assisti novamente ao filme esse sábado (merecia ser revisto) e talvez tenha agora um pouco mais de clareza sobre as impressões que fiquei dele. desde que soube que tropa de elite teria continuação fiquei com muitas expectativas e com a proximidade da estreia a ansiedade só aumentou. sou muito fã do primeiro, por motivos semelhantes pelos quais adorei sua continuação.
primeiro de tudo que o filme é fortíssimo, tem uma trama muito bem estruturada que prende do início ao fim (pelo menos não lembro de ouvir opiniões ao contrário) e que de certa forma incomoda. a partir do ponto de vista do coronel nascimento, nos vemos afundando num mar de lama do qual é quase impossível sair. o "sistema" vai engolindo a tudo e a todos, dando a sensação de que não há muita escapatória.
se no primeiro as atenções se voltavam para a violência em sua expressão mais direta e a dinâmica microssocial que ela supunha (a tensa relação entre o bope, a policia, os traficantes e segmentos da sociedade de modo geral), a sequência nos traz um cenário mais amplo, que faz a violência das ruas desembocar no gabinete do governador (e por que não lá em brasília, conforme sugere uma das últimas cenas?) mostrando o quanto tal situação é movida por interesses políticos. ou seja, nós é exposto de maneira clara o quanto as ações de aparelhos do Estado (como o Bope ou o serviço de inteligência, nos exemplos do filme) são movidas por politicagem e não necessariamente por um "sentimento de dever". achei interessante essa noção (óbvia, mas nem sempre escancarada) de que toda bala tem por trás de si um histórico, um tenso jogo de interesses e de luta por poder. a indústria de violência e da corrupção tem raízes muito mais profundas do que pode-se supor num primeiro momento.
em ambos os filmes gosto da maneira como a questão da violência (e seus desdobramentos) é tratada. nunca de maneira superficial ou maniqueísta. não há nada simples, não há o certo e o errado indubitável. as situações, conforme se apresentam, são justificáveis por alguns e condenáveis por outros. o próprio "herói" do filme tem seus excessos e seus desvios de caráter. ele não está lá para ser celebrado como salvador da pátria. ele próprio se angustia e cria problemas para si nas relações com as pessoas que gosta. apesar de extramente cativante, é um personagem complexo, que nos expõe de maneira clara que ele é mais um dentro daquele intenso jogo, da relação quase caótica entre diversos grupos. ele próprio reconhece que muitas de suas ações não são exatamente elogiáveis ou que, no mínimo trazem desdobramente problemáticos. é impossível legitimarmos e defendermos todas as ações ou posições ideológicas do protagonista ou da "tropa de elite". ambos estão inserido num contexto do qual ninguém tem uma visão ampla e isenta. cada um está ali pra defender o seu. é um retrato um tanto quanto cru e cruel, mas, na minha opinião, muito bem feito, na medida em que nos instiga a pensar de maneira complexa no todo.
bom, desnecessário falar que tecnicamente o filme é muito bem feito e não é à toa que tem levado tantas pessoas ao cinema.é um bom filme de ação (mas espero que esse seja só um dos muitos aspectos a serem levados em conta ao se assistí-lo). além disso merece ser sublinhada a excelente atuação do wagner moura no papel de um coronel nascimento treze anos mais velho, cansado e sob constante tensão.
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