terça-feira, 14 de janeiro de 2014

elíptico

pausa:

é como se eu sempre estivesse dois passos atrás de mim mesmo.
aturdido, limitado pela minha própria pseudo-sagacidade.
olho todos ao meu redor, tão sábios, seguros de si e do mundo. andam de peito estufado, exibindo insígnias invísiveis...
não falam nada, os cínicos!
eles sabem o que vem depois, sabem o que se passa agora... fico intrigado: "há aí alguma coisa!". não me contam, dissimulam, passam reto, piscam cúmplices uns aos outros e guardam o segredo para si.
 
não, da minha parte não há sagacidade nenhuma... fico distraído, olhar perdido em alguma parede branca. procuro em tudo uma possível revelação, o êxtase emocional que nunca chega a se cumprir.
há em mim um desejo pueril de redenção. o surgimento triunfal do herói para nos salvar.
"deve haver alguma coisa que ainda te emocione", diz a canção.
então eu espero o momento em que tudo finalmente se encaixe e faça sentido.
e nesse momento eu diria aliviado: "puxa, é isso. tão simples! cá estamos, no topo da roda gigante".
mas não, há sempre algo que me é inescrutável, inacessível...

algo que eu não sinto, não toco, não penso, não intuo e que talvez nem mesmo esteja aqui
(ou lá, ou em qualquer lugar).

eu tento me enturmar. digo que sei o que eles sabem, finjo que vejo a nova roupa do rei.
eles sabem que eu não sei... e posso jurar que riem pelas minhas costas. "como pode, coitadinho".


fico assim, com esse fiapo de carne (entre o primeiro e o segundo molar) que o fio dental não tira.
mas como incomoda!




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