quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

dialógico (revisitando farsas)

"mas que bobagem pensar nessas coisas. será que não entendes, finalmente, que o passado é pura doença?"

"sim, eu sei. o velho maranhense, em um de seus inúmeros versos me disse exatamente isso e eu fui capaz de acreditar... realmente tenho andado muito aflito, sinto-me profundissimamente hipocondríaco. revivo a queda e o horror a cada instante, a morte da minha última quimera. a iminência do desastre me arrepia. sinto que este é o último suspiro e eu não quero morrer, não quero apodrecer no poema!"

"ora, ora, sossegue, meu caro, esqueça... o momento agora é de calma extrema. deixar-se estar descrente e sereno... cinicamente sereno. estar atento e manter-se frio. não creia, não ore, não peça nada, desconfie do que se supõe ver."

"o seu discurso requentado não convence... estou cansado de tentar entender o que deveria ser, esse sempre ensaiado ritual ridículo de auto-multilação simbólica! a verborragia na qual me desmancho e com a qual me violento... não tenho forças e nem desejo ter, só quero que os dias passem e que eu passe . acho que afinal tornei-me melhor homem-medíocre do que imaginava."

"sinceramente, não me importo no que você se tornou ou acha que se tornou... não tenho paciência pra essa sua lamentação ensaiada. o mau cheiro que exala a sua auto-piedade não é movimento crítico! meu irmão, aposte todas as suas fichas na vida e esteja pronto pra morrer!. você não sairá vivo daqui. aceite lirismo do esmagamento da alma e não hesite em revidar a ferocidade com que o mundo te golpeia! encare como uma dádiva as centenas de milhares de seres humanos esperando pela oportunidade de te apedrejar, escarrar-lhe a boca! essa é a beleza, é o universo bruto pulsante! fascinante e assustador! não há escapatória, estamos sempre por um triz e o empurrão derradeiro vem exatamente de onde menos se espera. a armadilha é o refúgio e o refúgio é a armadilha. saiba guardar o rancor do teu irmão e deixe que ele molde o teu espírito, mas não perca nunca o ritmo da música e o humor. o beijo, meu amigo, é a véspera do escarro e da traição! "

"não me venha com as ideias roubadas desse paraibano mórbido! dispenso seus conselhos e sua beliche de egoísmos, sou mera ficção e tenho frio. refuto o mundo, não tenho forças...enquanto tarda o abismo e o silêncio quero estar sozinho."

"hahaha, fala de mim, mas parafraseia constrangedoramente um louco inventado por outro louco... realmente, você se deixou levar pela covardia e a pobreza de espírito. perdeu-se até o furor literário. não há nada o que fazer a não ser tocar logo de uma vez o maldito tango argentino e pedir perdão pelo que se fez. beijo-te a face como judas o fez. odeie-me fraternalmente, pelo menos isso.  chega, me canso dos seus comentários, quero te bater ou te abraçar..."

"... o que você achar melhor."



3 comentários:

Mayra disse...

Muito interessante a forma como vc faz suas referências...Ferreira Gular, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa...Fernando em Pessoa?

fernando disse...

faltou o augusto dos anjos

Mayra disse...

Ah é...o paraibano mórbido, esqueci!