domingo, 11 de maio de 2008

Pousa a mão na minha testa

Não te doas do meu silêncio:
Estou cansado de todas as palavras.
Não sabes que eu te amo?
Pousa a mão na minha testa:
Captarás numa palpitação inefável o sentido da única palavra essencial
- Amor

(Bandeira, Manuel)

Incrível como esse poema dialoga e complementa as idéias presentes em "O Seu Santo Nome". A mesma hesitação quanto ao uso das palavras para se definir algo que está (muito) além, no caso o amor. É meio contraditório que poetas deslegitimem (suas) palavras como instrumento para expressar sentimentos, mas é interessante a idéia que passam de "algo muito maior do que pode se expor por palavras". Esse sentimentalismo apaixonado e "delirante" que não cabe no papel.
Carlos Drummond de Andrade reprova o uso da palavra amor de forma banal, como facilitadora e que a faça perder sua essência (que para ele é o "exílio e perfeição na Terra") e o sentido que está por trás. Sugere então que não seja pronunciada tal palavra, que se respeite seu caráter quase sagrado. Bandeira também se mostra descrente (e cansado) ao uso da palavra, da mesma forma usada esvaziada de sentido. Para ele, o amor não está na palavra em si, mas deve ser buscado nas sensações/sentimentos que transparecem por seu corpo.


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Quem disse que eu não te amava?/ Amo-te mais que a verdade

(M.B.)

3 comentários:

Anônimo disse...

Acho que existe uma tendência natural a exagerar/idealizar/ tentar concretizar desesperadamente essas coisas que "nunca existirão". Ou não. Ou menosprezar. Sei lá. Há quem fique com os olhinhos brilhantes e há quem trate como condição ("Amar é...").
Talvez haja algo de mágico nas estatísticas, não sei. Ou quiçá eu esteja mesmo muito sólida. Mas há algo que se ressaltar sobre o sentir: onde se diferencia paixão, amor e carinho?
Fico me perguntando, é pura questão de encaixe? Físico e ideal? O que realmente nos faz amar alguém? O tão cultuado amor não será também algo como líquido azedo e manchas no colchão?
Puts, sei lá se desvirtuei o assunto.

fernando disse...

Talvez (e isso é uma das leituras possíveis), todas as suas perguntas na parte final do seu comentário deveriam ser desconsideradas. O importante é "pousar a mão na testa e captar a palpitação inefável". Conceitualizações são tudo menos a "coisa-em-si" ("sentir é sentir e ponto", como pode ser encontrado mais abaixo nos posts). Talvez "líquido azedo" e "manchas no colchão", sejam o que sobre quando se racionalize demais o ser/sentir/estar.
Onde se diferencia paixão, amor e carinho? Eu não sei, mas arrisco dizer que não é no coração (se for esse o órgão responsável pelo sentir).

Anônimo disse...

Ainda pensando sobre isso: Coração, órgão responsável por sentir?!? O que há de sensorial no coração? Quer dizer, ele é só aquele barato que bombeia sangue para diversas partes do corpo e fica pulsando no mesmo ritmo. Às vezes acelera com um susto, com uma excitação... mas no final das contas, apaixonado ou não, ele há de acelerar da mesma forma, sem nada de especial nisso. O mesmo tum-tum acelerado para o amor de hoje, para o amor de amanhã e para o infarto fulminante. É mecânico, percebe? Sentir é sentir e pronto. Estímulo é estímulo. O corpo reage da mesma forma, sem graduação de intensidade atrelada a laços. O resto é psicológico. E isso há de interferir. Sinto, logo penso. E vice-versa.