quinta-feira, 26 de julho de 2012
de carona...
lembro que não gostei muito do terceiro disco, é muito difícil o terceiro ser tão bom quantos os outros. mas não tenho certeza... será que eu não gostei de você e acabei desgostando dele junto? impressão minha ou você veio com o vinil debaixo do braço pra me mostrar? sei lá, se parar pra pensar assim parece bobagem... acho que é mais porque eu ouço muita coisa e demoro um pouco pra perceber que aquilo que eu deveria ter ouvido lá atrás na verdade passou batido por mim. claro, sempre dá pra correr atrás do prejuízo. e é boa a curiosidade de querer descobrir algo que já se conhece (apesar de não o bastante ou simplesmente de uma maneira difente).
se eu fosse um pouco mais sensato pensaria que estou (estamos? não posso afirmar... cada um terá que responder por si) sempre trocando meus ouvidos. aí, com um ouvido diferente eu ouço tudo diferente e a música que já existe há séculos se parece vagamente com a que eu ouço agora. e o que meu ouvido antigo achava não tão vem bem a calhar para esse novo. se eu ousasse ainda mais em minha sensatez, diria que troco sempre meus olhos, meu nariz, minhas mãos... ótimo, bom motivo pra querer (re)conhecer tudo de novo. boa coisa pra me manter ocupado por um tempo. afinal, como ouvi na tv um dia desses, a vida é muito longa e como disse um cara afeito à escrever coisas bonitas, nessa vida é "preciso estar sempre bêbado, de vinho, poesia ou virtude" (à escolha do freguês). mas não vem ao caso agora...
quarta-feira, 25 de julho de 2012
contra o trabalho
"ninguém jamais deveria trabalhar. o trabalho é a fonte de quase todos os sofrimentos no mundo. praticamente qualquer mal que se possa mencionar vem do trabalho ou de se viver num mundo projetado para o trabalho. para parar de sofrer precisamos parar de trabalhar."
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as palavras de bob black, logo no início do texto não deixam dúvidas e, apesar de ser reticente quanto a essa origem única do sofrimento humano, fiquei impressionado mais uma vez (já que li uns seis anos atrás o mesmo texto) com o quanto nossa vida em geral é pautada pela imbecilização crônica e o desgaste físico e mental, através de trabalhos repetitivos e monótonos em condições totalitárias. isso sem falar nos milhares de acidentes de trabalho e mortes causadas enquanto tais tarefas são executadas. tudo tão claro e esfregado na nossa cara e nem percebemos...
parem pra pensar: um trabalhador médio é um "escravo em meio período". seu comportamento é totalmente condicionado e delimitado pelo patrão, que o diz a que horas entrar, o que e como fazer, quando descansar, o que vestir, como se comportar, etc. ele é vigiado e controlado o tempo inteiro e, igual a uma criança pode ser chamado a atenção, punido e até demitido caso não faça o que se espera dele.
o trabalho (palavra derivada de tripalium, castigo que se dava aos escravos preguiçosos) condiciona todos os aspectos da nossa vida e o ethos da sociedade como um todo. paira no ar, como uma verdade inquestionável que o trabalho dignifica o homem e que ser virtuoso é ser trabalhador. uma massa que todo dia sai de suas casas disposta a trocar sua força de trabalho por comida e, se possível, um algo a mais e que crê que esse é o caminho para a prosperidade.
toda a evolução tecnológica, principalmente no século XX não favoreceu e nunca favorecerá nem um pouco a condição de vida dos trabalhadores (o que melhorou foi simplesmente por medo da ameaça real e crescente dos movimentos sindicais e organizações de esquerda). o discurso burguês sempre foi e continuará sendo que não é possível diminuir a jornada de trabalho ou melhorar a condição de vida dos trabalhadores. assim como diziam não ser possível abolir a escravidão negra ou reduzir jornadas que no século XIX chegavam a 16 horas.
pode ser que isso soe muito extremista, mas, se pararmos para pensar um pouco poderemos ter noção do quão absurda é essa relação de exploração, debilmente mascarada sobre a noção vaga de que somos livres e iguais em direitos e oportunidades. talvez não nos espantemos tanto simplesmente pelo fato de nascermos numa época como essa, assim como quem nasceu no século XVII achasse natural que negros fossem escravos. simples assim, não conseguimos enxergar o palmo diante do nosso nariz...
e que fique claro, o problema não está na atividade humana em si, no fato de nós interagirmos com a natureza e com outras pessoas desde sempre, mas sim na maneira como isso se dá entre nós, na mercantilização da mão-de-obra que nos reduz a apêndices de intricadas engrenagens industriais e corporativas, que nos robotiza e nos imbeciliza, enfim, que nos transforma em um contingente sem personalidade e vontade própria.
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terça-feira, 17 de julho de 2012
de quando o jovem macário encontra-se com um desconhecido numa estalagem
MACÁRIO - É uma coisa singular esta vida. Sabes que às vezes eu quereria ser uma daquelas estrelas para ver de camarote essa comédia que se chama o universo? Essa comédia onde tudo que há de mais estúpido é o homem que se crê um espertalhão? Vês aquele boi que rumina ali deitado sonolento na relva? Talvez seja um filósofo profundo que se ri de nós. A filosofia humana é uma vaidade. Eis aí, nós vivemos lado a lado, o homem dorme noite a noite com uma mulher; bebe, come, ama com ela, conhece todos os sinais de seu corpo, todos os contornos de suas formas; sabe todos os ais que ela murmura nas agonias do amor, todos os sonhos de pureza que ela sonha de noite, e todas as palavras obscenas que lhe escapam de dia... Pois bem, a esse homem que deitou-se mancebo com essa mulher ainda virgem, que a viu em todas as fases em todos os sues crepúsculos, e acordou um dia com ela ambos velhos e impotentes, a esse homem, perguntai-lhe o que pe essa mulher, ele não saberá dizê-lo! Ter volvido e revolvido um livro a ponto de manchar-lhe e romper-lhe as folhas, e não entendê-lo! Eis o que pe a filosofia do homem! Há 5 mil anos que ele se abisma em si, e pergunta-se quem é, donde veio, onde vai, e o que tem mais juízo é aquele que moribundo crê que ignora!
(Ao que Satã respondeu: "Eis o que é profundamente verdade!". E continuaram a conversa entre o vinho e a fumaça)
(Ao que Satã respondeu: "Eis o que é profundamente verdade!". E continuaram a conversa entre o vinho e a fumaça)
Álvares de Azevedo - Macário
quinta-feira, 12 de julho de 2012
uma coisa sobre a in/ felicidade
É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...
(Vinícius de Moraes)
afinal de contas, o que é a felicidade?
melhor dizendo, o que nos torna felizes ou ser infelizes?
longe de querer responder a essas perguntas complexas, quero resgistrar que fiquei pensando, depois que o assunto surgiu numa mesa de bar, dias atrás...
a princípio parece simples, não é difícil fazermos uma associação direta entre felicidade e satisfação de nossos desejos, principalmente materiais e afetivos. todas as pessoas que jogam na mega sena consideram que aquele dinheiro lhes fará mais felizes. a mesma coisa de quem busca o grande amor da vida.
por oposição um pessoa que se encontra em uma situação de vunerabilidade material é vista como mais propensa a estar infeliz.
olhamos de fora uma pessoa e considerarmos que "aquele sim é um padrão de vida que traz felicidade". um bom emprego, uma família saudável e unida, carro, casa, casamento, fartura... pergunte para qualquer pessoa e as chances dela falar que pessoas assim são felizes é enorme.
o que me intriga porém é reconhecermos que, de fato, tudo isso (e muito mais) não é suficiente para assegurar que sejamos felizes. a angústia, melancolia, depressão não costuma respeitar classes sociais. é o velho clichê "dinheiro não traz felicidade". podemos até ter um ímpeto de julgar tais pessoas dizendo que "elas não tem motivos para serem felizes", que "elas tem tudo que poderiam querer", que "devem valorizar o que têm", que "enquanto tem tanta gente morrendo de fome, aquela tal pessoa está fazendo uma tempestade por causa de um motivo fútil". acho justo considerarmos, enquanto pertencendo à uma coletividade, que aquele que são tristes por que vêem seus filhos passarem fome, por exemplo, precisam mais de nossa atenção e ajuda, mas não concordo que a tristeza daquele que "chora de barriga cheia" é menor ou que não deve ser considerada... quem vê de fora nunca vai ter a real dimensão daquilo para aquele indivíduo e, apesar de despertar menos nossa compaixão, deve ser respeitada.
tudo bem (e aqui vai minha opinião), conquistas, objetivos alcançados, considerar-se melhor hoje do que ontem (em diferentes âmbitos da vida), pode sim trazer uma sensação de felicidade. mas o que eu acho que traz essa sensação é justamente a comparação. é você passar o dia inteiro com um sapato apertado e no fim do dia poder tirá-lo. tenho certeza absoluta que um aumento de 600 reais nos meu ganhos me fará mais feliz (ainda que por um período de tempo limitado) do que se o eike batista começar a ganhar mais 100 mil reais todo mês. a satisfação que tais bens trazem tendem a ser descrecentes, além de dependerem da leitura que fazemos da nossa situação atual e a expectativa que temos do futuro próximo. é aquela história de ficar feliz quando se acha um dinheiro perdido num bolso da calça. aquilo sempre foi nosso, mas a ausência de expectativa acentua o contentamento.
talvez eu tenha me desviado um pouco do foco da questão. quero mesmo é dizer que não acredito em Felicidade (um estado mais ou menos permanente e definitivo), mas sim em momentos de felicidades. E mais: esses momentos de felicidade (ou de harmonia interior, no sentido de que não estamos nos debatendo, buscando algo que não está ao nosso alcance) dependem basicamente da nossa capacidade em valorizar o cotidiano, estar atento aos bons momentos em que a vida vai te proporcionar e saber que estar infeliz é um lado da moeda do qual não se pode fugir e importante, na medida em que nos torna mais fortes e conscientes. o ser humano é um animal constantemente insatisfeito, buscando sempre algo que sempre esteve lá, que não sabe o que quer e muitas vezes faz escolhas erradas. não existe alguém que esteja imune à infelicidade, nem no muro mais alto da mansão mais cara ou no carro mais luxuoso e confortável...
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