Vi um tempo atrás à peça "O Fingidor", baseada em Fernando Pessoa. Apesar de resgatar em linhas gerais o personagem, a história é fictícia. Mostra Pessoa, a partir de uma crise sobre si e sua poesia, passando-se por Jorge (outro heterônimo?) e indo trabalhar como datilógrafo para um escritor literário que estava justamente preparando uma apresentação sobre seu trabalho.
Não vou contar mais partes de história. Só fique registrado que é interessante ver uma figura como essa retratada, ainda que de maneira aproximada. Mais legal ainda foi ver os heterônimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis "encarnados", ainda que fruto da imaginação do autor. Deu pra dar um rosto e uma personalidade um tanto mais condensada para eles, para além de meras descrições ou da idéia que fazemos a partir das obras de cada um. Mas claro, sempre fica uma sensação do tipo "ah, imaginava eles de forma diferente...". Comigo isso ocorreu principalmente com o Alberto Caeiro, que eu imaginava um pouco mais "rústico". Outro ponto interessante é a relação conflituosa entre o ortônimo e seus heterônimos, que chegam a ganhar certa vida própria e evidenciam o não tão simples processo criativo do poeta.
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Em tempo: Acredito que o título se refira ao fato do personagem fingir ser outra pessoa e através desse fingimento se dar o argumento principal da história, mas também ao próprio ofício de poeta:
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
terça-feira, 19 de maio de 2009
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Há duas formas de ver a vida,não, na verdade há mais (sempre!), mas quero falar sobre duas em específico, sobre as quais tenho pensado com maior seriedade.
A primeira é crer que - seja um indivíduo em particular, seja a humanidade como um todo - existe um fluxo contínuo, que através de etapas leve a um "fim último" das coisas. É como se tudo estivesse linearmente intrincado pela idéia do progresso. Esse fim pode ser tanto o sucesso profissional quanto a elevação espiritual/ religiosa. No caso da história, poderia-se pensar nas sociedades como organizadas entre menos e mais desenvolvidas, por qualquer critério que seja (normalmente usa-se o econômico, técnico-científico, bélico e político). Dessa forma, as sociedades poderiam ser colocadas num contínuo, que as diferencia e as hierarquiza, sendo que a inferiores teriam que subir os degraus do progresso, assim como fizeram as mais avançadas. É comum crer que quanto mais um país produz, quanto maior sua capacidade tecnológica, mais próximo ele está de um estágio ideal de desenvolvimento, supostamente claro e desejável por todos. Ou ainda o desenrolar da história inequivocamente levando-nos ao fim dela (como em diversas religiões e na teoria marxista ortodoxa da história).
A segunda maneira, mais condizente com meu pensamento é a vida em sentido amplo se desenrolando como uma coleção mais ou menos indefinida de acontecimentos, que não seguem uma lógica superior (oracular, pré-determinada) e nem uma linearidade que nos permita traçar de antemão um objetivo ideal. Se eles (os objetivos) existem, são construido por nós a partir do "caos", do indefinido. Ou seja, no plano individual há sempre uma ideia de "ganha-se aqui, perde-se ali". Trata-se sempre de escolhas a partir de um leque amplo de opções, de abrir mão de algo em favor de outras coisas, mesmo quando não nos resta a menor dúvida sobre o que queremos. Seguir um caminho (ou construí-lo no decorrer do tempo) é deixar de seguir todos os outros, é estar à mercê de idas e vindas, avanços e retrocessos, que podemos ou não considerar como o "caminho que deveríamos ter traçado desde o início". Estar em uma posição (na carreira profissional, por exemplo), significa não estar em todas as outras, em ganhar em certos pontos, mas perder em muitos outros.
O mesmo valeria para a história num sentido macro. O que se vê como linear é um sucessão de acontecimentos, que encadeados formam uma narrativa histórica (normalmente do ponto de vista dos vencedores, que afirmam que aquele é o caminho que deveria, inevitavelmente, ser trilhado). Ao trilhá-lo, porém, seguiu-se um caminho dentre outros possíveis. O avanço tecnológico, aclamado como avanço da humanidade como um todo, pode ser considerado como uma particularidade cultural, um símbolo e uma ideologia (no sentido de um conjunto de idéias e valores restritas no espaço e no tempo) de determinadas sociedades. Ou seja, está circunscrito nas sociedades que lhe dão valor, que criam uma significação para ela. Assim, como outras formas de ver o mundo, outras cosmologias, podem levar a interpretações diversas sobre o avanço (ou não) da humanidade.
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Engraçado, isso me vem à cabeça quando vejo pessoas defendendo tal ou qual objetivo de vida, como o sucesso financeiro, por exemplo. Parece-me muito evidente que assim como ele traz benefícios, também traz limitações.
Mas como explicar para algumas pessoas que aparecer na "Caras" e possuir jóias pode não ser um desejo absoluto?
A primeira é crer que - seja um indivíduo em particular, seja a humanidade como um todo - existe um fluxo contínuo, que através de etapas leve a um "fim último" das coisas. É como se tudo estivesse linearmente intrincado pela idéia do progresso. Esse fim pode ser tanto o sucesso profissional quanto a elevação espiritual/ religiosa. No caso da história, poderia-se pensar nas sociedades como organizadas entre menos e mais desenvolvidas, por qualquer critério que seja (normalmente usa-se o econômico, técnico-científico, bélico e político). Dessa forma, as sociedades poderiam ser colocadas num contínuo, que as diferencia e as hierarquiza, sendo que a inferiores teriam que subir os degraus do progresso, assim como fizeram as mais avançadas. É comum crer que quanto mais um país produz, quanto maior sua capacidade tecnológica, mais próximo ele está de um estágio ideal de desenvolvimento, supostamente claro e desejável por todos. Ou ainda o desenrolar da história inequivocamente levando-nos ao fim dela (como em diversas religiões e na teoria marxista ortodoxa da história).
A segunda maneira, mais condizente com meu pensamento é a vida em sentido amplo se desenrolando como uma coleção mais ou menos indefinida de acontecimentos, que não seguem uma lógica superior (oracular, pré-determinada) e nem uma linearidade que nos permita traçar de antemão um objetivo ideal. Se eles (os objetivos) existem, são construido por nós a partir do "caos", do indefinido. Ou seja, no plano individual há sempre uma ideia de "ganha-se aqui, perde-se ali". Trata-se sempre de escolhas a partir de um leque amplo de opções, de abrir mão de algo em favor de outras coisas, mesmo quando não nos resta a menor dúvida sobre o que queremos. Seguir um caminho (ou construí-lo no decorrer do tempo) é deixar de seguir todos os outros, é estar à mercê de idas e vindas, avanços e retrocessos, que podemos ou não considerar como o "caminho que deveríamos ter traçado desde o início". Estar em uma posição (na carreira profissional, por exemplo), significa não estar em todas as outras, em ganhar em certos pontos, mas perder em muitos outros.
O mesmo valeria para a história num sentido macro. O que se vê como linear é um sucessão de acontecimentos, que encadeados formam uma narrativa histórica (normalmente do ponto de vista dos vencedores, que afirmam que aquele é o caminho que deveria, inevitavelmente, ser trilhado). Ao trilhá-lo, porém, seguiu-se um caminho dentre outros possíveis. O avanço tecnológico, aclamado como avanço da humanidade como um todo, pode ser considerado como uma particularidade cultural, um símbolo e uma ideologia (no sentido de um conjunto de idéias e valores restritas no espaço e no tempo) de determinadas sociedades. Ou seja, está circunscrito nas sociedades que lhe dão valor, que criam uma significação para ela. Assim, como outras formas de ver o mundo, outras cosmologias, podem levar a interpretações diversas sobre o avanço (ou não) da humanidade.
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Engraçado, isso me vem à cabeça quando vejo pessoas defendendo tal ou qual objetivo de vida, como o sucesso financeiro, por exemplo. Parece-me muito evidente que assim como ele traz benefícios, também traz limitações.
Mas como explicar para algumas pessoas que aparecer na "Caras" e possuir jóias pode não ser um desejo absoluto?
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Nota
Me sinto seco, estéril, fraco...
A chateação do tempo mecanizado e do cálculo utilitário fazem parte da minha condição agora.
Não há deslumbramento algum na monotonia e sou tão vulgar quanto qualquer outra coisa pode ser (acho que descobri o meu lugar!).
Não há contemplação, hesitação ou inconformismo no meu calar. É simples falta. E é vontade de pedir que façam o mesmo. Calem-se todos para que possamos dormir em paz. O que mais haveríamos de fazer?
___________________
Quando maio chegou decidi que me manteria calado no mês de abril.
A chateação do tempo mecanizado e do cálculo utilitário fazem parte da minha condição agora.
Não há deslumbramento algum na monotonia e sou tão vulgar quanto qualquer outra coisa pode ser (acho que descobri o meu lugar!).
Não há contemplação, hesitação ou inconformismo no meu calar. É simples falta. E é vontade de pedir que façam o mesmo. Calem-se todos para que possamos dormir em paz. O que mais haveríamos de fazer?
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Quando maio chegou decidi que me manteria calado no mês de abril.
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