terça-feira, 28 de outubro de 2008

"Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se
(...)
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica..."

(Pessoa, Fernando. Poesia completa de Alberto Caeiro. Pág. 46. Companhia das Letras, 2005)

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Vai mais ou menos ao encontro do que se disse antes sobre (in)felicidade. Alberto Caeiro, vê as duas como parte de um mesmo processo, sendo que o dia que morre, ainda que morra, também traz consigo beleza e também se faz necessário para que seja natural. E ele contempla a vida em sua plenitude, de maneira calma e natural, sem pensá-la. Assim, busca se inserir, enquanto ser pertencente ao mundo, sendo e sentindo. Sem desejos ou racionalizações. "Há metafísica o bastante em não pensar em nada"...

domingo, 26 de outubro de 2008

"Não há essa coisa chamada felicidade. A vida oscila entre alegria e dor, beleza e feiúra de modo que ninguém pode isolá-las. Ninguém deveria desejar tal coisa. Alegria plena ou dor plena, sem nenhum elemento contrastante da consciência, significaria a morte".

(Toomer, Jean. Cana apud Morgan, L. Kathryn. Filhos de Estranhos: Histórias de uma família negra, pág. 112)
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Li esse pequeno trecho e me identifiquei de imediato. Já havia dito a algumas pessoas "não acredito em felicidade", mas sempre interpretaram isso com um certo realismo exarcebado ou pessimismo mesmo. Mas não, a questão é perceber a oscilação que sofremos sempre,(e conseguir vivê-la). Felicidade não é um estado definitivo, não pode ser alcançada em plenitude, ela está sempre em relação com sentimentos opostos. Mais ainda, alegria ou tristeza está menos nas coisas a nossa volta do que em nós mesmos (mas nada de auto-ajuda, por favor).
Acho que acredito mais na vida e na esperança de dar a ela algum sentido, (mas ainda assim me sinto ator em uma peça).

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

era pra ser sobre amor. mas me provaram que saciar meu ego vinha em primeiro lugar. e dormimos juntos então em nossa beliche de egoísmos. disputei heroicamente cada espaço, num conflito velado de dois pares de olhos e um par de bocas. joguei longe granadas, que estouraram todas em minha trincheira.

era pra ser sobre amor... mas tomaram de assalto, levaram embora cada letra ridiculamente romântica. e eu fui atrás, carregando o violão. consegui então entender que a bolsa de valores vale mais e que o filme inédito do supercine vale mais. entendi que o que se diz não vale muito e que tudo é mais sobre o que não deveria ser.

era pra ser sobre duas noites no deserto, mas acabou se tornando uma dança de lamúrias heptagonais.

[e não é que eu ainda consigo achar graça de tudo isso?]


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era pra ser sobre amor, mas os mais caretas torceriam o nariz

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

quanto sono cabe nos seus olhos?
e na sua boca?
e no seu corpo?
e no seu copo?

sabe, eu estranho, mas me acostumo (e vou dormir)...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

"Em todo caso, casai-vos. Se vos couber em sorte uma boa esposa, sereis felizes; se vos calhar uma má, tornar-vos-ei filósofo, o que é excelente para os homens"

(Sócrates)

sábado, 11 de outubro de 2008

pequeno comentário (ou sobre pessoas e ilhas)

estou cansado. e não é mais sobre você, é sobre mim mesmo: esta suposta ilha de certezas, cercada de dúvidas por todos os lados,(indivíduo com nome e sobrenome, certidão de nascimento, rg, cpf, título de eleitor, carteira de trabalho, reservista, comprovante de residência, foto 3x4...)toda esta subjetividade que não vence.
estou cansado de falar: palavras que são como frágeis navegantes, que naufragam assim que arriscam e saem da "ilha de certezas", ou que são capturados e torturados para que confessem tudo sobre qualquer outro território hostil ("há tantas outras ilhas armadas de certeza").

sabe, você fabrica bombas com as minhas verdades...

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-não que eu acredite em ilhas. creio mais é na pangéia e nas placas tectônicas.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

"Você com as suas drogas

E as suas teorias

E a sua rebeldia

E a sua solidão

Vive com seus excessos

Mas não tem mais dinheiro

Pra comprar outra fuga

Sair de casa então

Então é outra festa

É outra sexta-feira

Que se dane o futuro

Você tem a vida inteira

Você é tão esperto

Você está tão certo

Mas você nunca dançou

Com ódio de verdade"

(A Dança)

domingo, 5 de outubro de 2008

o que eu fiz!?
puta!
dilacerei seus versos
em rima branca,
desentranhados pretos
das unhas sujas,
da tinta
que não é mais minha
e que não tem mais gosto
misturado à arritmia
das letras que dançam,
alucinadas
no papel

pura zombaria
é assim que cada linha
toma forma,
é a forma última
da vaga poesia,
é a senhora pudica e respeitável
prostituida a troco pouco
sodomizada na ante-sala
entre um brinde e outro aos convivas
[saúde!]

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minha poesia é minha puta!
minha putaria é jocosa!
meus gracejos são lamentação...