sábado, 6 de novembro de 2010

do momento

o momento agora, meu filho, é de calma extrema (respire... respire...).
a profunda calma de sentí-lo em toda a sua leveza (invente-a!).
a serenidade desentranhada com força, deseperadamente, do insólito...
deixar-se estar descrente e sereno... cinicamente sereno (de uma serenidade displicente)
esperar pelo processo de depuração, sem esperar mais nada (não há o que esperar)


é o momento meu filho...
de ser mínimo, mas resoluto. estar atento e manter-se frio (a verdade agridoce...).
é a véspera do mistério e da revelação, a véspera de qualquer outra coisa (evite sorrisos).
faça todas (todas!) as perguntas do mundo, mas não (e aqui cabe a súplica de um pai enternecido),
de forma alguma espere respostas. não é o momento de respostas (há lodo nos lábios),
não creia, não ore, não peça nada, desconfie do que se supõe ver (há lodo nos olhos),
aproxime-se lentamente, meça seus passos, flutue (há lodo no chão e em todo lugar).


é o momento meu filho...
de beber dessa garrafa, destampada, em cima da mesa (um grande e vigoroso gole)
é tempo de contrição, de reservas, manter-se sabiamente ignorante, silenciar deus e o diabo
esperar e duvidar do exato segundo (ainda por vir) de confluência dos opostos (caótica, natural)
desejar intensamente, com todos os dedos da mão, com toda a força da alma (duvide da alma!!!)
manter-se inerte, irredutível. ter a calma (novamente ela) de violentar os próprios sonhos.
há todo um corpo, de sensações, de sentimentos. fuja dele, busque-o furiosamente. respire...


meu filho (tolo como o pai), pode ser que amanhã não, mas hoje deve-se manter a janela fechada (espie com cautela).

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“Eu não devia te dizer
mas essa lua,
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.” 


(Carlos Drummond de Andrade)


"e lá vai deus sem sequer saber de nós. saibamos pois, estamos sós."

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