sexta-feira, 5 de novembro de 2010


(...)

- você, sua imagem me assusta...

- haha! não, você é que tem medo de tudo (até de sentir medo)! pensa cinquenta vezes antes de dar o mínimo passo, supondo que isso é viver bem, ser cauteloso. sei que, fosse outro e não eu, o medo seria o mesmo.

- ...

- infelizmente o teu cérebro, a tua celebrada consciência (conscienciosidade) não vai te salvar... o máximo que você faz é sofrer por antecipação e deixar de aproveitar a parte boa que lhe cabe. por que você nunca pensa que o copo está meio cheio? por que esse pessimismo tão entranhado?

- acho que é algum tipo de doença da alma ou da mente, mas foda-se. quem você pensa que é pra vir me dizer essas coisas!? eu não ajo assim porque quero! sou eu que passo noites em claro com a cabeça latejando em angústias! é o meu e não o seu peito que tem que aguentar as marteladas de um coração que se desfaz com o vento!

- hahaha, você é um sarro mesmo! pensa mesmo que é só o seu? acha que, por acaso, aguenta em si toda a sensibilidade do mundo? não, meu caro. somos todos companheiros de infortúnio. todos nós carregamos o peso de uma vida inteira. nesta cidade há 10 milhões de solitários e insatisfeitos. a diferença é que alguns, como você, pensam que nisso como um grande problema.

- não sei, não sei... acho que tô velho pra essas coisas, não sei por quanto tempo ainda aguento. talvez eu só queira um lugar tranquilo pra descansar... um par de braços abertos, meia dúzia de palavras bonitas. é difícil mergulhar de cabeça no espaço vazio, sabendo que não há pára-quedas e nem perspectivas.

- pára-quedas? por quê!? pra quê!? a própria queda é o objetivo último da vida. quando chegar no final vamos ver o tamanho do buraco que você fez no chão e aí sim saberemos se a sua existência (o teu pulo) valeu a pena... não meu filho (meu irmão, meu pai, minha danação), não queira sair ileso; sua natureza, sua realidade, sua metafísica é a (auto)destruição. ótimo se você é capaz de esfarelar a porra desse seu coração, espalhá-lo por aí pelo mundo, dá-lo a quem é de direito... ainda que doa mais do que qualquer coisa. a cada um a parte que lhe cabe, um choro em silêncio e só. será que você consegue rir disso?

- cala a boca. odeio esse seu ar de superioridade. você é tão cretino quanto eu...

- pode ser... chame o garçom.

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e não é que eu não valorize os poucos indícios escondidos nas tuas aspas e que colho com tanto custo nos teus olhos de nuvem. não é que eu não dê importância ao que foi dito e ao que ficou subentendido...
acho que o que tenho é só uma doença que vem de vez em quando, mas depois vai (e me deixa vazio, mas contínuo).

"Já não me entendo mais. Meu subconsciente
Me serve angústia em vez de fantasia,

Medos em vez de imagens. E em sombria
Pena se faz passado o meu presente."


(M. Bandeira)

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