm", que "enquanto tem tanta gente morrendo de fome, aquela tal pessoa está fazendo uma tempestade por causa de um motivo fútil". acho justo considerarmos, enquanto pertencendo à uma coletividade, que aquele que são tristes por que vêem seus filhos passarem fome, por exemplo, precisam mais de nossa atenção e ajuda, mas não concordo que a tristeza daquele que "chora de barriga cheia" é menor ou que não deve ser considerada... quem vê de fora nunca vai ter a real dimensão daquilo para aquele indivíduo e, apesar de despertar menos nossa compaixão, deve ser respeitada.
tudo bem (e aqui vai minha opinião), conquistas, objetivos alcançados, considerar-se melhor hoje do que ontem (em diferentes âmbitos da vida), pode sim trazer uma sensação de felicidade. mas o que eu acho que traz essa sensação é justamente a comparação. é você passar o dia inteiro com um sapato apertado e no fim do dia poder tirá-lo. tenho certeza absoluta que um aumento de 600 reais nos meu ganhos me fará mais feliz (ainda que por um período de tempo limitado) do que se o eike batista começar a ganhar mais 100 mil reais todo mês. a satisfação que tais bens trazem tendem a ser descrecentes, além de dependerem da leitura que fazemos da nossa situação atual e a expectativa que temos do futuro próximo. é aquela história de ficar feliz quando se acha um dinheiro perdido num bolso da calça. aquilo sempre foi nosso, mas a ausência de expectativa acentua o contentamento.
talvez eu tenha me desviado um pouco do foco da questão. quero mesmo é dizer que não acredito em Felicidade (um estado mais ou menos permanente e definitivo), mas sim em momentos de felicidades. E mais: esses momentos de felicidade (ou de harmonia interior, no sentido de que não estamos nos debatendo, buscando algo que não está ao nosso alcance) dependem basicamente da nossa capacidade em valorizar o cotidiano, estar atento aos bons momentos em que a vida vai te proporcionar e saber que estar infeliz é um lado da moeda do qual não se pode fugir e importante, na medida em que nos torna mais fortes e conscientes. o ser humano é um animal constantemente insatisfeito, buscando sempre algo que sempre esteve lá, que não sabe o que quer e muitas vezes faz escolhas erradas. não existe alguém que esteja imune à infelicidade, nem no muro mais alto da mansão mais cara ou no carro mais luxuoso e confortável...
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