sexta-feira, 14 de novembro de 2008

monólogo conclusivo [em frente ao espelho]

- ...
- é, você não sabe, mas tem sido difícil pra mim também!

sábado, 8 de novembro de 2008

quanto espaço há nessa cama?
maior que meus dois braços abertos,
nessa enorme cama de solteiro
só meu sono parece não caber.

onde estão as noites bem dormidas?
o meu corpo tinha início, meio e fim
e era junto daquele outro corpo
que não via o fim amanhecer.

lá fora a noite é grande e venta na janela,
me cubro de razão até o pescoço
mas a cabeça, pra fora, sente frio.
está fria e enxerga tudo claro

(coisas que não vão querer saber)

ser franco? só consigo ser cínico...
ponho tudo a perder quando paro pra pensar:
quanto de solidão há num quarto de dormir?
quanto de egoísmo numa cama de solteiro?

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

... e ontem o céu, como de costume, chorou pelo dia dos mortos.
e eu, pelo que há de vivo...

domingo, 2 de novembro de 2008

pouca flor
murcha, quase morta
mas ainda assim tão cheirosa...
ainda tão altiva
quase dona de si mesmo.

tão seu cheiro...
em toda minha respiração.

num sussurro
a flor que não é minha,
nasce murcha,
maria-sem-vergonha
que desabrocha no jardim
a me olhar
e a rir de mim


e se voasse?
se voasse seria borboleta
e pousaria na janela.
vermelha, traria mau agouro
mas ainda assim me encantaria.
num vôo delicado
que aperta o peito
e deixa triste...

diálogo reciclado [e inconclusivo]

- eu?
- tudo que sei é que você quis partir.
- eu?
- quis partir você, tirar você de mim.
- eu?
- demorei pra encontrar um lugar [ um lugar onde você não me machucasse mais].
- eu?
- com você por perto gostava de mim.

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excertos de La Nuova Gioventú

sábado, 1 de novembro de 2008

me encanta como o tempo nos mostra com novos olhares o que já é antigo; essa capacidade de se supreender com o que já se presumia como superado.
escrevo isso com um cd na cabeça, que já estava arquivado há algum como de "menor importância". mas hoje não. ele disse exatamente o que eu esperava ouvir e me mostrou certas nuances escondidas nos arranjos ou no refrão que me pareceram inteiramente novas e sinceras. deram aquela rara sensação de "ei! isso é legal". inclusive, muito do que perdura no meu gosto musical de início me causa um certo estranhamento, enquanto outras músicas que se mostram mais facilmente assimiláveis enjoam mais fácil.
assim é com muitas outras coisas. com lugares, filmes, atividades, pessoas. pessoas! e dá aquela vontade de dizer: "poxa, incrível que só agora eu percebi o quanto você é legal" e confessar entre risos que antes ela parecia muito chata/metida/sem graça ou qualquer coisa assim e mostrar como tudo mudou.

claro que acontece o contrário e o tempo que passa também pode nos mudar pra pior. mas sobre isso eu não quero falar...
ela disse: "se você quiser".

mas e ela, o que ela quer?

sobre liberdade

liberdade? disseram que "não há ninguém que explique e ninguém que não entenda". acho que não pensaram em mim. eu simplesmente não entendo. e mais: não acredito. isso mesmo, acredito na liberdade tanto quanto na igualdade, na fraternidade e no papai noel.

o que é ser livre? é fazer aquilo que se quer ou ser capaz de dominar os seus desejos? e quem está preso por vontade? é livre ou não? quem define o que é ser livre? se é um conceito social, um ideal coletivo, não creio que possa ser definido individualmente, afinal, crenças e valores não são criações nossas (por mais que tenhamos uma percepção única deles). e mais, grupos opostos tentam convencer que são os legítimos portadores da liberdade e que ela é boa e desejável.

eu conheço (muitas) pessoas que se acham realmente livres e querem vender seu estilo de vida como num daqueles comerciais de câmera digital da tv. mas estão presos de forma ou outra no que acreditam. inevitavelmente fazem o jogo de outras pessoas e têm de se inserir num determinado contexto em que eles não dão (todas) as cartas. levantam entusiasmados suas bandeiras, mas não percebem que elas estão velhas e sujas. não percebem que a paz cria as condições para a guerra, assim como a paz vem da guerra. só quero dizer com isso que as coisas não são tão puras, separadas e inequívocas quanto se supõe. elas estão misturadas o tempo todo. ok, tenhamos a liberdade como utopia, queiramos que ela nos guie para algum destino que seja tido como de maior valor, mas não sejamos ingênuos ao supor que ela esteja nas nossas mãos ou que seja uma escolha fácil de se fazer. O mundo não é dividido entre seres "livres e abertos" e pobres escravos da sua condição de "cárcere", no sentido amplo.

vocês vendendo seus dogmas (sim, é isso que eles vendem), sua condição de vanguarda libertária frente a um mundo "podre" e arcaico estão somente repetindo o que já foi feito até então. palavras bonitas (como no caso a "liberdade") são ótimos refúgios para covardes ou canalhas que acham que assim pdem se justificar. e que fique claro, não acho que covardes e canalhas sejam a maioria, mas só acho que temos que ter um olhar menos ingênuo, que veja pr'além do rótulo.
a vantagem de ser criar os próprios fantasmas é que não preciso sair de casa pra me sentir ameaçado...